06-08-2020De Mazagão ao Algarve, vão 76 marroquinosRaúl M. Braga Pires 06 Agosto 2020 — 18:56artilhar
Desde logo o 1º sintoma de que não se trata de uma nova rota, já que não se tratam de 76 migrantes de diferentes nacionalidades, sendo as sub-saharianasas que mais abundam como clientela das redes que operam a partir do norte de África e que agora se especula terem optado pelo Algarve como ponto de chegada à Península, tendo a clientelacomo objectivo final a restante Europa. Desde Dezembro houve 5 vagas a partir de El Jadida, a "nossa" Mazagão (1486-1769), na costa atlântica marroquina, num total de 76 aventureiros na procura de vida melhor. Só nos primeiros 5 meses de 2019, chegaram a Espanha também por mar e a partir de Marrocos, 7876 migrantes de diversas nacionalidades. Os números falam por si e gerir um negócio destes não pode ser feito mês sim mês não, ou de acordo com ventos e marés favoráveis. No entanto, como na Política não existem vazios, esta especulação sobre uma nova rota migratória com destino português, que já anima conversas de café e deixa veraneantes "algarvios" de atalaia quando vão a banhos, também começou a animar políticos e diplomatas portugueses e marroquinos, que desde 02 de Março começaram a reunir-se para discutirem o estabelecimento de um Acordo de Migração Legal, entre a República e o Reino, o que segundo oactual Embaixador português em Rabat, Bernardo Futscher Pereira, contactado sobre este particular referiu que "o objeto deste acordo não é combater a imigração ilegal, embora esperemos que ele contribua para esse fim, de duas maneiras: primeiro, fornecendo uma alternativa legal e regulada às tentativas de emigração ilegal; segundo, aprofundando a cooperação entre os dois países, o que permitirá combater de forma mais eficaz as tentativas de emigração ilegal". Ainda sobre este assunto em negociação, prevê-se que tenha por base o modelo espanhol, que funciona desde 2001, os quais têm "uma experiência importante neste domínio designadamente em matéria de migração circular. O traço essencial que a nossa proposta tem em comum com o acordo entre Espanha e Marrocos", sublinha o Embaixador Futscher Pereira,"é o facto do processo de seleção e recrutamento dos candidatos à migração ser intermediado por entidades oficiais dos dois países." Os últimos anos da relação diplomática entre Portugal e Marrocos, dão sinais em quererem passar das palavras à Geografia aplicada, já que ambos os países incluem sempre no seu discurso circunstancial a distância curta, em linha recta, entre as duas capitais, mas depois parecem ter vergonha em estenderem as mãos e darem um "forte bacalhau" em águas quentes, de costas voltadas para Madrid e Paris, talvez o principal constrangimento, tais são as relações históricas e de dependência económica entre marroquinos, espanhóis e franceses. Portugal, na sua tradição atlantista, deverá incluir Marrocos nas suas prioridades e beneficiar da projecçãomediterrânica que este parceiro do sulnos poderá proporcionar. Neste sentido, caso o futuro confirme uma nova rota de migração clandestina com origem neste "Atlântico amigo" e com destino à costa algarvia, a boa notícia é que tal serviço das máfias internacionais, proporcionará crescentes oportunidades para um aprofundamento político e securitário entre os 2 países, o que só ajudará a cimentar o já existente relacionamento histórico, académico e lúdico. O pós-covid marcará um desejado regresso ao Sul e ao exótico mais próximo, no âmbito do Turismo e, os Licenciados do Curso de Estudos Portugueses da Universidade Mohammed V de Rabat, caso o crescente número de empresas portuguesas que se têm estabelecido e continuarão a estabelecer-se em Marrocos, insistirem em não contratarem estes jovens, será preciso pedir-lhes desculpa e assumir o erro desse investimento. O erro de continuarmos a não coordenar e conjugara Academia com o mundo empresarial, algo que só recentemente começámos a entender para o nosso "espaço-rectângulo" soberano. Pessoalmente e, voltando à "nova rota", creio que quando muito, será um teste, para ver se será viável no futuro enviar quantidade de gente equivalente às que entopem diariamente as outras rumo a Espanha, aliviando-as também. Disse quando muito, porque no que acredito verdadeiramente é na"tosquisse" do 1º grupo de Dezembro, que errou o alvo e depois ligou aos primos e amigos, lá no "bléd", na "terrinha", e os deslumbrou com o tratamento VIP que estavam a receber das autoridades portuguesas, em oposição às estórias escabrosas que tinham ouvido até então sobre a recepção de outros primos, em Espanha. Este facto foi suficiente para a narrativa ganhar contornos de que estes "marinheiros-de-água-doce" teriam chegado ao "Canadá", tal eram as mordomias à chegada, já que em vez de um Centro de Detenção babilónico, imundo e bordado a arame farpado, tiveram direito a hotel, cama e roupa lavada, na boa tradição portuguesa. Se eu soubesse que seria recebido assim, também quereria ser marroquino! Politólogo/Arabista O Autor escreve de acordo com a antiga ortografia |