14-07-2019Macau antiga: Gruta de Camões em MacauNo tempo em que ainda se «via»... Faço a postagem deste texto do blogue do João Botas «Macau antigo» dedicado à «Gruta de Camões em Macau». Reparem como em agosto de 1886 a publicação «As Colónias Portuguesas» descrevia a vista do alto do outeiro de Patane, onde está a «Gruta»: «Observa-se dali também todo o movimento do porto, coalhado de batéis, toldados de palha, de barcos metendo carga, de juncos de guerra, em cujos mastros, curtos e grossos, tremulam bandeiras de muitas cores»... Via-se, sim senhor. Também em março de 1890, muito antes de se «exilar» no seu Dai Nippon de eleição, o acabado-de-chegar a Macau Wenceslau de Morais (1854-1929) descreve assim aquilo que vê da «Gruta de Camões», num panegírico de louvor e desfrute do bucólico local, num texto de puro deleite, como são quase todos os do excelente autor: «chegamos ao limite natural do jardim, o despenhadeiro quase a pique das rochas, em parte mascaradas pelas moitas das mimosas e pelas ramadas das trepadeiras. «Alarga-se então o horizonte. «Vê-se em baixo a cidade, a amálgama prodigiosa das negras casas chinas, a linha serpenteada das vielas, e chega-nos confuso o som de mil pregões dos bazares, o papear insólito dos garotos, o ruído dos tantans e dos foguetes festivos. «Vê-se o leito lodoso do Porto Interior, juncado de lorchas de comércio oferecendo à brisa as suas grandes velas de esteira, centenas de pequenas tanká navegam em todas as direções; amarram, junto da barra, as canhoneiras de guerra; e à direita, do lado oposto, destaca-se uma ilhota, a Ilha Verde, onde agora fumaça a alta chaminé de uma fábrica de tijolos. «Em frente, na outra margem, contorna-se a lombada ressequida da Ilha de Tew-lien-shan ou da Lapa, com as suas pobres povoações de pescadores e umas manchas esverdeadas em baixo indicando as várzeas em cultivo. «Para lá da Porta do Cerco, limite do nosso domínio colonial, acastelam-se ao longe, num esbatimento de tons azulados, as montanhas da grande Ilha de Heang-shan, ou de Macau, da qual o pequenino Macau português não é mais do que uma língua de rocha, apenas percetível nas cartas geográficas.» (Traços do Extremo Oriente, vol I das Obras Completas, Macau: Edição COD, 2007). "A Gruta de Camões em Macau" in "As Colónias Portuguesas", 1886
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