14-01-2008Fado de Coimbra : Augusto HilárioDe: Rui Lopes Cultor da Canção de Coimbra Principiamos hoje uma “viagem” pelo Fado/Canção de Coimbra. Quando nasceu, é difícil afirmar, talvez durante o século XIX, surgiu através de dois pólos distintos: das canções feitas pelos futricas, e das canções que os estudantes traziam das suas terras ou até compunham em Coimbra depois de fazerem os versos. Fica então a questão do porquê de Augusto Hilário. A resposta vem num documento anexo à Certidão de Edade referindo que no seu crisma solicitou para daí em diante se chamar Augusto Hilário (em 1877). Quanto ao seu percurso escolar segundo João Inês Vaz e Júlio Cruz terá principiado no Liceu de Viseu pois frequentou o Liceu de Viseu com o intuito de fazer os estudos preparatórios para admissão à Faculdade de Filosofia. Certo é que, em 1889, vem para Coimbra fazer os preparatórios de Medicina. Dos Anuários da Universidade de Coimbra conclui-se que esteve matriculado em Filosofia entre os anos lectivos de 1889/1890 e 1891/1892 como aluno obrigado, sendo de destacar também que no ano lectivo de 1890/1891 frequentou a cadeira o Curso Livre de Língua Grega. Nos anos lectivos de 1892/1893 a 1895/1896 esteve matriculado em Medicina, tendo repetido o primeiro ano, tendo falecido quase a terminar o Curso. Viveu na Rua Infante D. Augusto n º 60, no Largo do Obervatório n º 5, e na travessa de S. Pedro n º 14. No entanto, segundo os autores já citados, quando veio para Coimbra também se inscreveu na Marinha para receber subsídio do Estado Português. É claro que durante o seu tempo de estudante cantou e tocou guitarra, tendo feito parte da Tuna Académica da Universidade de Coimbra (no tempo em que o Doutor Egas Moniz, futuro Prémio Nobel da Medicina, era o Presidente da Tuna). Participou também na célebre homenagem a João de Deus, durante a qual, segundo João Inês Vaz e Júlio Cruz, após a actuação, terá atirado a guitarra para a assistência e, claro está, nunca mais a viu. Para obviar a falta da Guitarra, valeu-lhe o Ateneu Comercial de Lisboa que lhe ofereceu a derradeira guitarra em 1895 (a Guitarra do Hilário que hoje conhecemos). Depois de ter actuado em diversos locais do país, acabou por falecer em Viseu no dia 3 de Abril de 1896. Segundo a cópia da Certidão de Óbito na obra dos autores referenciados, morreu pelas nove horas da noite e sem sacramentos. Além disso, foi sepultado no cemitério público desta cidade [Viseu]. No entanto, o mais interessante é que numa nota à margem da Certidão de Óbito está creador do Fado Hilário e poeta e boémio, notável cantor do mesmo Fado conhecido em todo o país pelo Fado Hilário. Por outro lado, será também importante referir que muita vez se afirmou que terá sido sepultado com a sua capa de estudante. No entanto, tendo em conta o que o Dr. Joaquim Pinho afirma no blog de Guitarra de Coimbra do Dr. Octávio Sérgio, terá sido sepultado com a farda de aspirante da Marinha e não com a capa de estudante. Desta forma, alguns meses antes de terminar o curso falecia Augusto Hilário. No entanto a sua memória estava assegurada, tanto que: em 1967 a sua família doou a sua Guitarra ao Museu Académico, onde ainda hoje se encontra. Em 1964, quando foi o centenário do nascimento de Hilário, os estudantes de Coimbra foram depositar uma coroa de flores na sua campa, tal como foi feita uma serenata em Viseu. Além disso, no ano em que foi o Centenário, também os Antigos Estudantes de Coimbra no Brasil liderados pelo Dr. Divaldo de Freitas descerraram uma placa na casa onde Hilário viveu no antigo Largo do Observatório (se bem que Hilário não tenha vivido sempre aí) onde ainda hoje se ncontra. Porém, o que ficou sempre na memória colectiva foi o Fado Hilário que Augusto Hilário nos legou para a posterioridade, sendo com os versos deste que terminamos esta súmula acerca de Hilário.
A minha capa velhinha É da cor da noite escura Ela quer acompanhar-me Quando for p’rá sepultura BIBLIOGRAFIA GENERALIZADA
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