09-08-2021Conversa à Sombra da Mulemba-Angola Dr. Luíz Wittnich Carrisso,botânico(1886-1937)Tomás Gavino Coelho in Conversa à Sombra da Mulemba Angola: os seus momentos, as suas histórias e as histórias de homens que lhe acrescentaram valor Dr. Luíz Wittnich Carrisso,botânico(1886-1937) : Esta foto mostra-nos a recepção efectuada em Moçâmedes, à chegada ali, do Dr. Luíz Wittnich Carrisso (1886-1937), o ilustre botânico, que foi professor catedrático da Universidade de Coimbra, e que no Deserto do Namibe, ao qual fez várias incursões, estudou a flora tropical, tendo contribuído em muito para a larga coleção de plantas africanas do Herbário de Coimbra, quer pelas expedições que organizou a Angola durante as quais foi colhido grande quantidade de material, quer pelo legado de entusiasmo pela investigação das plantas dessas paragens. Foi autor de "Flores de África", "Agrostologia de Angola" e "O Problema Colonial perante a Nação". Na terceira das suas expedições científicas, o Dr Carrisso faleceu repentinamente de síncope cardíaca aos 51 anos, a 14 de Junho de 1937 , em pleno deserto do Namibe. A expedição subia o morro e colhia plantas. Carrisso sentiu-se mal e regressou aos veículos, pelo seu pé, sem ajuda, já se sentindo melhor. À beira da tenda, um cajado numa mão, um molhe de plantas na outra, enquanto lhe preparavam a cama de campanha acabou por concordar que fosse chamado um médico a Moçâmedes Deitou-se, ajeitou-se na cama, faleceu! Passarei a transcrever um texto interessante relacionado com a morte do Dr. Carriço, encontrado no blogue de Namibiano Ferreira: "KANE-WIA, o mítico morro do Namibe «No interior da província do Namibe, em Angola existe, próximo do Virei, um morro conhecido pelo nome de Kane-Wia, termo que, em idioma Tchierero (língua dos Mucubais) significa “quem o subir não volta” ou "quem sobe não volta". Contava-me o meu avô (João Craveiro de Tombwa) que nunca ninguém ousou subir este morro porque as histórias contadas pelos Mucubais referiam que quem subisse este acidente geográfico não mais regressaria. Portanto, o Kane-Wia vivia sossegado e inexplorado, uma espécie de montanha sagrada onde Deus dorme e, por esse motivo, interdita ao comum dos mortais. Em 1937, um eminente biólogo da Universidade de Coimbra, Dr. Luís Wittnich Carrisso, veio até ao Namibe para estudar a flora local e como homem racional e de ciência que era resolveu contrariar a crença subindo o Kane-Wia. Seja por mera coincidência ou por outra estranha razão o grande cientista português, embora socorrido pelo seu companheiro, veio a sucumbir em pleno deserto, a cerca de 80 km da cidade de Moçâmedes (actual Namibe). Nesse mesmo local foi, posteriormente, erguida uma lápide com a seguinte inscrição: “Dr. L. W. Carrisso XIV-VI-MCMXXXVII”. » Algum tempo atrás, na estrada-picada, a cerca de meio caminho entre o Pico do Azevedo e o Virei, quem fosse com atenção encontrava junto à berma da estrada uma abandonada lage alusiva ao ali falecido botânico Dr Luiz Wittnich Carrisso, o professor catedrático que sucumbiu no seu posto, naquele sítio ermo, onde a curiosa Welwitschia não medra e as Suricatas vegetam a par de uma ou outra Tua pernalta, e os arbustos, certamente por ele estudados, mais densos à volta daquela modesta laje, parecendo querer protegê-lo do sol ardente que ali se faz sentir. Qualquer pessoa de formação cristã que ali se apeie, sente a tristeza daquele quadro abandonado e, ao ler o epitáfio naquela laje gravado, nostalgicamente não deixará de ali fazer uma oração em homenagem a tão ilustre botânico. Maria N Jardim in Conversa à Sombra da Mulemba, no FB |