Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


01-09-2002

Marca dos Açores nos Sertões das Minas Gerais


   Nelson Rodrigues, polêmico jornalista e escritor pernambucano dizia que nós esquecemos o passado, e que um dia desses quando acordássemos seriamos um povo sem história.

   Nunca um pensamento  como este foi tão forte como para o povo que veio para os sertões das Minas Gerais.

   Após se embrenharem nas matas, à procura das riquezas do el dourado, esses homens afastados de tudo e de todos, desbravaram e colonizaram a terra,  e nela tornaram-se  donos e senhores podo-poderosos, deixando para trás histórias e raízes às vezes não tão nobres.

   A fome e necessidades de toda a ordem grassava entre esses pioneiros. Foi preciso abastecer  o interior de carne, que veio através, principalmente, dos caminhos do sertão do sul, região meridional do país, onde os imigrantes açorianos criavam gado e plantavam trigo.

   Com o gado vieram  vaqueiros, tropeiros que nas novas terras do sertão ficavam e recebiam, como pagamento, parcelas de terra e porcentagem de gado, que dividiam desigualmente com os  donos pioneiros das sesmarias.

Traziam consigo hábitos, costumes, tradições que receberam modificações e acréscimos, e  que passaram a fazer parte do seu cotidiano, sem contudo perderem as características que os tornava um povo vivo e culturalmente identificável.

   A distância das origens, a rusticidade do meio, a união com o índio e o africano, a luta pela sobrevivência e pelo chão, fez desse imigrante um forte, o pai de um novo povo. O povo brasileiro.

   Era o açoriano daquele tempo um homem atirado, profundamente religioso, hospitaleiro, amável, de espírito independente, desconfiado, curioso, rijo de físico e  caráter. Tinha hábitos de festas populares, em geral de ordem religiosa como a festa do Divino Espirito Santo.

    O amor à família, o apego às tradições, o costume da mesa farta, nos doces , pães e queijos eram características e hábitos ,ainda  hoje vistos , principalmente nos mineiros, herdados, sem dúvida ,dos seus antepassados açorianos.

 

Maria Eduarda Fagundes Nunes

Médica, natural do Faial, Açores

Membro do ELOS Clube  de Uberaba