08-12-2017Tesouros que contam a história do império português entre o século XVI e XVIII podem ser vistos em Moscovo.Kremlin - Conta uma história da globalização a partir de Portugal
1 / 2
Tesouros que contam a história do império português entre o século XVI e XVIII podem ser vistos em Moscovo.
É a primeira exposição que se faz na Rússia num dos grandes museus dedicada à história e cultura do primeiro império colonial da época moderna. O objetivo deles é esse e mostrar o controlo militar e político português, afirma António Filipe Pimentel, diretor do Museu Nacional de Arte Antiga, sobre a mostra dedicada aos tesouros portugueses dos séculos XVI a XVIII, que a partir de hoje se pode ver nos Museus do Kremlin, em Moscovo.
Focamo-nos na história e cultura de Portugal como um grande império colonial, com um papel crucial na história do mundo, explica Elena Gagarina, a diretora dos Museus do Kremlin, citada pela instituição, a propósito de Senhores do Oceano -Tesouros do Império Português do Século XVI ao XVIII. É inegável que a metrópole mudou a paisagem religiosa e cultural das colónias, mas é nosso objetivo demonstrar que o processo foi mútuo, acrescenta. As Descobertas são uma idade de ouro para Lisboa, a cidade onde tudo se passa, onde confluem materiais exóticos e luxuosos, que vieram a fazer parte dos primeiros gabinetes de curiosidades da Europa, geralmente nas casas mais ricas e influentes. São eles o princípio dos tesouros das casas reais europeias. Alguns deles pertenciam, por exemplo, ao czares russos e terão destaque na exposição, detalha a instituição. Um desses objetos é um nautilus, do século XVII, de Goa. A influência cultural é uma estrada de dois sentidos, defendem os Museus de Moscovo. A exposição demonstrará que peças criadas em diferentes continentes foram influenciadas por portugueses e europeus, mas não só. Combina-se a influência europeia com a Ásia, África e o Novo Mundo. Exemplos disso é a chamada arte exportada. Objetos de prata, madeira, marfim, bronze de diferentes geografias do império colonial para consumo na Europa. Alguns destes objetos demonstram ainda a emergência de motivos decorativos europeus no desenho tradicional fora da Europa. Veja-se, por exemplo, o biombo japonês datado do século XVII que pertence ao Museu Victoria & Albert, em Londres.
Os visitantes terão oportunidade de ver cerca de 140 obras primas de museus europeus e russos, que demonstram a magnificência da corte portuguesa durante a expansão global do império, diz a instituição, em comunicado, sobre a exposição, que pode ser vista até 25 de fevereiro no Palácio do Patriarcado. O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), constata Pimentel em declarações ao DN, é o principal emprestador nacional, dada o número de peças da época a que se dedica a exposição. Das 69 peças de Portugal que seguiram viagem para a capital russa, algumas classificadas de tesouros nacionais, 35 saíram das Janelas Verdes. Joias, marfins, ourivesaria, cerâmica, contadores, caixas, o retrato do vice-rei [da Índia] Afonso de Albuquerque, o [retrato] dito de Vasco da Gama e o retrato de uma senhora de vermelho. E, ainda, um fragmento de texto indiano que representa os portugueses no Índico. À lista de empréstimos de Portugal soma-se um paramento chinês, um cofre de Namban, um relicário proveniente de Macau e peças da capela de São Roque, um biombo chinês e um colar e brincos da Casa-Museu Medeiros e Almeida, um globo do Palácio Nacional de Sintra e o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 por Portugal e Espanha, que se encontra na Torre do Tombo. Há também peças do Museu Britânico e do Victoria & Albert, em Londres, do Hermitage, em S. Petersburgo, bem como peças das coleções dos czares, agora no acervos dos museus do Kremlin. Ontem, em Moscovo, na inauguração da exposição, o ministro da Cultura afirmou que o Império Marítimo Português inaugurou a Era da Economia-Mundo e deu início à primeira etapa do que chamamos hoje Globalização. Esta exposição não só mostra a construção do Império Marítimo Português e a sua importância para a História do Mundo como documenta extensamente o impacto da chegada dos portugueses, portadores de uma Cultura Europeia, contornando a África, às longínquas paragens da Índia, da China e do Japão ou do Brasil, e, principalmente, o diálogo cultural que se estabeleceu com as culturas locais através de magníficas obras de arte que espelham a riqueza do encontro de materiais, de técnicas e de temas em que se fundem e misturam conceitos ocidentais e das civilizações contactadas, afirmou Castro Mendes. A exposição divide-se em duas secções. A primeira mostra a Cultura e História de Portugal, com o foco na corte, na Igreja, no poderio naval, exibindo retratos de exploradores que desempenharam um papel importante nos Descobrimentos. Há também peças do período manuelino - designado pelos russos como um estilo de arquitetura ornamental único de Portugal, combinando gótico, mourisco, renascentista e motivos exóticos influenciados pelas viagens marítimas. Um segundo núcleo apresenta peças criadas em diferentes países sob a influência da cultura portuguesa. Com Lusa
Kremlin conta uma história da globalização a partir de Portugal
|