Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


22-11-2007

A língua portuguesa não deve descriminar os nossos cidadãos que não sabem portu


Entrevista com Vice-Ministro da Educação da RDTL

Paulo Assis Belo: "A língua portuguesa não deve descriminar os nossos cidadãos que não sabem português”.


Vice Ministro da Educação, Dr. Paulo Assis, na visita aos estudantes timorenses de Coimbra no passado Sábado dia 17 de Novembro de 2007, concedeu oportunamente o seu escasso tempo para ter uma entrevista com a jornalista da ATConline, Sandra de Jesus, em relação a re-introdução da língua portuguesa em Timor e as questões relacionadas com a área de educação.

ATConline:
Depois dos que chegaram em 2001, só este ano que o governo volta a enviar estudantes para estudar em Portugal. São dez e um deles está a fazer mestrado em Coimbra. Pelo contrário, grande número dos estudantes continuam a sair anualmente para outros países como Indonésia, Austrália, Cuba e EUA – que é positivo – mas nenhum desses países é lusófono, acha que futuramente isso pode ameaçar a posição da língua portuguesa em Timor, à medida em que, maioria dos nossos futuros quadros ou elites políticos não falam português?

Dr. Paulo Assis:
É por isso mesmo que neste momento o governo Timor-leste está apostar para que esta língua fosse mesmo a língua oficial de Timor-leste. Quanto aos nossos estudantes que estão na Indonésia, Cuba, Austrália, EUA, não quer dizer que eles não podem falar português. Poderão aprender português quando regressarem a Timor. Para nós o que interessa agora é ciência que eles apreendem na Indonésia, Cuba, Austrália, EUA ou em qualquer parte no mundo. A língua portuguesa não deve descriminar os nossos cidadãos que não sabem português. Se eles forem técnicos em inglês, forem técnicos em indonésio, são técnicos que devem participar e dar o seu contributo dentro das suas capacidades. Por isso a língua portuguesa não é uma língua que descrimina que aqueles que não sabem falar português não devem trabalhar! Todos podem trabalhar!

ATConline:
Então nesse caso para si a ciência é mais importante do que a Língua?

Dr. Paulo Assis:
A língua é importante, a língua é identidade de um povo. Timor-leste escolheu a língua portuguesa como identidade dele. Porque como sabe daqui a nada nós vamos fazer parte da ASEAN, quando for parte da ASEAN as portas de Timor Lesta estarão abertas. Entrarão os Indonésios, Malaios, filipinos, Tailandeses para Timor e então vai haver uma mistura de raça em Timor-leste se não tem uma língua própria de Timor nós afundaremos culturalmente. Não diferenciamos com os outros.

ATConline:
O nosso sistema judicial é muito parecido com o de Portugal ou de tradição continental. Devido a esta proximidade, não acha que é melhor mandar mais estudantes principalmente do direito para tirar o curso’aqui?

Dr. Paulo Assis:
Felizmente temos o curso de Direito em Timor-leste, por isso mesmo que para além de mandar os estudantes para Portugal podem também estudar em Timor-Leste.

ATConline:
Aqui em Portugal, não só há estudantes bolseiros do IPAD, da cooperação, mas há também estudantes timorenses que não são do projecto de cooperação, tem apoio específico para eles?

Dr. Paulo Assis:
Nós temos Adido da Educação e esse problema deve se dirigir ao nosso adido para depois dar conhecimento ao Ministério da Educação. Os nossos estudantes que não têm apoio de governo mas têm boas notas com certeza que é dever do Estado a apoiar.

ATConline:
Temos estudantes que terminaram a licenciatura e alguns deles irão terminar esse ano mas querem continuar directamente para mestrado. Infelizmente, por falta de apoio em termos da bolsa de estudo os dificultam continuar ao esse nível. Há soluções ou alguns projectos para ajudar os que estão nesta situação?

Dr. Paulo Assis:
Sim, como disse hoje que o Ministério da Educação até agora não tem programa de bolsa de estudo, mas temos apoio bilateral de Portugal, da Austrália e da Filipina para mestrados. Neste momento estamos a programar para que haja bolsas de estudo para podermos enviar mais estudantes para mestrados. Quanto aos que acabam este ano, se tiverem boas notas na licenciatura poderemos ajudar quando orçamento for aprovado no parlamento.

ATConline:
Como sabe, a maior preocupação da maioria dos recém-licenciados é conseguir arranjar o seu primeiro emprego. Acha que o mercado de trabalho timorense consegue absorver os nossos quadros formados?

Dr. Paulo Assis:
A nossa grande esperança é que os nossos finalistas criem o campo de trabalho por eles próprios porque a função pública não pode absorver toda gente. Melhor para eles criarem o campo de trabalho será ideal porque neste momento temos situação do campo de trabalho que ainda pouco.

ATConline:
Nós aqui temos uma associação de estudante, conhecida por ATC. Tem alguns conselhos ou mensagens para nós?

Dr. Paulo Assis:
A minha mensagem é trabalhem juntos nesta organização. Estudem e formem com qualidade para poder servir melhor a nossa nação.

ATConline, 17/11/2007     
Red-ATConline