Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


21-01-2022

QUANDO O AMAZONAS DESAGUA NO TEJO - Carlos Fino


Título meu para texto de opinião de Arthur Virmond de Lacerda, há um ano, no FB, e que transcrevo a titulo de testemunho e mesmo sem estar de acordo com tudo o que afirma.

Arthur Virmond de Lacerda Inline image

19 de janeiro de 2021 ·

COLONIZAÇÃO BRASILEIRA DE PORTUGAL

A presença de brasileiros em Portugal e a das telenovelas brasileiras e a de redatores brasileiros na programação televisiva portuguesa e nas gazetas portuguesas resultou em que, nos últimos 2 anos, fala-se à brasileira em Portugal: o lixo de "a gente", "acho", "não é a sua praia", "centrão", "aposto em fulano", "tipo", "dica". Parece que agora, lá é moda ser abrasileirado.

Ouço, aos domingos, comentador político, Marques Mendes, que perdeu em parte o tom, a forma, a elevação portuguesa e incorporou os coloquialismos brasileiros. Ricardo Araújo Pereira, de programa de sátira e de tertúlia em que comenta atualidades, repetiu 4 ou 5 vezes, em 3 minutos, "a gente", uso brasileiramente vicioso deste lixo.

Manuel Monteiro, autor de livro de combate a vícios de linguagem, registra "tipo" como cacoete português, mas é de fabricação brasileira. Também o chavão de saudação "Tudo bem ?" tornou-se usual, há mais de três lustros. Nas mais remotas aldeias, nos mais absconsos lugarejos do Portugal mais interiorano, há brasileiros e quando não os há, está a televisão, com a redação semi-brasileira de telenovelas e de telejornais.

O pior é que os portugueses valem-se das locuções e expressões mais triviais, coloquiais, rascas, do falar brasileiro. Imitam o brasileiro de médio para baixo, quanto ao idioma, a expressão mais popular, da gente mais deslida e avessa a dicionários. É como se houvesse magote de brasileiros que nunca leram um livro na vida, reunidos em botequim, a parolar, com suas expressões pobres de idioma e de cultura: é esse gênero de português que lá agora circula. Não é o português de gente instruída, não é o português do brasileiro culto e que pratica seu idioma elevadamente. Ao revés: é a fala do brasileiro mais plebéia.

Enquanto isto, em publicações que fiz, em grupos de história do Brasil, sobre o passado brasileiro, em meio a muito interesse em desmistificar a presença de degredados, dos holandeses, ouro do Brasil, mestiçamento, houve comentários de ódio anti-lusitano, como era de esperar. Não todos, não muitos, porém intensos. Muitos brasileiros repudiam Portugal, a herança portuguesa, a gramática, a mesóclise (e não somente). É totalmente desigual a relação bilateral, que não é bilateral, é de colonização idiomática de Portugal pelo ruim, pelo tosco dos brasileiros.

Alegam-se bobices como: "fulano tem família no Brasil". Mas fulano é português, vive em Portugal, raramente vai ao Brasil. Outra: é para aproximar Brasil e Portugal. Isto nada aproxima, não é "aproximação", é penetração idiomática de um país em outro, que não leva a mais conhecimento de Portugal no Brasil, a mais simpatia de brasileiros pela história, cultura e idioma portugueses. Outra: o idioma é o mesmo. É o mesmo, com diferenças de qualidade na forma como é praticado cá e lá; o que os portugueses importam são a expressões típicas dos brasileiros (como tal são estrangeirismos quanto ao país, não quanto ao idioma), quero dizer, o que há de mais efêmero, raso, superficial, nos brasileiros em sua fala mais informal, mais inculta. Tomaram-se os portugueses do gosto pelos brasileirismos: venha o que vier, seja o que for, com indistinção entre bom e mau, sendo brasileirismo, parece ser legal, bacana, da hora (sabe lá se ainda dizem giro, fixe, porreiro). Por outro lado, no Brasil circula esta vastidão de expressões portuguesas: "mais do mesmo", "novo ciclo" na vida política. Já sequer "Inês é morta" diz-se; é expressão que aprendi em minha adolescência.

Muitos pensam e dizem assim: "Eu acho que a gente está querendo coisa tipo mais fáciu tipo prá gente estar entendendo a língua da gente que tipo não tem porque se prender tipo a coisas que tipo já passaram no país da gente que foi oprimido pelo colonizador eu acho que se a gente é brasileiro a gente tem que ter idioma próprio então tipo os português fala a língua deles e a gente fala a da gente, morou, cara ? Cada um na sua praia bora falá o brasileiro que falá feito portugueis não está com nada tipo a gente foi esplorado [sic] por quinhentos anos e oprimido então a gente tem que se livrá do opressor que fez violências na gente escravizou a gente roubou o ouro da gente colonizou a gente com degredados então a gente acha melhor os holandeses daí tipo a gente hoje seria rico e de primeiro mundo mas hoje tem corrupção por causa dos degredado que veio lá no começo então tipo a gente não deve nada ao português e tem mais é que se livrar dessa merda mesmo e tipo tudo o mundo sabe que portugueis é burro então se a gente não fosse colonizado por eles a gente estaria no primeiro mundo mas a gente é atrasado , tem racismo, desigualdade, pobreza por que isso tudo começô com Cabral que invadiu a gente escravizô os índios trouxe escravidão corrupção aqui não tinha universidade dom João era burro e medroso até a corrupção já está na carta do Caminha a gente foi invadido então tipo agora a gente dá o troco nos portuga a gente invade Portugal eles é irmão da gente né então a gente vai lá e eles gostam da gente e eles tem que se adapitar ao jeito da gente se não é preconceito e a gente têm direito de ser bem tratado."

O parágrafo acima é caricatural, mas muito jovem de nota zero na redação do Enem reconhecer-se-ia nele.

 

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