Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


20-03-2021

Um olhar sobre o quotidiano de Évora no período medieval – islâmico. Séculos VIII – XI


José Rui Ribeiro dos Santos

Orientação: Professor Doutor Fernando Branco

 

O presente trabalho consiste numa abordagem histórica – arqueológica ao período de domínio islâmico na cidade de Évora, desde os inícios, no século VIII d. C. até ao final do reino das taifas, no século XI d.C.

A amostra material em estudo, resulta de uma sistematização dos vestígios arqueológicos de cronologia medieval - islâmica e é proveniente de 16 intervenções arqueológicas com diferentes características, ocorridas em Évora desde os finais da década de 1970 até ao presente.

Procedeu-se ao estudo da tecnologia de produção, morfologia e funcionalidade, ornamentação e iconografia, da cerâmica, o que transmite informações acerca dos hábitos alimentares e cultura destas populações e permitirá entender as relações comerciais intrínsecas que transportaram a cidade a uma escala supre – regional e a integraram no al-Andalus. Relacionou-se a componente material com as fontes literárias existentes, por forma a um entendimento abrangente da evolução urbana e histórica da cidade durante este período.

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"No entanto, contrastando com esta aparente imobilidade, destacam-se invariavelmente ao longo da história, pequenos grupos ou indivíduos envolvidos em intrépidas viagens e em manobras de expatriação, movidos por pressões demográficas ou simplesmente acossados pela fome, “imperceptivalmente e ao longo de muitos anos pequenas correntes migratórias densificam zonas, regiões ou cidades em detrimento de outras. Por isso são de olhar com uma certa contenção e mesmo desconfiança das histórias e das conquistas militares de celtas ou Visigodos, de Árabes ou Berberes, como forma de explicar ou justificar movimentos, saltos civilizacionais ou mesmo bolsas de povoamento”

"O contacto geográfico que a península Ibérica mantem com o Norte de Africa, foi potenciador de instabilidade étnica, verificando-se delicadas alterações de povoamento. O movimento de difusão cultural seguia o curso do comércio. O Irão, onde antes se implantara o Império Sassânida, revelar-se-ia como um alfobre neste mundo medieval islâmico. A sua influência fez-se sentir no comércio, nas técnicas, nas ciências, na farmácia, na arte, nos temas literários, na música, nas técnicas agrícolas, nos gostos culinários. Naturalmente a herança territorial é também bem presente na transição cronológica em causa, regra geral o Gharb al-Andalus sobrepôs-se em termos territoriais à antiga Lusitânia, dividindo-se o território de forma a formar cinco áreas geo-históricas, as quais irão subsistir, com reduzidas variações até á formação do Reino de Portugal."Através de uma considerável panóplia de estudos sobre Évora, concretamente

através de transcrições paleográficas, surgiu a obra de Gabriel Pereira a qual permitiu

conhecer dados inéditos. Um novo olhar sobre a história do mundo Islâmico chega-nos

por José Leite de Vasconcelos cuja obra contribuiu, em certa medida, para a

interpretação da comunidade islâmica

Mais recentemente assistiu-se a um grande

impulso para a história local, chegado pela mão de Túlio Espanca57 que entre outros

assuntos abordou o reforço construtivo das muralhas romanas pelos árabes e da

localização do castelo “godo-árabe”. Este autor é o primeiro a defender uma efetiva

continuidade na ocupação da cidade e um aproveitamento material do espaço.

É de grande importância destacar, igualmente, a obra de Adel Sidarus, que do

ponto de vista literário muito tem contribuído para a compreensão da cidade na época

considerada"

 

https://dspace.uevora.pt/.../bit.../10174/18256/14/texto.pdf