05-10-2021Histórias da História de Portugal, Mário Faria - 05 de OUTUBRO de 1143Mário Faria 05 de OUTUBRO de 1143 (Via Celestino Gomes) A fundação ou a independência do Reino de Portugal não foi um acto circunstancial isolado. Foi um processo constituído por vários actores e acontecimentos, e não deveria ser atribuído a nenhum em específico. O uso do título e a designação de Rei (Reino) de Portugal é muito anterior a D.Afonso Henriques. O primeiro monarca a utilizá-lo foi Garcia II, Rei de Portugal e da Galiza, ainda que por um curtíssimo período, no ano de 1071: H. R. DOMINUS GARCIA REX PORTUGALLIAE ET GALLECIAE O segundo monarca a reclamar o título foi a mãe de Afonso Henriques, Dona Teresa, cujo título de Rainha de Portugal foi reconhecido pelo Papa através da Bula Fratrum Nostrum emitida em 18 de junho de 1116, e pela sua irmã, a rainha Urraca de Galiza, Leão e Castela . D.Teresa manteve o título de Rainha de Portugal, por 16 anos (1112-1128), um período de tempo não negligenciável. Afonso Henriques, o único dos três que representou uma dinastia não autóctone (Casa de Borgonha) mesmo sendo filho da deposta D.Teresa (Casa Gimenez), foi o terceiro e não o primeiro monarca a usar o título real. Porém durante o seu longo condado e reinado (1111/1143/1185), muitos acontecimentos se perfilaram num extenso período e todos eles contribuíram decisivamente com o seu momentum para o processo de independência: os Torneios de Arcos de Valdevez, a Batalha de Ourique, o Tratado de Zamora, a Bula Papal. Outros três fatores determinantes para a existência de Portugal são frequentemente negligenciados: .A própria fundação do Condado Portucalense (861) e de Guimarães pelos senhores da Galiza liderados por Vimara Peres. Sem Condado, não haveria sequer independência. Simples assim. .O advento dos Templários ao território nacional, ainda no tempo de Dona Teresa (1126); a espinha dorsal de Portugal é templária, assim como eram templários os principais cavaleiros de Afonso Henriques. Autores existem que vão ao ponto de dizer que Afonso Henriques era "apenas" o braço externo da Ordem, o que ajudaria a explicar a quase ausência de informação sobre a sua formação infanto juvenil e também algumas atitudes aparentemente contraditórias. Por exemplo, Afonso Henriques deu a palavra (através de Egas Moniz) ao seu primo e soberano Afonso VII em como não o atacaria e falhou. Por outro lado, firmou uma aliança com Ibn Qasi, o líder sufi (ordem muçulmana equivalente aos templários) que foi sempre respeitada enquanto este foi vivo. Por fim, e talvez o fato mais ostracizado ou até mesmo escondido, foi a existência em simultâneo ao Condado Portucalense (868/1143), do Condado de Coimbra (878/1093). O Condado de Coimbra, serviu de zona tampão entre o Condado Portucalense e os Reinos Muçulmanos, o que deu tempo e paz suficiente ao primeiro para se estruturar, devido a inexistência de lutas nas fronteiras a sul. Último estertor da cultura Moçárabe cristã, o seu líder, o Conde Sesnando Davides (?/1091), foi educado em Córdoba onde privou com El Cid, e chegou a trabalhar na corte de Sevilha como Vizir. Detinha pois, excelentes relações quer com uns, cristãos como ele (mas do Rito Latino e Bracarense), quer com os outros, os muçulmanos. E o fato é que quando o Conimbricense foi absorvido pelo Condado Portucalense, abriu-se uma nova frente de combate a sul, mas já com os Templários a chegarem ao território nacional e a capital deslocada pouco depois para...Coimbra. Quais teriam sido as consequências para os Portucalenses, a inexistência do Condado de Coimbra ou de Sesnando Davides? Não sabemos. Fica também por esclarecer se 5 de outubro 1143 foi fundação ou independência, porque se foi independência então já existia como entidade. Em conclusão, obviamente se torna necessário definir uma data coerente para se comemorar Portugal, e para isso terá de se chegar a um acordo, (e o 5 de Outubro de 1143 serve perfeitamente esse fim), mas querer a força quase trauliteira destacar um deles, parece mais discutível. Mais valia ver aquilo que realmente foi: um processo dinâmico, longo no tempo, com diversas frentes, níveis e intervenientes, ratificado posteriormente em 1383/85, 1640 e durante as Invasões Francesas. VIVA PORTUGAL
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