20-01-2009LANÇAMENTO DO ROMANCE «O PECADO MAIOR DE ABEL» de Inácio Rebelo de AndradeO autor deste blog lançará brevemente mais um romance sobre eventos e personagens da Angola anterior à Independência, para que convida todos os seus leitores. A esse propósito e com o fim de interessar quem possa e queira estar presente na sessão de apresentação do livro, inclui adiante os elementos seguintes:
Excerto do romance (pags.88-90, O Pecado Maior de Abel, Edições Colibri, Lisboa, Janeiro de 2009) {Depois da caldeirada de cabrito, que foi comida até ao fim; de duas garrafas de tinto maduro do Douro, que foram servidas a acompanhar; já com a chávena de café de saco e o cálice de conhaque nas mãos, os dois levan-taram-se da mesa e dirigiram-se para a sala de estar. Sentaram-se pesadamente nos cadeirões de verga que ficavam junto da janela, nesses mesmos que Guiomar do Patrocínio teimara comprar no Fun-chal seis meses antes, quando passara por lá no paquete «Império» de regresso da licença graciosa. Cadeirões enormes, de varas de vime enver-nizadas, que tinham inscritos no topo das costas o local e a data de fabrico. Cada um puxou conversa, primeiro sobre o seu clube do coração, o Sport Lisboa e Benfica, que perdera de novo com o Sporting («Uma roubalheira do árbitro!, uma pouca vergonha!, uma indecência!»), a seguir sobre a situação política em Portugal, que continuava a enfrentar a vergonha da ONU estar-se a borrifar para a invasão dos enclaves indianos de Dadrá e Nagar-Aveli, orde-nada pelo Pandita Nehru. Oliveira Salazar protestara veementemente contra o facto, reclamara a soberania do país sobre os territórios ocupados, mas até ao momento, dois anos volvidos e apesar da insistência, nada! Zeferino Antunes tinha uma opinião formada sobre o assunto. Quando se referia à ONU, a essa «corja», a essa «cambada», não poupava críticas: — Aquilo é um coio de oportunistas, que quer é cair nas graças dos países-membros que acaba de acolher. Perguntava como quem sabe já a resposta: — Como é que um homem decente, com valores, de antes quebrar que torcer, como o nosso Presidente do Conselho, poderia alguma vez ser ouvido por tais mariolas? Sim, como? Abel estava inteiramente de acordo. Dizia mais: que Sua Majestade Britânica, a rainha Dona Isabel, se portara como uma falsa, não apoiando a pretensão portuguesa e virando as costas ao mais antigo e fiel aliado. — Foi ou não foi uma traição? O Chefe do Posto achava que sim. Mas estava já a contar com isso. Olaré! Os ingleses eram reincidentes na patifaria: — Lembre-se sempre de que esses sacanas nos tramaram com o Mapa Cor-de-Rosa. Abel não se recordava do assunto. Nunca ouvira falar de tal coisa. Gostava de saber. Zeferino Antunes explicou: com todos os detalhes, indo buscar um livro escrito sobre o acontecimento, «Portugal e o Ultimato». Abriu na página que tinha assinalada com uma tira de papel lustroso, leu o texto, fez comentários. Perguntou no fim: — Que tal? Não era como eu dizia? Abel ficou de cara à banda. Na verdade, aqueles gajos eram uns refi-nadíssimos tratantes, uns grandessíssimos aproveitadores. Filhos da mãe! Um sipaio bateu à porta, pedindo licença para entrar na sala. Vinha in-formar que um soba estava lá fora, à espera, para resolver uma andaca pen-dente. — Sô Chefe vem? O home espera ou manda imbora? Zeferino Antunes olhou para o relógio de pulso. Caramba!, o tempo voava. — Ele que espere. Eu vou já. Abel levantou-se. Escorropichou ainda a chávena de café, agradeceu o repasto, pediu para apresentar as suas recomendações a Guiomar do Patro-cínio: — Transmita à sua patroa os meus respeitos. De novo cá fora, entrou na carrinha, deu ao arranque, olhou o Chefe do Posto pela última vez: — Obrigado por tudo. Um dia destes, volto. Pôs as mãos no volante, acomodou-se melhor no assento e partiu. Ia já a meio caminho e continuava com o Mapa Cor-de-Rosa na cabeça: «Filhos da mãe dos ingleses! Uns estupores de primeira!...».} http://huambino.blogs.sapo.pt/2009/01/07/ |