07-11-2006InfânciaLembrar da minha infância é evocar as minhas raízes açorianas. Fecho os olhos, procuro na memória o passado que me volta pouco a pouco, como slides, um atrás do outro, em cores fortes e luminosas como o verão do Faial. O mar, onipresente na vida do ilhéu, me aparece em vagas repetitivas, cadenciadas, hipnóticas, batendo no calhau, espalhando um imenso lençol de espuma branca, aspergindo milhões de perdigotos salgados e frios sobre a muralha da calçada da Avenida do Mar. O ar, sempre ventoso, rescinde a lapas frescas. O sol lentamente no horizonte se esconde. O céu aos poucos escurece e o brilho das estrelas aparece num azul profundo, quase negro. Na marina os barcos balançam amarrados ao píer. Na Quinta da vovó Alice meus primos e eu brincamos enquanto as cabras e as vacas são tratadas. Pelas encostas da canada catamos dulcíssimas e negras amoras silvestres que se espalham em emaranhados silvados. Vez por outra rasteiros e vermelhos morangos nos chamam a atenção. E lá vamos nós, mais uma vez, buscá-los ao chão. Pegamos a fruta, assopramos, passamo-la na roupa e considerada limpa vai à boca, sem a mínima preocupação! Ouço vovô Camilo chamando-nos: Em setembro as aulas começam. No Colégio Santo Antonio, a Irmã Electra com sua régua de marfim está pronta pra umas palmadas dar a quem não fizer a lição ou não souber se comportar. Pela manhã aulas de linguagem e matemática. À tarde temos bordado, trabalhos manuais, leitura, aulas de canto e interpretação. No dia 8 de dezembro vai-se à Caldeira buscar um pinheiro para enfeitar o Natal. O presépio montado e adornado de laranjas e azevinho mostra o menino Jesus deitado na manjedoura, adorado por José, Maria e os reis magos, num lugar de destaque da sala. Maria Eduarda |