Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


13-04-2009

Chrys Christello - Chrónicaçores: circum-navegação de timor a macau, austrália,


!mso]> gte mso 9]> Normal 0 21 false false false MicrosoftInternetExplorer4 gte mso 9]> !mso]> gte mso 10]>

Livro Chrónicaçores: uma circum-navegação de timor a macau, austrália, brasil, bragança até aos açores

gte vml 1]> !vml]-->

da autoria de J. CHRYS CHRYSTELLO, editora VerAçor

 Na lenda havia um Rei Artur, Sir Galahad, os cavaleiros da Távola Redonda e a busca pelo Santo Graal. Aqui não há Dom Quixote, nem Sancho P ança nem moinhos de vento, contra os quais espadanar. Há apenas um cavaleiro da poesia e utopia, temeroso e aventureiro, sequioso de aprender outras línguas, hábitos e culturas. De Trás-os-Montes, sua mátria desconhecida, parte à conquista do “lulicem Timor P ortuguês , dos hippies em Bali (Indonésia), sobrevive ao “Anno Horribilis” no Verão Quente (1975 em P ortugal), atravessa as P ortas do Cerco (na China de Macau), percorre a Austrália Ocidental, Vitória e Nova Gales do Sul, com passagem pelo Oriente do Meio e seus emirados, metade da Europa, da Ásia e parte do P acífico Sul, antes de redescobrir o Brasil, P ortugal e muitos outros países para, por fim, aterrar como um Buteo buteo rothschildi na ilha de S. Miguel (Açores) donde parte também em conquista de Santa Maria, Faial, P ico e S. Jorge. Se na pátria (Austrália) descobriu uma tribo aborígene a falar um crioulo português com mais de 450 anos, descobriu na antiga Bragança a sua mátria e nos Açores descobriu o que a maior parte do mundo desconhecia.   Esta viagem leva-nos num périplo pelo mundo em que o autor vai cronicando, como Marco P olo, as terras, as gentes e os costumes e tradições. Da análise política, social e pessoal parte à descoberta de culturas. Recuperando as suas origens, retorna ao seio duma Lusofonia sem raças, credos ou nacionalidades, até se radicar na “Atlântida” onde irá desvendar, divulgar e dilatar desveladamente uma fértil literatura açoriana catapultadora de autonomias e independências por cumprir.

  O AUTOR:

Chrys não só acredita em multiculturalismo, como é um exemplo vivo do mesmo: Nasceu no seio duma família mesclada com Alemão, Galego- P ortuguês (desde o ano de 942 DC), Brasileiro do lado paterno, e P ortuguês e marrano (desde os idos de 1500) do lado materno. Durante muitos anos na Austrália esteve envolvido em várias instâncias oficiais que definiram a política multicultural daquele país.  Como Oficial Miliciano no Exército Colonial P ortuguês, foi enviado para Timor onde aterrou em 1973 (Setembro) regressando dois anos mais tarde. Editor-Chefe do jornal local em Díli (A Voz de Timor) estava já embrenhado no jornalismo político e na linguística enquanto em P ortugal a Revolução dos Cravos destronava uma ditadura velha de 48 anos.   P ublicou aos 23 anos poesia sua no livro Crónicas do Quotidiano Inútil (vol. 1) e escreveu em 1975 um Ensaio P olítico sobre Timor, antes de ser chamado a desempenhar funções executivas em Macau como Economista da CEM – Companhia de Eletricidade de Macau em 1976. Depois, radicar-se-ia em Sydney (e mais tarde em Melbourne) como cidadão australiano onde viveu até 1996.  Desde 1967 dedicou-se sempre ao jornalismo (político) em rádio, televisão e imprensa escrita. Como Correspondente Estrangeiro trabalhou para as agências de notícias portuguesas ANO P /N P /LUSA, para a televisão TVB de Hong Kong e para a RT P , para as estações de rádio portuguesas RD P , Rádio Comercial, ERM e TDM-RT P (Macau), para jornais incluindo o Jornal de Notícias, P rimeiro de Janeiro,  Sábado,  Europeu  e  P úblico  (pertenceu  ao  grupo  de  fundadores),  sendo  amplamente publicado, incluindo  no The Journalist (Associação Australiana de Jornalistas (AJA/MEEA) e no jornal The  Maritime  Union  (do  Sindicato  Marítimo  australiano),  além  de  ter  feito  pesquisas  e  ter  escrito  documentários  para  as televisões australianas (sobretudo relativamente a Timor Leste).  Entre 1976 e 1996, escreveu sobre o drama de Timor Leste enquanto o mundo (incluindo a Austrália e P ortugal) se recusava a ver essa saga. Na Austrália trabalhou ainda como Jornalista para o Ministério do Emprego, Educação e Formação P rofissional (DEET, Dept. of Employment, Education and Training) e para o Ministério da Saúde, Habitação e Serviços Comunitários (DHHCS, Dept of Health, Housing and Community Services); tendo também exercido as funções de Tradutor e Intérprete para o Ministério da Imigração (DIEA, Dept of Immigration & Ethnic Affairs) e para o Ministério Estadual de Saúde de Nova Gales do Sul (NSW Dept. of Health).  Noutra área, começou a interessar-se pela linguística ao ser confrontado com mais de 30 dialetos em Timor, e divulgou a descoberta na Austrália de vestígios da chegada dos P ortugueses (1521-1525, mais de 250 anos antes do capitão Cook), e da existência de tribos aborígenes falando Crioulo P ortuguês (herdado quatro séculos antes).  Membro Fundador do AUSIT (Australian Institute for Translators and Interpreters) e Examinador da NAATI (National Authority for the Accreditation of Translators and Interpreters) de 1984 a 2003, Chrys lecionou na Universidade (UTS) Linguística e Estudos Multiculturais (a candidatos a tradutores e intérpretes). Com quase três décadas de experiência em Tradução e Interpretação como Freelancer especializado nas áreas de Medicina, Literatura, Linguística, Legal, Engenharia, P olítica e Relações Internacionais, Chrys publicou inúmeros trabalhos científicos e apresentou temas de linguística em conferências em locais tão distintos como a Austrália, P ortugal, Espanha, Brasil e Canadá.  Em 1999, para a sua tese, escreveu o seu principal Ensaio P olítico "East Timor: the secret files 1973-1975" (versão portuguesa) Timor Leste: o dossier secreto 1973- 1975, a seguir publicado em livro tendo esgotado a sua primeira edição ao fim de três dias. Mais tarde publicou (eBooks/e-livro) a monografia Crónicas Austrais 1976-1996.

 Durante mais de vinte anos, responsável pelos exames dos candidatos a Tradutores e Interpretes na Austrália, foi ainda Assessor de Literatura P ortuguesa do Australia Council, na UTS Universidade de Tecnologia de Sydney, sendo atualmente Mentor dos finalistas de Literatura da ACL (Association for Computational Linguistics, Information Technology Research Institute) da University of Brighton no Reino Unido, e Revisor (Translation Studies Department) da Helsinki University.  Organiza os Colóquios Anuais da Lusofonia (desde 2003 em Bragança,) que tiveram como patrono o Embaixador José Augusto Seabra e desde 2007 com Malaca Casteleiro e Evanildo Bechara como patronos. A partir de 2006 organiza os Encontros Açorianos da Lusofonia (S. Miguel, Açores), mantendo o seu interesse no ensino de tradução, multiculturalismo, Inglês e Estudos de Tradução.  Em 2005 publicou (ed. Santa Casa da Misericórdia de Bragança) o Cancioneiro Transmontano 2005, compilando em cerca de 300 páginas, contos, lendas, cantigas e cantilenas, loas, etc. da região e publicou (eBooks/e-livro) o segundo volume dos seus contributos para a história de Timor intitulado “Timor-Leste vol. 2: 1983-1992, Historiografia de um Repórter” (um volume com mais de 2600 páginas em edição de autor em CD).  Em 2007, traduziu obras de autores açorianos para Inglês, nomeadamente de Daniel de Sá (Santa Maria Ilha-Mãe, O P astor das Casas Mortas) e de Manuel Serpa (As Vinhas do P ico). Já em 2008 traduziu o livro de Victor Rui Dores “Ilhas do Triângulo, coração dos Açores (numa viagem com Jacques Brel)” e “Caminhos de S. Miguel” de Daniel de Sá, autor que prefacia agora este seu primeiro livro "açoriano".

CHRÓNICAÇORES: circum-navegação de timor a macau, austrália, brasil, bragança até aos açores
comentado por Luciano Pereira (instituto politécnico de Setúbal)

 Chrys CHRYSTELLO convidou-me para fazer a apresentação desta sua última obra, CHRÓNICAÇORES: uma circum-navegação. A amizade que temos vindo a cultivar desde as primeiras edições dos encontros da lusofonia não me permitia esquivar a este amável e honroso convite, embora considere que o presente ritual merecia um outro oficiante bem mais experiente, bem mais culto e bem mais sábio do que eu.

Falo de experiência, de cultura e de sabedoria porque são estas as caraterísticas que mais se destacam desta obra irreverente e provocatória. O título é o seu primeiro embuste. Crónicas existem nela, de certo, como núcleos narrativos de onde irradiam os mais secretos mecanismos de construção de uma ou várias identidades. A circum-navegação relatada nesta obra é, de facto, um périplo pelo mundo em que o indivíduo se vai explicitando perante si e perante os outros. A representação da viagem efetuada, em particular sempre para Oriente, assemelha-se ao voo da Fénix em busca da sua origem, onde se imola e renasce para outros voos e para outras vidas. Na distância J.C. experimentou a saudade das origens, as míticas, e as sonhadas, tal como sempre sentira um apelo pelo desconhecido ou simplesmente pelo destino.

As terras, as gentes, os costumes e as tradições são o pretexto para falar da sede de conhecer e de saber. As análises políticas e sociais são pretextos para desenhar uma mítica sociedade de justiça e de paz. O doloroso afastamento da Pátria ou da Mátria, também não é mais do que um pretexto para construir uma identidade lusófona, sem raças, sem credos e sem nacionalidades.

Neste momento, já todos percebemos que não estamos perante um mero conjunto de crónicas de viagens mas de uma autobiografia escrita na terceira pessoa. “Ele J.C.”

 Quando nos confrontamos com uma autobiografia não podemos deixar de nos lembrar de Santo Agostinho e de Rousseau e das suas confissões. No primeiro lembramo-nos da intervenção da graça divina na vida de um simples pecador para testemunhar do sagrado poder de Deus. No segundo, lembramo-nos que todo o indivíduo se explica pela sua história e em particular pela sua infância, tornando assim o género uma versão individual e realista do mito das origens.

Tal como qualquer texto autobiográfico, a presente obra alimenta-se de uma multiplicidade de discursos. O indivíduo constrói-se na confluência de todos os textos lidos e de todos os textos escritos. Confrontamo-nos com uma diversidade textual quase estonteante, de textos enciclopédicos, passamos para o registo poético. Do texto poético migramos para as explicações históricas, e das explicações históricas para as teorias científicas. O encanto do texto autobiográfico é que permite contextualizar a produção das obras do próprio autor. O seu encanto reside também na verdade que nos é revelada. E essa verdade é, sempre e apenas, a verdade de um presente que corresponde à construção da imagem de uma vida. Quanto ao passado, se existem vidas que dariam verdadeiros romances, sem tirar nem pôr, esta é seguramente uma delas.    

As obras biográficas costumam apresentar a vida de alguém que se tenha notabilizado por qualquer razão. As obras literárias autobiográficas costumam apresentar alguém de forma notável. Esta apresenta alguém de notável nem que fosse apenas pela forma como o faz. Estamos perante a notável construção de um anti-herói, com um certo distanciamento, com um certo sentido crítico, com alguma graça e bastante humor.    

A presente autobiografia não se limita a recontar os eventos de uma vida mas, como qualquer biografia literária, recria-a. A verdade é que o narrador cria e recria J.C. ao seu gosto e ao seu belo prazer. (Ou terá sido a própria vida a fazê-lo?)

O maior fascínio desta obra deriva do facto de funcionar como uma caixa onde estão guardadas muitas e diversas outras obras. Inscrevendo-se no universo da literatura de viagens, é uma autobiografia onde o “eu” é um “ele”, herói e anti-herói de uma nova e renovada epopeia emigrante. O biógrafo faz uso de uma multiplicidade de materiais para ser leal à verdade ou para reforçar a verosimilhança donde se destacam as sua próprias obras (especialmente notas e crónicas de viagens).

Em muitos passos da obra julguei ouvir a voz do Chrys. Desde que tive a sorte de com ele privar, sempre no contexto dos Encontros e dos Colóquios da Lusofonia, que me habituei a ouvir as suas histórias e os seus sonhos. Com ele partilho a mesma inquietação de ser e de estar, também eu descendo da linhagem dos Pereiras, sei que me corre sangue semita nas veias, como ele tive uma professora que se chamava Dona Júlia, quis o destino que cedo vivesse a experiência da emigração, que me apaixonasse pela nossa diáspora e que construísse uma identidade lusófona na troca de palavras e afagos. Pisei chão que ele pisou no oriente e um dia lembrei-me de lhe falar dos Açores. Hoje, Chrys ensina-me os açores. Por todas as emoções vividas e partilhadas, obrigado!

LUCIANO PEREIRA

REDE: http://lusofonias.com.sapo.pt: