28-07-2021

HISTÓRIAS DE UBERABA – GUIDO BILHARINHO CONEXÕES EUROPEIAS NO SÉCULO XIX

Gilberto RezendeGrupo da difusão da cultura de Uberaba

No final da segunda década do século XIX, a região onde hoje está situado o município de Uberaba, em decorrência de sua estratégica e privilegiada localização geográfica no Brasil Central, entrada do sertão e ponto natural de confluência e passagem, começou ser visitada por diversos viajantes europeus, que, nessa época, cortaram as vias de comunicação do mundo em busca do novo, do desconhecido, do estar se fazendo e sendo feito. Entre eles, o barão de Eschwege em 1816 (alemão, autor de Brasil, Novo Mundo), Luís d’Alincourt em 1818 e 1823 (português de ascendência francesa, de Memória Sobre a Viagem do Porto de Santos à Cidade de Cuiabá) e Auguste de Saint Hilaire em 1819 (francês, de Viagem à Província de Goiás). Com o transcorrer do tempo, estabeleceram-se definitivamente na cidade, vindos da Europa, os frades dominicanos (1881), as irmãs dominicanas (1885, que nela instalaram sua casa matriz no Brasil) e os irmãos maristas (1903, que com eles trouxeram, além do ensino, a primeira bola de futebol, introduzindo esse esporte na cidade e em todo o Brasil Central). Contudo, Uberaba já recebera europeus para também nela se radicar com ânimo definitivo anteriormente à vinda dessas 17 congregações religiosas e antes mesmo da chegada das correntes migratórias europeias que aportaram no país em grandes levas desde o final do século XIX e logo após a libertação dos escravos, imigrantes que também se dirigiram à cidade e nela se fixaram, constituídos, principalmente, de italianos, espanhóis e portugueses, mas, também, de alemães, franceses e até britânicos, dinamarqueses e russos, além de, posteriormente, já no século XX, japoneses e sírio-libaneses. Entre outros, quatro desses europeus notabilizaram-se e eternizaram-se na memória local, em consequência de sua atuação e relevantes serviços prestados à comunidade, sendo que os três primeiros aqui chegaram nas décadas de 1840 e 1850 e, o último, já para o fim do século: ANTÔNIO BORGES SAMPAIO em 1847, português - historiador, professor, comerciante, político, vereador e agente executivo (prefeito) da cidade, correspondente regional do Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, durante quarenta e sete anos e, ainda, autor de diversos ensaios sobre Uberaba e a região. HENRIQUE RAIMUNDO DES GENETTES em 1853, francês - escritor, educador, vereador, agente executivo, fundador da imprensa no Triângulo, autor da denominação Triângulo Mineiro dada à região e líder da primeira campanha emancipacionista travada em Uberaba.

FREI EUGÊNIO MARIA DE GÊNOVA em 1856, italiano - missionário capuchinho, pregador emérito e construtor, entre outras obras, do cemitério local e do hospital da Misericórdia e, segundo Borges Sampaio, figura excepcional em caráter e santidade, que teria até operado milagres, conforme relata Hildebrando Pontes. FREDERICO MAURÍCIO DRAENERT em 1896, alemão - professor, um dos precursores dos estudos climatológicos no país e autor do melhor ensaio científico sobre o clima subtropical e de mais de mil artigos sobre assuntos científicos, além de ser descobridor da existência da bactéria no reino vegetal e diretor do Instituto Zootécnico de Uberaba. Intelectuais e homens de ação, tanto num campo (magistério, imprensa, cátedra, púlpito e obras literárias e científicas), quanto no exercício de cargos diretivos em entidades privadas e órgãos públicos (administração municipal, BORGES SAMPAIO DES GENETTES 19 educandários, jornais, etc.), tiveram performance destacada e marcada pela competência, dedicação, absoluta lisura, notável desprendimento e extremado espírito societário e público. A relevância de suas atividades foi tanta e tão intensa, que contribuiu para configuração da Uberaba de seu tempo e moldagem de seu futuro. * Além de Sampaio, des Genettes, frei Eugênio e Draenert, diversos outros europeus vieram residir em Uberaba ou aqui permaneceram durante certo tempo, contribuindo também com sua presença e atuação para o desenvolvimento da cidade. Entre outros, encontram-se os médicos suecos ANDRÉ FREDERICO REGNELL e AUGUSTO WESTIN, o primeiro também botânico renomado, que segundo informou José Soares Bilharinho (História da Medicina em Uberaba), descobriu, estudou e catalogou mais de setenta espécies de plantas da FREI EUGÊNIO DRAENERT 20 região, a maioria medicinais. Foram os primeiros médicos da cidade, aqui chegando em 1847. Destacou-se, ainda, em Uberaba, o sacerdote capuchinho francês, FREI GERMANO DE ANNECY, considerado um dos maiores matemáticos do mundo, que veio para Uberaba em 1878, lecionando matemática no Liceu Uberabense até 1879, fundando, posteriormente, estabelecimento de ensino e, antes de se transferir para Franca/SP, em março de 1885, deixou os planos para a construção da fábrica de tecidos do Caçu. Outro de seus feitos consistiu no prosseguimento das observações metereológicas iniciadas por des Genettes e frei Eugênio, posteriormente continuadas sucessivamente por Borges Sampaio, Draenert e irmão Vilberto e outros que se lhes seguiram, formando em Uberaba forte tradição de estudos e pesquisas nessa área. (do livro eletrônico Patrimônio Cultural d e U b e r a b a I I I , j a n e i r o 2 0 2 1 ) Na foto, Frei Eugênio.

GUIDO BILHARINHO - Escritor - Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.