30-07-2021A influência “mourisca”ou berbere no património genético portuguêsA influência “mourisca”ou berbere no património genético português e segundo as autoras do livro o Património Genético português
É hábito a utilização do termo “mouro” para quem tem as raízes no sul do país. No caso português, acho piada, porque na verdade as nossas raízes estão bem em África. Gosto de ter a minha "Eva" e "Adão" com muita melanina na pele, reconhece o Nuno Correia. Mas no livro, o autor, ficou preso na parte relacionada com a influência “mourisca” no património genético português. E ficou surpreso por saber que quem o chama “mouro” poderá ser mais “mouro” que o seu ADN.
Vejamos.... “Existem linhagens mitocondriais presentes na população portuguesa e ausentes no resto da Europa designadas por U6. Este haplogrupo foi nomeado Berbere, uma vez que a sua distribuição se restringe ao Norte de África, onde a sua frequência ronda os 10-20%, sendo esporádica no Médio e no Próximo Oriente e na Ibéria. Na atualidade ainda existem algumas populações berberes nos países norte-africanos, sempre em comunidades reduzidas e mais ou menos isoladas, dedicando-se a actividades tradicionais como a agricultura, a pastorícia e o artesanato. Alguns destes grupos mantêm uma linguagem berbere, enquanto outros já adoptaram o árabe. Geneticamente, e mesmo em termos culturais (arqueologicamente), o Norte de África é muito mais aparentado com a Eurásia do que com a África subsariana. Tudo indica que a colonização do Norte de África foi efectuada por migrações «Back to África» do Homem Moderno, a partir do Próximo Oriente, através do Levante, numa época comum à migração para a Europa, há cerca de 40 000 anos. Torna-se assim muito mais difícil destrinçar geneticamente as influências norte-africanas na constituição genética portuguesa, pela partilha da maior parte do património genético fundador. A observação do haplogrupo U6 quer no Médio e no Próximo Oriente, quer na Ibéria, indica a troca de linhagens com o Norte de África. Em Portugal, o U6 atinge as seguintes frequências: 5% no Norte, 3% no Centro e 2% no Sul. Quando se compara a diversidade das linhagens U6 observadas em Portugal, elas são bastante divergentes entre si, parecendo indicar uma entrada recente. O gradiente de frequências é oposto ao que seria de esperar, dada a mais forte e longa influência islâmica no Sul do país. Como é que se poderia explicar essa maior frequência de linhagens norte-africanas no Norte de Portugal? As hipóteses são muitas, as certezas inexistentes. Muitas evidências históricas podem ser apontadas, quer favoráveis, quer desfavoráveis. Em primeiro lugar, poder-se-ia apontar para um enviesamento no tipo de cruzamento misto. Durante o domínio islâmico eram feitos numerosos raides, quer de cristãos a islâmicos, quer de islâmicos a cristãos, com conversão dos prisioneiros a escravos. Seria então mais predominante o cruzamento de homem cristão com mulher islâmica no Norte, que sempre teve pouquíssima influência islâmica, e de homem islâmico com mulher cristã no Sul. Outra curiosidade é a existência de mourarias, guetos de islâmicos onde a endogamia religiosa seria fortíssima, apenas no Sul; no Norte estão até referidas algumas doações de terras a casais islâmicos para a formação de uma comunidade numa região despovoada."
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