11-03-2022O estado judeu - por VIRIATO SOROMENHO MARQUESSe a Europa tivesse respeitado as suas comunidades judaicas, Israel nunca teria saído das páginas da obra de Theodor Herzl, O Estado Judeu (1896). Se a intelectualidade judaica, a mesma que encheu a Europa de prémios Nobel nas quatro primeiras décadas do século XX, tivesse sido acarinhada, a atual crise europeia não teria sequer começado, ou já teria sido resolvida, pois uma parte importante da sua origem e persistência reside no paroquialismo das atuais elites (académicas e políticas) de uma Europa onde, sob o verniz civilizacional, ainda se ouve o tribal bater de escudos. Herzl, que é diabolizado por uma direita e uma esquerda que nunca o leram, queria fazer de Israel (que tanto poderia ter sido fundado na Argentina como na Palestina!) um Estado laico (ele detestava a "teocracia"), neutral, sem serviço militar obrigatório, onde vigoraria um "federalismo linguístico", prestando homenagem às pátrias de onde os judeus haviam sido expulsos (do mesmo modo que Edgar Morin diz ter encontrado, na Haifa de 1943, judeus alemães que choraram a derrota de Estalinegrado...). Na verdade, a maioria esmagadora dos judeus, antes do Holocausto, considerava pátria e Europa como sinónimos. O genocídio nazi, que se alimentou dos vetustos ódios antissemitas do húmus europeu, transformou a utopia de Herzl numa solução tão urgente como um barco salva-vidas num naufrágio. No atual labirinto israelo--palestiniano só consigo ver vítimas encurraladas. Judeus e Árabes, misturando o seu sangue, enquanto a política permanecer refém do ódio. Aqueles que na Europa, sem pestanejar, reduzem tudo num dedo acusador contra os judeus fariam melhor se olhassem ao espelho. Todo este sofrimento começou devido à fobia homicida perante a diferença. Esse retorcido e milenar demónio da nossa alma europeia.
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