10-08-2020Eu amo Itabira, mas não é o que parece por Mauro Andrade Moura“Eu amo Itabira”, mas não é o que parecePor VILADEUTOPIA 10 de agosto de 2020 1 comentário Por Mauro Andrade Moura Eu amo Itabira como todos os demais itabiranos a devem, ou deveriam, amá-la. Amo ainda mais por ter nascido e criado meus filhos aqui, bem como por ter a cidade sido fundada por meus antepassados, compondo toda a sua relevante história inserida no contexto da história do Brasil. Imagem da santa foi posta em um local sacro, com apoio da mesma secretaria que ergueu o monumento à breguice, em um local que nada tem de santo, mas que guarda boas histórias itabiranas: sacrilégio (Fotos: Mauro Moura Esta crônica escrevo em decorrência do monumento feito há pouco pela atual administração municipal. Trata-se, aliás, de um monumento à breguice, fora de propósito e de significado, coisa de cidade provinciana, lá bem do interior. Aliás, semelhante à santa que foi colocada no poço da Água Santa [ninguém na Prefeitura quis informar quem cometeu esse sacrilégio em um lugar que de santo só tem o nome, mesmo tendo sido vista a imagem sendo transportada para o local em carro oficial do gabinete do prefeito]. Mas mesmo que esse monumento “de amor a Itabira” fizesse sentido, deveria ter sido instalado juntamente com campanha conclamando os cidadãos que aqui vivem a cuidarem melhor da cidade, dos bairros, vilas e ruas, bem como dos distritos de Senhora do Carmo e Ipoema. Só o dizer amar é muito pouco. Aliás, esse amor deve ser demonstrado de muitas maneiras e, assim, o dizer amar se tornaria desnecessário. Gradil de “boca de lobo” quebrado, na rua Princesa Isabel, centro histórico A maioria das ruas de Itabira sempre tem algum buraco ou serviço de recapeamento mal feito, apresentando lombadas que dificultam o caminhar do pedestre e o trafegar de automóveis. Boa parte dos cidadãos mantém o mau hábito de jogar embalagens diversas nas ruas e depositar o lixo doméstico fora do horário de coleta, o que acarreta um transtorno contínuo e a má apresentação aos nossos visitantes. O serviço de transporte público sempre foi deficitário, ocasionando o excessivo trânsito de automóveis pela cidade e, consequentemente, engarrafamentos constantes. Somando a esses tristes tópicos, temos que os ônibus são movidos a motor a óleo diesel, altamente poluente.. A sua fumaça provoca câncer nas pessoas, bem como os muitos ônibus que levam os operários a trabalhar nas minas de ferro, deixando sempre o seu rastro de fumaça pelas ruas da cidade. Passeio esburacado e matagal em bairro “nobre” da cidade: desrespeito ao pedestre Temos ainda os veículos escolares (micro-ônibus) e diversos caminhões e caminhonetes a diesel, público e privado, boa parte sem manutenções preventivas. E são, também, grandes poluidores de nossa cidade com sua fumaça cancerígena. A maioria dos motociclistas não respeita sinal de trânsito, cruzamento de ruas e ainda mantém o mau hábito de realizar ultrapassagem pela direita ou em espaço ínfimo para tal. Sem contar que muitos retiram o silencioso do escapamento para terem a sensação de pilotar motocicleta de grande porte, mas que na realidade só aumentam o ruído nas ruas da cidade a ser amada. Resíduos de mercadinho postos fora de hora e sem os cuidados necessários Outros proprietários de veículos que quase esbarram ao chão insistem em manter o volume do som no volume máximo. Nesse caso, o volume do som é inversamente proporcional ao cérebro e demonstra um péssimo gosto musical. Os mototaxistas que avisam sua chegada para a entrega em domicílio sempre dão a sua contribuição à poluição sonora, com insistentes buzinadas. Pedestres que passam de um lado a outro das ruas em qualquer lugar sem observar as regras da boa convivência nas ruas e avenidas são outras demonstrações de quem não está nem aí para os espaços públicos, que são da coletividade. Ou atravessam, ainda que nas faixas, conversando ou mesmo escrevendo no celular. E dão a mínima à própria segurança. Passeio invade calçada na rua dos Padres: outra manifestação de desamor à cidade Tudo isso sem contar o hábito de caminhar nas ruas, Nesse caso, o pedestre ainda tem a desculpa de que as nossas calçadas têm deslizes, formatos desiguais, além de entulhos diversos colocados sem a fiscalização de posturas da Prefeitura sem postura. A falta de cuidados continuados e permanentes das praças da cidade, por jardineiros que como no passado serviam também de vigias, torna a cidade com ares de mais abandono. E de nada adianta fazer maquiagens em véspera de eleição, que não esconde o desleixo. Mesmo com a campina e pintura, o que se observa somente agora em ano eleitoral, o povo não ajuda: nas praças e jardins a sujeira é constante e permanente. Infelizmente, o itabirano ainda conserva o mau hábito de jogar sacolas de lixo de dentro dos automóveis para as ruas, como se fossem lixeiras do mundo. Tudo isso e muito mais demonstram que as pessoas, em sua maioria, não tem amor à cidade onde vive. Poderia relacionar vários outros maus hábitos de falta de respeito com o espaço público. Poeira da Vale: mineradora nunca pediu desculpas pela sujeira que causa na vizinhança, sem contar as doenças respiratórias (Foto: Carlos Cruz) Mas paro por aqui, mas antes é preciso lembrar que, além de tudo isso, ainda sofremos com a poeira das minas da Vale, que suja nossas casas sem ao menos pedir desculpas pelo incômodo causado – e nos martiriza 24 horas por dia, 365 dias do ano, como se a poluição fosse premissa para o desenvolvimento econômico. Assim como fez o jornal O Cometa, na década de 1980, quando o Rotary lançou campanha de “Amor a Itabira”, não seria o caso de lançar uma campanha de horror a Itabira? Mostrar todas essas mazelas provocadas pela má administração pública, e pela própria população, pode ser uma forma mais pedagógica de ensinar a cuidar melhor da cidade. Não será essa exaltação algo metafísica, cafona e brega, e sem efeito prático, que tornará a nossa cidade uma comuna melhor para se viver. Na prática, aqui não se tem amor à Cidadezinha Qualquer, uma forma carinhosa que o poeta se referiu à sua terra natal, lembrando que vida passa devagar em Itabira do Mato Dentro. E como passa! |