18-03-2019QUEM SÃO OS MUÇULMANOS QUE VIVEM EM PORTUGAL?
Remonta aos começos do século VIII a presença muçulmana na Península Ibérica, altura em que sob o comando do general omíada Tariq ibn Ziyad, os exércitos berberes provenientes do norte de África levaram de vencida Rodrigo, o último rei dos visigodos, na batalha de Guadalete, dando início a uma ocupação que durou mais de cinco séculos. Desde então e apesar da Reconquista Cristã, os muçulmanos viveram sempre entre nós, acabando com o tempo culturalmente assimilados pela sociedade portuguesa à semelhança do que se verificou com outras comunidades. Em Lisboa, o bairro da Mouraria constitui uma das marcas mais salientes da sua presença, aliás à semelhança do que se Calcula-se atualmente em cerca de 50 mil, o número de muçulmanos que vivem em Portugal, na sua maioria originários dos antigos territórios ultramarinos da Guiné-Bissau e de Moçambique, aos quais nos últimos anos vieram juntar-se muitos imigrantes sobretudo de origem paquistanesa mas também do Bangladesh, Senegal, Tunísia e Argélia. No que respeita às ramificações do Islão, rondam os 80% de sunitas, 15% de xiitas e 2% de wahabitas, estes últimos considerados mais ortodoxos e tendo na Arábia Saudita a sua maior influência. Apesar de disporem na capital da chamada Mesquita Central de Lisboa, têm vindo nos últimos anos a serem abertos nos concelhos ao redor de Lisboa, mormente na margem sul do rio Tejo, novas mesquitas e outros locais de culto em virtude de grande parte dos muçulmanos viverem nos bairros da periferia. O mesmo vem sucedendo no Porto e outras cidades do país para onde a crise económica levou muitos imigrantes. Ao contrário do que sucede com outros países europeus, o respeito pelas diferenças religiosas tem possibilitado uma saudável convivência entre pessoas que partilham diferentes religiões. A comprová-lo, registe-se o facto de jamais ter ocorrido até ao momento qualquer incidente em Portugal originado por motivos religiosos, o que se espera que continue a verificar-se.. Contribuirão em primeiro lugar para esta convivência pacífica, entre outros fatores, a sensatez das próprias pessoas que seguem os diferentes credos religiosos, a começar pelos seus próprios dirigentes. Mas também o bom senso da comunicação social em Portugal que não confunde liberdade religiosa com provocações gratuitas que possam eventualmente serem entendidas pelos visados como ofensivas das suas próprias convicções e ainda o caráter que, sobretudo desde as navegações dos Descobrimentos, os portugueses moldaram ao longo de séculos de convivência com outros povos de diferentes culturas. Quem alguma vez teve a oportunidade de assistir às comemorações que as associações de antigos combatentes no Ultramar levam anualmente a efeito em Lisboa, por ocasião do Dia de Portugal, não foi sem alguma emoção que constatou a presença nas cerimónias de um número significativo de muçulmanos de origem africana, acompanhados das respetivas famílias, exibindo orgulhosamente a boina e outros distintivos que os distinguem como ex-militares que um dia combateram sob a bandeira de Portugal e como portugueses continuam a identificar-se. Trata-se de pessoas em relação às quais não teremos razões para recear, pese embora as suas crenças religiosas e o facto de serem habituais frequentadores da mesquita… A adesão à União Europeia tem nos últimos tempos criado uma certa tendência para compararmo-nos a outros países europeus com diferentes maneiras de encarar os problemas e relacionar-se com gentes de outras culturas. Trata-se de uma comparação que só pode construir uma visão errada da nossa realidade e acabar por criar problemas onde eles nem sequer existem. Até ao presente, não existem motivos para temer a comunidade muçulmana que vive entre nós, grande parte da qual constituída por cidadãos portugueses. Da mesma forma que os portugueses têm sabido respeitar as suas convicções religiosas sem colocar em causa a sua própria liberdade de expressão, princípio que é válido em relação a todas as crenças religiosas ou convicções políticas.
Carlos Gomes
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