08-03-2007 Déjà vu Olho a bela Floripa! Maria Eduarda Fagundes
Nascida dentro de uma família açoriana, desde pequena, aprendi a valorizar a ordem, a paz, a limpeza. Admirar a beleza, contribuir com a manutenção e preservação do meio ambiente, sempre entendi que fossem atitudes universais, corretas para o bem viver. Por isso quando ia ao sul do Brasil, em especial a Florianópolis, sentia-me bem, era chegar a um lugar onde as pessoas me pareciam mais responsáveis com a coisa pública, com a natureza. Mas em recente visita de férias à capital de Santa Catarina, terra por mim muito querida e apreciada, fiquei apreensiva com o que vi. Naquele paraíso de verdor e de lindas praias, já aparecem áreas degradas, colinas desmatadas, perigosamente invadidas por construções mal ajambradas, desordenadas, definindo áreas de favelas. Em algumas praias esgotos não tratados e lixo espalhado, contaminando as areias e o mar, antes transparente e límpido onde era prazeroso o banho e o descanso à beira-mar. A violência já se percebe em locais de maior movimento. Profusão de obras, algumas até majestosas, tiram o visual do mar, tudo em nome do “desenvolvimento,” do comércio e da exploração imobiliária. Senti uma sensação desagradável do “déjà vu”, e lembrei-me do que aconteceu a partir da década de 60 à Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Depois da instalação dos óleo-ductos da Petrobrás, e do rápido crescimento da população, a ilha entrou num processo de descaracterização. As calmas águas da Baía da Guanabara, antes límpidas e convidativas, começaram a apresentar manchas de óleo escuro e viscoso que sujavam tudo aonde encostavam. Os esgotos, não tratados, vertidos para as praias, poluíam o ambiente com dejetos mal cheirosos que turvavam as águas. Os peixes, antes abundantes, rarearam. Os freqüentadores das praias se retraíram e os turistas ano após ano quase desapareceram. A vegetação da Ilha foi dando lugar a construções rudimentares e mal acabadas, em geral feitas em lugares impróprios pela falta de espaço. As autoridades, passivas, a tudo assistiram, deixaram as coisas correrem, a ponto de hoje nada mais poderem fazer. A população cresceu, mas as adequações não foram feitas. Os problemas sociais se agravaram. As favelas proliferaram, passaram a não só abrigar gente simples e humilde, mas também traficantes que comandam o “pedaço”, traficam drogas e vendem “proteção”. Na Ilha a violência cresce dia a dia, pessoas ficam reféns dos marginais, tudo por causa do descaso dos políticos e da inoperância dos nossos serviços. Só os mais velhos, que ali viveram, viram esse paraíso tropical se transformar num sítio urbano superpopuloso do qual pouco resta do antigo charme e beleza.
Olho a bela Floripa e meu coração estremece ao perceber as manchas da doença social se alargando sobre a Ilha de Santa Catarina, avançando sobre a cidade, tampando com os outdoors e excesso de construções a beleza natural da Ilha. Será que os administradores e políticos sulinos estão alertados para essa realidade? Tomara que eles não se deixem levar pela ambição, e que de fato assumam a suas responsabilidades, não deixando que se perca mais um paraíso tropical brasileiro.
Maria Eduarda Fagundes Uberaba, 8/3/07
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