23-01-2018Peripécias de suposto rei do Paraguai e imperador de São Paulo ganha primeira tradução para o português_____________________________________ História do espanhol que, após inúmeros golpes, teria entrado para a Companhia de Jesus, vindo para a América e se tornado rei dos mamelucos, chega à Coleção Pequenos Frascos
Um livro anônimo, publicado em 1756 na Europa, virou sensação à época: o texto obscuro, tido por verdadeiro, conta a história de Nicolas, um trapaceiro espanhol que, depois de tantos golpes e falcatruas, vê-se obrigado a deixar a terra natal e embarca como padre na Companhia de Jesus rumo ao Novo Mundo, onde chega a ser rei do Paraguai e imperador dos mamelucos. A história de Nicolas I, Rei do Paraguai e Imperador dos Mamelucos ganha sua primeira versão em português, lançamento da Editora Unesp. “De suas origens modestas na Espanha, Nicolas seguiu os passos de tantos outros personagens da literatura popular da época”, anota a tradutora Fernanda Veríssimo, que também assina o posfácio. “Viveu todas as peripécias e cometeu todas as trapaças de um pequeno bandido de folhetim: roubou pai e mãe, viveu do jogo, fez-se de crente para seduzir viúvas beatas, roubou nas estradas, entrou para a Companhia de Jesus para fugir da polícia, teve vida dupla como padre e marido de uma jovem inocente e, finalmente, viu-se obrigado a deixar a Espanha para evitar a cadeia ou o cadafalso. Junto com missionários jesuítas, partiu para Buenos Aires, e foi ali que começou a tramar seus funestos desígnios.” O livro, que chegou a ser comentado pelo filósofo Voltaire e publicado em quatro idiomas à época, provou-se falso. “Nicolas I era de fato famoso, e muitos leitores, inclusive o próprio Voltaire, consideram-no por algum tempo verdadeiro. O livreto, anônimo e mal escrito, traz algumas das grandes questões da época, num cenário que já fazia parte da imaginação coletiva europeia: a América dos conquistadores, dos jesuítas e dos conflitos entre portugueses e espanhóis.” Por conta disso, a todo o momento, o leitor é levado a crer que a história ali contada é mais do que verdade, dado seu refinamento em referências históricas, nomes completos e riqueza de detalhes extraídos de outras obras. “Na Ilha de São Gabriel, ou Colônia de Sacramento, liderou alguns índios em revolta e expulsou portugueses e jesuítas da cidade”, escreve Fernanda. “Gostou do papel de comandante e viu seu exército aumentar com todo o tipo de selvagens, guaranis e europeus, presentes na região. Com a reputação de monstro consolidada por mais alguns massacres, Nicolas atraiu a atenção dos brasileiros de Piratininga, ou São Paulo, que o convidaram para ser seu imperador.” Com a autoria cercada de mistérios, o livreto traz linguagem encantadora e uma prosa magnética. “Independentemente de sua veracidade, o sucesso do livro talvez se deva à junção de dois gêneros populares naquele período: as narrativas de aventureiros viajantes e os ataques aos jesuítas, tendo em Nicolas um personagem de trajetória reconhecível – a do aventureiro que passa pela vida eclesial antes de se lançar às mais incríveis façanhas.” Mais um título que faz jus à Coleção Pequenos Frascos, que reúne textos curtos, leves, voltados ao prazer da leitura. Título: A história de Nicolas I, Rei do Paraguai e Imperador dos Mamelucos: seguido de Últimas notícias vindas do Paraguai |