Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


10-10-2007

Descrição de Lisboa antes do Terramoto de 1755


Uma das mais antigas descrições de Lisboa antes do terramoto de 1755, feita pelos ingleses Thomas Cox e Cox Macro, é editada esta semana pela Biblioteca Nacional de Portugal.

"Relação do Reino de Portugal. 1701" é o titulo do manuscrito de que uma equipa liderada pela catedrática Maria Leonor Machado dos Santos, da Universidade Nova de Lisboa, fez o estudo paleográfico e diplomático, sendo publicado na colecção "Textos da BN".

"Esta é, tanto quanto conheço, a mais antiga descrição, pormenorizada, de Lisboa e seus arredores, nomeadamente a zona de Sintra, que consideram uma paisagem excepcional", disse a investigadora.

O manuscrito original - da autoria de Thomas Cox e de seu tio, o reverendo Cox Macro - encontra-se na Biblioteca Britânica em Londres.

Maria Leonor Machado de Sousa afirmou que a descrição é "minuciosa” e “muito completa”. Cox Macro “não se ficou apenas pelo que viu. Recria os ambientes, sendo quase uma crónica de costumes".

"Ele fala da vizinha de cima e da de baixo cuja filha esteve doente e que puseram lençóis de renda por lá irem visitas; descreve as festas, cerimónias religiosas como a Sexta-feira da Paixão, os maus cheiros, as boas e más ruas da capital, os pedintes".

O viajante Thomas Cox faz a descrição dos "magníficos palácios e outros edifícios que Lisboa tinha" o que contrasta, segundo a catedrática, com as descrições de outros viajantes pós-terramoto de 1755 que achavam que a cidade não tinha nada de interesse em termos arquitectónicos.

"Pesa aqui o facto de ele não ter estado de passagem, mas ter aqui permanecido uns meses, entre Abril e Outubro, e portanto ter tido mais tempo para observar", salientou.

Relativamente ao documento, a investigadora afirmou que existem dois textos: "notas soltas e apontamentos colhidos como impressões - o do sobrinho Thomas -, e o do clérigo, estruturado em grande secções temáticas e com especial interesse na questão religiosa".

"O texto de Cox Macro tem datas, relata acontecimentos concretos, descrições de paisagens, o que o aproximam muito mais do relato de viagens".

As razões da visita de Thomas Cox, 21 anos, não são claras. "Há cartas que indicam razões de saúde, o que era muito natural para a época, todavia ele era um comerciante e poderia haver interesses nesta área", explicou.

A obra é apresentada amanhã às 18h00 na livraria da Biblioteca Nacional, ao Campo Grande, em Lisboa.

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1307059&idCanal=undefined