Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


20-05-2007

Os açoriano - catarinense


Maria Eduarda Fagundes *

Dentre os Estados brasileiros o que mais guarda a influência açórica no Brasil é o de Santa Catarina. Provavelmente pelo grande número de imigrantes ilhéus que recebeu no século XVIII, e pelo relativo isolamento a que ficou submetido até 1960.

 Tão preservada ficou a cultura açoriana nessas paragens que ainda se vê em certas localidades costumes e hábitos populares seculares, como o de contar estórias e lendas fantásticas, fazer rendas e bordados, cultivar ervas medicinais e comemorar as festas do mar e do Divino Espírito Santo.

 As construções típicas dos Açores, casas rústicas de pedra ou madeira com telhado de colmo ou folhagens, não  mais existem. Porém, engenhos de produção de cana e de farinha de mandioca, destilarias rústicas, ermidas e igrejas coloniais, canoas feitas em um só tronco de árvore, aprendidas com os índios, utensílios domésticos, em barro cozido ou madeira, tecidos feitos em teares artesanais, bordados e rendas de bilro, fortalezas e construções mais elaboradas e ricas de tijolos, de um ou mais pavimentos, com janelas em guilhotina, debruadas em relevo ou pintadas com uma faixa de tinta, herança de Portugal Continental antigo, ainda podem ser vistas.

Nas danças (chamarrita ) e cantorias, no folclore popular (boi-mamão), mas histórias e bruxarias, no espírito hospitaleiro de receber, na maneira um tanto individualista de ser, na mansidão, no gosto pelas coisas simples da vida, no amor ao mar e à natureza, na facilidade de com ela se integrar vê-se, no catarinense da Ilha, o protótipo não só do gentio mas principalmente do ilhéu imigrante europeu. Basta ouvi-lo falar, com os TU(s) e os S(s) chiados, usando termos e palavreado do português do século XVI, como botica, borguezim( botina de cordões), croste(s)(colostro), sabujo(servil, cão), sestroso(manhoso), fato, canasvieiras( cana selvagem), pão-por-Deus( pedido de viveres, roupa, dinheiro), gueixa  ou guecho (novilha ou bezerro nos Açores), bernúncia (ser fantástico no folguedo bumba-meu-boi),  para suspeitar de onde vêm as suas raízes.  

As festas do Divino Espírito Santo, as folias de reis, que ascendem historicamente à Europa Medieval e que recebemos de Portugal Continental, aonde atualmente estão um  pouco esquecidas, ainda são pelos açorianos e catarinenses comemoradas. Em toda a Ilha a toponímia catarinense constantemente faz-nos lembrar os Açores quando designa a  Ponte dos Náufragos, a Ponte dos Cedros (Cedros do Faial), o Caminho dos Açores, o Hotel Faial, a Ponte Hercílio Luz, o Morro do Antão, a Rua Gal Vieira da Rosa, Ribeirão da Ilha, Canasvieiras, e assim por diante.  
 Tanto a área litorânea de Santa Catarina como a capital, Florianópolis, têm origem basicamente açoriana. Foram os 6.071 imigrantes ilhéus que se juntaram aos 4.193 locais catarinenses (índios, paulistas, negros e espanhóis) ano século XVIII que deram origem aos desterrenses, atuais florianopolitanos.

*Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 20/05/07

Referência bibliográfica:
Insvlana (Órgão do Instituto Cultural de Ponta Delgada- São Miguel)
 Vol. LIV, MCMXCVIII
Cap. Influência dos Açores no Português do Brasil (Oswaldo Furlan)

História de Florianópolis Ilustrada (Carlos Humberto P.Corrêa)