06-12-2021Crónica universitária por Beatriz Romão, in Jornal PúblicoBeatriz Romão Estudante no 3.º ano de Relações Internacionais na Universidade de Évora.
Chegou aquela altura do semestre em que todos queremos congelar a matrícula, ou até desistir de tudo. Todos os nossos queridos professores se lembraram de marcar tudo para a mesma altura porque, sim, não há mais semanas no resto de semestre. Os alunos que arranjem maneira de fazer dois testes no mesmo dia. Depois, o professor que demore quase dois meses a lançar as notas.Somos os reis da procrastinação, mas também gostávamos de ter mais atenção da parte dos nossos superiores. Andamos todos com os neurónios nas últimas, a pesquisar no Google como passar com 20 valores sem estudar e sem ir às aulas, mas às vezes temos a sorte de ver aparecer uma luz ao fundo do túnel e lá um querido colega nos dá resumos. Levamos dias a estudar, dias que no final de contas não nos servem de nada, basta termos um professor que não gosta assim tanto de nós e que nos chumba só porque sim, porque a realidade é que este tipo de situação ainda acontece.Sejamos honestos, o nosso sistema de ensino superior está cheio de falhas e cheio de pessoas que não se interessam pelo bem-estar dos alunos, nem se nós aprendemos a matéria ou não. Sim, porque a maior parte das aulas não vale as propinas que pagamos, vamos às aulas para estarmos a ouvir histórias pessoais dos professores ou, como já me aconteceu, vamos às aulas para ouvir a música preferida dos meus colega. Pago 697 euros de propinas anualmente para, na maioria das vezes, ter de aprender a matéria toda por mim própria. Tenho tido a sorte de conseguir bons resultados, mas para aprender coisas sozinha não tinha ido para a universidade. A realidade de quem está na universidade é chegar a esta altura de semestre e chorar dia sim, dia sim, fingir que não há nada para estudar nem trabalhos por entregar porque é simplesmente mais fácil e menos doloroso do que estar a olhar para slides de matéria (quando os há) e nem entendermos o que está lá. E atenção que a culpa de isto acontecer não é só nossa porque, ao contrário do que se acha, as taxas de reprovação nas unidades curriculares têm culpa de ambos os lados, não são os alunos que são preguiçosos e não se esforçam. Tem de haver esforço dos dois lados. Devo soar como uma aluna que só sabe reclamar, mas tenho a certeza que não sou a única universitária que se sente e vê as coisas assim. Todos já chorámos porque a universidade é dura e difícil e às vezes exige demasiado da nossa saúde mental. A verdade é que nem todos conseguimos limpar as lágrimas, respirar fundo e continuar, e quando simplesmente não conseguimos mais não há apoio nem compaixão de ninguém, somos só considerados uns falhados, quando o que realmente falha é o sistema de ensino.
____________________________________________ Comentários sobre o artigo»»» Pago 697 euros de propinas anualmente para, na maioria das vezes, ter de aprender a matéria toda por mim própria. Tenho tido a sorte de conseguir bons resultados, mas para aprender coisas sozinha não tinha ido para a universidade" ou outra leitora reflete »» "Pois eu como professora universitária sinto exatamente o contrario para que serve tentar ensinar alguma coisa quando à frente de mim tenho um serie de malas em cima da mesa a esconder telemóveis.... e gente que nem levanta os olhos para ver os diapositivos com que tento animar as minhas aulas?
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