20-06-2004Guido Bilharinho,um cidadão de Uberaba Soraya HiginoGuido Bilharinho, um cidadão
Intelectual ingajado fala sobre sua paixão por cinema, literatura, política e Uberaba Soraya Higino
À primeira vista, pode até parecer um homem de poucas palavras, muito reservado. Entretanto, basta tocar no assunto ‘artes’, seja ela literatura, poesia ou cinema, ele parece crescer por trás da mesa do seu escritório, e expõe suas idéias com uma emoção capaz de alterar sua voz e sua postura corporal. Nascido na fazenda do avô materno, situada no Distrito de Jubaí, município de Conquista, Guido Bilharinho é filho de João Soares Bilharinho e Cândida Mendonça Bilharinho. Mudou-se para Uberaba, juntamente com os pais e o irmão, quando contava cinco anos de idade. Aos sete, começou a estudar numa escola particular, Dona Marica Canaã, de onde saiu em 1948, no terceiro ano primário, para estudar no Colégio Marista Diocesano. No primeiro semestre fez o externato, mas com a mudança da família para uma fazenda próxima a Uberaba, no segundo semestre ficou interno no Diocesano. Em 1949, já no quarto ano primário, morava na fazenda Lajeado. Residiram ali até 1953, ano de falecimento de seu pai. Para continuar os estudos no Diocesano, ele e o irmão vinham para a cidade diariamente de charrete. No primeiro ano, ainda crianças, quem os tazia era um empregado da fazenda. Nos outros anos, já mais crescidos, eles mesmos vinham guiando a carroça e, enquanto estudavam, deixavam-na no quintal da casa dos avós paternos, que residiam na Praça Dom Eduardo. Porém, com o falecimento do pai, a família voltou para Uberaba e foi morar na casa da avó, nessa época já viúva. Seguindo os estudos, fez a quarta série ginasial e o primeiro ano científico — equivalente, hoje, à primeira série do Ensino Médio. O início da mudança Nessa mesma época, sua mãe, em correspondência para o Rio de Janeiro, conseguiu uma bolsa de estudos para ele fazer o Curso Clássico, que ainda não existia em Uberaba. Ele poderia escolher entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Optou pela primeira cidade, indo estudar no Colégio Pedro II, onde permaneceu de 1955 a 1957. Esse era um curso equivalente ao colegial, direcionado para Letras, Direito e Diplomacia, dando ênfase às línguas, literatura e artes. Chegou a estudar seis idiomas: latim, alemão, grego, francês, espanhol e inglês. Nesse período, Guido começou a dedicar-se às letras. Foi editor de um jornal dos alunos, denominado ‘A Flama’. Além disso, foi nessa época também que teve a oportunidade de conhecer a Europa, na ocasião de ter ganho um concurso no colégio. O presidente de Portugal, general Lopes, viria ao Brasil fazer uma visita, e o diretor do colégio, Vandick da Nóbrega, promoveu um concurso interno de redação, sendo que o prêmio era uma viagem a Portugal e Espanha. Os temas eram ligados à colonização portuguesa no Brasil, e Guido escreveu: "A vinda da Família Real para o Brasil e o surto do progresso". Com mais quatro colegas, ganhou a viagem em 1957. Terminando o curso clássico, em janeiro de 1958 prestou vestibular na então Faculdade Nacional de Direito, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Iniciando a faculdade, também começou a trabalhar na Editora José Aguilar, a convite de seu ex-professor de Literatura, Afrânio Coutinho. Essa editora tinha sido fundada no Brasil nos fins de 1957, e Guido trabalhou nela por três anos. Nesse período, também fez o Curso de Preparação dos Oficiais da Reserva (CPOR) e lutou intensamente na política estudantil na faculdade. Quando estava no último ano da faculdade, em 1962, não houve nenhuma aula, em razão de uma greve de cunho nacional, decretada pela União Nacional dos Estudantes (UNE). O objetivo era a conquista de um terço de representação estudantil no colegiado das faculdades federais. As provas foram feitas só em novembro, e os alunos estudavam apenas com orientação do programa.
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