16-02-2018Portela lembra na avenida os imigrantes judeus que se instalaram no Recifeᴴᴰ PORTELA 2018 - DESFILE COMPLETO
Cristina Índio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
“Minha gente, se prepare / Que essa história vale a pena/ Tome assento, se acomode/ E vejam quem entra em cena / E quem sai, e onde se passa, / Onde termina, ou começa,/ De onde vem ou se destina”. É desse jeito que a carnavalesca Rosa Magalhães faz o convite para o público acompanhar o desfile da Portela este ano, com o enredo De Repente de Lá Pra Cá e Dirrepente de Cá Pra Lá . A escola será a segunda a entrar na Marquês de Sapucaí na segunda-feira (12) e vai levar para a passarela do samba a “vida incerta de imigrantes” judeus, conforme o texto de apresentação do enredo. A Azul e Branco, localizada no limite entre os bairros de Madureira e Oswaldo Cruz, na zona norte do Rio, vai mostrar a história de judeus que fugiram de perseguição por não poderem praticar a sua religião. Eles saíram de Portugal e se instalaram na Holanda e depois vieram para o Brasil, mais precisamente para o Recife, na época em que Pernambuco estava sob o governo holandês, no comando de Maurício de Nassau, que tomou o território para explorar as riquezas do local. Detalhe do carro da Portela que representa a viagem dos judeus do Brasil para Nova Amsterdã – mais tarde chamada de Nova York –, nos Estados UnidosCristina Índio do Brasil/ Agência Brasil Anos depois, com a retomada das terras pelos portugueses, novamente os judeus tiveram que sair: parte foi para a Holanda, uns para o Caribe e outros buscaram um destino mais longe, foram para a região da Nova Amsterdã, que mais tarde passou a se chamar Nova York. “O enredo tem uma parte que é no Recife, que é o Recife holandês, tem uma parte que é a viagem – quando são expulsos – e tem uma parte quando eles chegam para fundar outra colônia em Nova York, que era também um empório da Companhia das Índias”, adiantou. Alegorias marcantes foram realizadas pela carnavalesca para contar essa história. A da cidade nordestina é representada pelas casas coloridas do centro histórico, onde foi inaugurada a Kahal Zur Israel, primeira sinagoga das Américas. A parte da viagem vem representada por uma enorme embarcação, com detalhes de piratas, para lembrar que os judeus sofreram ataques durante o trajeto. A cidade de Nova York vem caracterizada com um símbolo da cidade que é a Estátua da Liberdade. Esta reportagem é parte da série que a Agência Brasil publica, até o carnaval, sobre os preparativos para os desfiles das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro. Confira as demais matérias. Títulos Saiba Mais
A carnavalesca, que coleciona sete campeonatos – o primeiro no Império Serrano, cinco na Imperatriz Leopoldinense e o último na Vila Isabel –, voltou este ano à Portela, onde já tinha elaborado fantasias em carnavais passados. De início, a escola tinha outro enredo, não revelado por ela. Foi necessário fazer uma negociação com a diretoria para a escolha. “O ideal é já se organizar, mas, em princípio, você não sabe quais são as propostas que vai receber. Tudo é complexo”, contou Rosa Magalhães, acrescentando que, depois de conseguir a aprovação, pôde desenvolver tudo da maneira como tinha programado para apresentar no desfile. A carnavalesca Rosa Magalhães trabalhando no barracão da PortelaCristina Índio do Brasil/Agência Brasil Além disso, as restrições orçamentárias impactaram o andamento dos trabalhos. O enredo de 2018 não contou com patrocínio privado e os recursos municipais foram reduzidos à metade. Em compensação, os componentes da escola vão para a passarela com o que têm de melhor e com a expectativa de serem campeões novamente. No ano passado, a Portela dividiu o título com a Mocidade Independente de Padre Miguel, da zona oeste, mas agora, quer exclusividade no campeonato. “O componente da Portela é muito decidido. Ele quer ganhar de qualquer modo", contou Rosa. Orgulho de fazer parte No barracão da escola, o clima é de animação. Elizabeth Sá de Oliveira, a Beth, é auxiliar pelo quarto ano consecutivo do almoxarifado do barracão, onde são guardados os materiais usados para a elaboração de fantasias e dos carros alegóricos. A todo momento, chegam profissionais fazendo os seus pedidos. O controle da saída de tudo tem que ser rígido para evitar desperdícios e deixar tudo dentro do orçamento. “Julgo o nosso trabalho como bastante importante porque recebemos, armazenamos e distribuímos o material que precisam para a confecção do carnaval. A demanda aumenta conforme vai chegando o carnaval”, contou Beth, relatando que às vezes tem precisado fazer horas-extras. Como portelense, a auxiliar do almoxarifado considera gratificante poder acompanhar a preparação do que a escola levará para a Sapucaí. “Quando chega na avenida, a emoção é imensa, porque você percebe que fez parte daquilo ali. Tá lindo? Tá sendo elogiado? É motivo de muito orgulho”, disse Beth, sorridente. No dia do desfile, além de participar, ela ajuda os componentes a subir em um dos carros alegóricos na concentração. Velha Guarda Rosa Magalhães revelou um cuidado particular da tradicional escola com a prestigiada Velha Guarda da Portela. O figurino dos componentes da ala de veteranos da escola já foi entregue. “Graças a Deus está pronta com tudo. Não está me deixando nervosa”. Para prestigiá-los, Rosa ainda reservou lugar especial no Abre Alas, primeiro carro alegórico a entrar na avenida, para integrantes da Velha Guarda, entre eles Vilma, ex-porta bandeira da escola, o compositor e cantor Monarco e a Tia Surica, cantora e umas das principais Yabás –cozinheiras da famosa feijoada da Portela e de outras comidas populares. “Acho que são pessoas importantes dentro da escola. Tem que tirar o chapéu para este pessoal. São pessoas que batalharam e trabalharam muito pela escola também”, contou. Edição: Lidia Neves Portela lembra na avenida os imigrantes judeus que se instalaram no Recife
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