Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


07-09-2019

APRENDER GALEGO... E PORQUE NÃO? Fernando Venâncio


Fernando Venâncio,escritor e linguista  Inline image

 

Existem quatro línguas que leio com variável agilidade: o Galego, o Catalão, o Italiano e o Alemão. Este, estudei-o uns anos, mas hoje valho-me mais da sua proximidade do Neerlandês, o meu 'outro' idioma. O Italiano, leio-o e escuto-o (tal como a minha maninha Maria Venâncio) sem problema de maior. O Catalão vai indo, cada vez me entendo mais com ele.

Mas não me ponho a falá-los, a não ser em caso extremo, como aquele em que, encontrando-me com um polaco desorientado, descobrimos que a única língua em que nos entendíamos era... o Latim. E não nos saímos mal.

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Mas o Galego é outra loisa. Ando-o lendo e ouvindo desde há bem 30 anos. Alguns desvairados juram que Português e Galego são a mesma língua. Tenho a certeza de que se ririam se lessem este 'post'. Mas é por não conhecerem uma, ou não conhecerem a outra, ou nenhuma das duas.

Pois bem: não obstante essa minha longa familiaridade com ele, ainda se dão entre mim e o Galego vários, e importantes, pontos de obscuridade. Estou a falar do chamado "Galego Normativo", na sua versão mais genuína, que aqueles mesmos desvairados acusam de "espanholizado", no que têm alguma razão, mas que está descontaminado, louvados Céus, de centenas de espanholismos correntes em Português.

Decidi, pois, estudar (!) o Galego. É uma promessa, e bem mais fácil de cumprir que aquela outra de aprender o Berbere Marroquino, língua dos meus longínquos antepassados, em que não sei dizer sequer "Bom dia". Uma pessoa tem destes lirismos.

Não sei se alguma vez conseguirei falar (!) com suficiente fluência o Galego, mas farei o meu melhor.

Compreendam-me bem: eu estou, aqui, a exprimir-me naquilo que é, historicamente, uma variedade de Galego, esta nossa, que herdámos e modificámos, até fazer dela outra língua. Um dia, os brasileiros farão o mesmo com aquilo que ainda chamam Português. Sim, os meus amigos de ambas as margens do Charco que me desculpem, mas, para um linguista, esta é daquelas profecias que já nem dão pica. A criação dum Brasileiro está, desde há séculos, em óptimo andamento.

Vou, pois, aprofundar-me no Galego. Quero poder ler, além do ensaio, que se deixa ler bem, também a ficção e a poesia. A poesia, essa de que dizem que esconde o indizível. Mas mesmo esse indizível, haverá que tomá-lo de assalto.

E se você se quiser orientar na matéria, faça em Lisboa uma visitinha ao Centro de Estudos Galegos da Universidade Nova, ou ao Instituto Cervantes. Um e outro têm farta biblioteca galega, com boa informação sobre cursos, manuais e literatura variada, e sobretudo gentil acolhimento.

Agradecem-se de coração outras Informações sobre o estudo do Galego em Portugal. No Brasil, há também bastantes.

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Ofereço-vos aqui um poema galego, de Luís L. Alonso (n. 1977), poeta várias vezes premiado, que acho num número de 2012 da revista "Grial". Faça-se o exercício de lê-lo sem ajuda. Em comentário, remeterei para dois bons dicionários.
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FUSTAS DO TEMPO
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Enxáugasnos o pé
párvulo é o afago que na deda rebulda
o tacto de óleo do teu alento
brinda polo agora

baixo o chafariz
o canto das ras sorbe os intres da memoria
deitamos a empeña na túa man peregrina
que todo tempo recolle

croan os sapos como fustas dende o porvir
e avesíos á súa bravura tremelicamos
ti obvias
a enferruxada alianza
agrilloada ao noso
enxoito nocello
e fustrigas os sapos na nosa contra
mentres com lanuxe de mortas horas
o primeiro pé enxugas
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[Na foto: algumas 'ranitas' alentejanas do tanque do Convento de São Francisco, em Mértola.]

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A imagem pode conter: planta, natureza, atividades ao ar livre e água

 

   

Fernando Venâncio

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