Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


31-01-2022

As fronteiras ibero-americanas na obra de Sérgio Buarque de Holand por José Lindomar Albuquerque


José Lindomar Albuquerque* Análise Social, vol. XLV (195), 2010, 329-351

 

 As fronteiras ibero-americanas na obra de Sérgio Buarque de Holanda *

Este texto aborda quatro sentidos da noção de fronteira construídos a partir da obra de Sérgio Buarque de Holanda: 

a concepção de “zona híbrida” ou “território-ponte” na compreensão da singularidade ibérica; 

as fronteiras enquanto marcos de diferenças entre as colonizações portuguesa e castelhana; 

as frentes de expansão ou fronteiras em movimento no processo de colonização; 

a fronteira como transição, travessia da singularidade ibérica para um mundo moderno e urbanizado. 

 

Palavras-chave: fronteira; frentes de expansão; colonização; modernização. Ibero-American boundaries in the work of Sergio Buarque de Holanda This article discuss four senses of the frontier/border, extending the work of Sergio Buarque de Holanda: the “hybrid zone” conception or “territory-bridge” in the understanding of Iberian singularity; frontier/border as division marker between Portuguese and Hispanic colonization; the fronts of expansion or frontiers in movement in the process of colonization; and last, the boundary as a transition, going from the Iberian singularity to a modern and urban world. Keywords: boundary; fronts of expansion; colonization; modernization. 

 

INTRODUÇÃO A noção de fronteira adquire variados significados no mundo contemporâneo. Fronteiras como delimitações de territórios ou como metáforas da vida social, fronteiras porosas e rígidas, barreiras ou formas de travessias, diferenças e sincretismos, limites e caminhos. A palavra passa a ser bastante utilizada nos textos e discursos académicos sobre os limites entre as áreas de conhecimento e as formas híbridas de percepção dos fenómenos sociais na actualidade. * Universidade Federal de São Paulo, Estrada Caminho Velho, 333, Bairro dos Pimentas 07272-000 — São Paulo, SP — Brasil. e-mail: joselindomar74@gmail.com ** A pesquisa para a realização deste artigo foi feita na Biblioteca Sérgio Buarque de Holanda e no sistema de arquivos (SIARQ) da Universidade de Campinas (UNICAMP) em 2008. A primeira versão do trabalho foi apresentada no GT Pensamento Social, no Brasil, no 32.° Encontro Anual da ANPOCS, 2008. Agradeço os comentários críticos de Robert Wegner e as questões colocadas por Lilia Schwartz.

 

A fronteira é, por definição, um termo polissémico e que pode ser apreendido mediante diferentes metáforas. Recordo um pequeno ensaio de Simmel (2001) intitulado “ponte e porta”, para pensar algumas dimensões das fronteiras. As metáforas da ponte e da porta são indicativas das fronteiras que delimitam e atravessam a experiência humana e as vivências em determinados espaços sociais. A ponte como uma criação humana que consegue unir o que a natureza havia separado. A construção do caminho e a percepção dos trajectos e dos pontos de ligação. A porta como algo que estabelece um limite, a edificação de barreiras entre o interno e o externo, uma separação num espaço que antes era naturalmente unificado. Contudo, a porta simboliza também a passagem, o cruzamento entre o fora e o dentro, entre a objectividade e a subjectividade da vida dos indivíduos em sociedade. A ponte e a porta são símbolos, metáforas da nossa experiência colectiva e individual. Essas metáforas podem ser associadas ao próprio título de um dos livros de Sérgio Buarque de Holanda, Caminhos e Fronteiras. Neste caso, as travessias e barreiras adquirem significados históricos específicos em relação à experiência singular da expansão paulista e brasileira, em comparação com outros processos de colonização no continente americano. Neste artigo distancio-me de algumas interpretações sobre o autor centradas na “identidade nacional”, visto que estas, às vezes, acabam por cristalizar ideias sobre a especificidade cultural brasileira1 . Os conceitos de homem cordial, de patriarcado e de personalismo tornaram-se expressões quotidianas que justificam o modo brasileiro de ser, em contraste com outros comportamentos políticos nacionais. Acredito que o deslocamento de algumas interpretações com características “essencialistas” para uma abordagem centrada na dinâmica das fronteiras permite compreender o movimento permanente destas configurações históricas. Realizei uma leitura de Raízes do Brasil (edições de 1936, 1948 e 1956) na confluência de outros trabalhos do autor produzidos nas décadas de 40 e 50, especialmente Caminhos e Fronteiras (1994 [1957]) e Visão do Paraíso (2000 [1959]). As separações que geralmente ocorrem entre a obra ensaísta do autor (Raízes do Brasil) e os seus trabalhos historiográficos (Monções, Caminhos e Fronteiras, O Extremo Oeste, Visão do Paraíso, Do Império à República, na colecção “História da Civilização Brasileira” estão na origem de uma divisão do trabalho interpretativo verificada entre sociólogos, cientistas políticos e historiadores.

Os sociólogos e cientistas políticos geralmente estudam Raízes do Brasil comparando este texto com obras consagradas de outros autores brasileiros e, muitas vezes, os historiadores dedicam-se aos

 livros do autor que foram construídos a partir de um trabalho circunscrito e mais minucioso com as fontes. Não se trata de tentar preencher lacunas de Raízes do Brasil com argumentos desenvolvidos nestas outras obras, pois sabemos que o livro é datado, como muitas vezes afirmou o próprio autor. O meu intuito é perceber o próprio percurso do pensamento do autor, as suas reformulações, as descontinuidades e as continuidades em relação a este ensaio inaugural. Procuro construir neste artigo a noção de fronteiras ibero-americanas a partir de quatro sentidos de fronteira: (1) a Península Ibérica como “zona de transição” e “território-ponte” entre a Europa, a África e a América; (2) as fronteiras enquanto marcos de diferenças entre a colonização portuguesa e castelhana na América; (3) as frentes de expansão e os processos de americanização; (4) a ideia de transição das raízes ibéricas para um mundo moderno e urbanizado.

 

 

ler o texto na íntegra aqui»»  

http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1276642584P7pWR3yt7Kc33BD7.pdf

 

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José Lindomar Albuquerque* Análise Social, vol. XLV (195), 2010, 329-351

Universidade Federal de São Paulo, Estrada Caminho Velho, 333, Bairro dos Pimentas 07272-000 — São Paulo, SP — Brasil. e-mail: joselindomar74@gmail.com ** 

A pesquisa para a realização deste artigo foi feita na Biblioteca Sérgio Buarque de Holanda e no sistema de arquivos (SIARQ) da Universidade de Campinas (UNICAMP) em 2008. A primeira versão do trabalho foi apresentada no GT Pensamento Social, no Brasil, no 32.° Encontro Anual da ANPOCS, 2008. 

 

O autor, José Lindomar Albuquerque escreveu»» 

Agradeço os comentários críticos de Robert Wegner e as questões colocadas por Lilia Schwartz.

 pág 329

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1 Essas características mais “essencialistas” estavam presentes no artigo “Corpo e alma do Brasil”, publicado na revista Espelho em 1935 e que antecede a formulação de Raízes do Brasil. Boa parte deste artigo foi utilizada na formulação do capítulo sobre o “Homem cordial” (Holanda, 2008 [1935])   , chamada na pág 330

 

2 Essa percepção da Península Ibérica como zona fronteiriça entre dois continentes já havia sido discutida por Gilberto Freyre em Casa Grande & Senzala (1933), antes da 1.ª edição de Raízes do Brasil (1936), e foi retomada no texto Interpretação do Brasil (1947), um pouco antes da 2.ª edição de Raízes do Brasil (1948) , chamada na pág 332

 

Leiam o artigo na íntegra aqui»»»

 

http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1276642584P7pWR3yt7Kc33BD7.pdf