15-03-2001Caravela Por Luís Carlos SantosOs Descobrimentos Portugueses foram pensados e arquitectados no seio da Ordem de Cristo, a tal criada por D.Dinis, e que também instituiu a Língua Portuguesa como Língua oficial do país. A Língua Portuguesa que há muito deixou de ser propriedade exclusiva de Portugal como muito bem sabemos. Parafraseando Caetano Veloso, "...Gosto de sentir a minha língua roçar a Língua de Luís de Camões..." - que frase gostosa, não é? As bandeiras das caravelas que partiram para além mar, então abrindo novos caminhos ao mundo, era o símbolo da Ordem de Cristo que levavam. Aliás, o Grande Arquitecto desta grandiosa Empresa, o Infante D. Henrique, era o Grão-Mestre da Ordem. Longe de ser uma empresa exclusivamente economicista, onde o que era mais importante, era o ouro, o acúcar, a canela, a pimenta, ou outros géneros miúdos, que, sem dúvida, tanta importância têm na nossa vida do dia a dia, o que levavam os Portugueses era, sobretudo, a palavra de Emanuel Jesus, que tão à frente estava deste espírito "da compra e da venda das pernas", que tanto caracteriza os dias de hoje. Destroçaram-se famílias na África Negra e usurpou-se bens e território aos índios sul-americanos, e continua a usurpar-se. É verdade! Não há que ocultar e quem tiver que assumir as responsabilidades que o faça. Talvez o Presidente Português o devesse ter reconhecido no primeiro dia das comemorações do Achamento do Brasil. Enfim, quando a consciência do povo brasileira se elevar, com certeza, que tudo ficará mais claro. Como diz Agostinho da Silva no seu livrinho O Sábio Confúncio, "...um povo escravizado é efectivamente um povo de escravos; se não tivessem alma de escravos, os homens jamais consentiriam tiranos...". Agora, não há que confundir "a floresta com algumas árvores". Os Portugueses da Idade Média, a falarem a Língua Portuguesa (e reafirmo-o porque talvez assim valorizemos mais a Língua que falamos, em vez de a andarmos levianamente a trocá-la, por tudo que é sítio, pela anglo-saxónica), transportavam valores mais altos do que simplesmente carregar as matérias primas que fossem encontrando. E esse espírito da Idade Média em Portugal, pelo menos em termos de ideal, estava muito à frente dos valores que vão norteando esta economia do mercado, esta sim absolutamente materialista, e não como dizem os especialistas que não percebem de mais nada a não ser da importância da sua conta bancária, que o Espírito Português dos Descobrimentos era só isso de explorar e maltratar. Esse Espírito Português da Idade Média, embora tenha atravessado um tempo de grande letargia, está bem vivo. E não só aqui em Portugal, como no Brasil, e em várias comunidades de Língua Portuguesa espalhadas pelo mundo. A CPLP (Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa) é, de alguma forma, o renascer desse espírito em força. Sem dúvida que está a Comunidade um pouco amesquinhada pelas limitações dos políticos, mas agora como a sociedade civil que somos nós está a criar a CPLP dos pequeninos são novas esperanças justificadas que se reabrem. luiscrs@mail.telepac.pt |