07-10-2017Exilados-a pena de degredo José AraújoExiladosA pena de degredo – exílio involuntário com aproveitamento da mão-de-obra do degredado – foi aplicada em Portugal durante sete séculos até ser abolida do Código Criminal português em 1954. Aqueles que cometiam atos considerados ofensivos à Coroa ou à Igreja eram frequentemente obrigados ao exílio nas colônias, onde eram forçosamente integrados à economia local. Mas houve também aqueles que recorreram ao exílio voluntário para salvar a própria pele.
Foi isso o que ocorreu, na primeira metade do século XIX, durante o conflito que pôs em lados opostos os irmãos d. Pedro, defensor da constituição liberal, e d. Miguel, defensor do absolutismo. Centenas de liberalistas fugiram dos expurgos e perseguições dos partidários de d. Miguel em busca de refúgio na Inglaterra. Mas o que encontraram lá não foi exatamente o apoio esperado à causa liberalista, como sugere o trecho citado abaixo, ao qual acrescento meus destaques.
O tal “bando maltrapido” era em Portugal acusado de defender uma monarquia regida por uma constituição liberal – a de 1822 -, que trazia a independência entre os poderes, a igualdade entre os cidadãos e retirava os privilégios da nobreza e do clero – um conjunto que em nada agradava a d. Miguel, então usurpador do trono que seria por direito de sua sobrinha d. Maria II, filha de d. Pedro I(V), após a renúncia deste. A fuga de Portugal, como sugere a passagem inicial, não trouxe paz aos exilados, pois a terra que os acolheu não parece tê-los acolhido. Na verdade, lá eles encontraram mais sofrimento e injustiça, em parte por culpa de seus conterrâneos de estirpe mais elevada, como sugere o trecho seguinte, ao qual também acrescento meus destaques.
Pedro de Sousa Holstein – marquês de Palmela (1781-1850) A responsabilidade pelo tratamento nada igualitário dado à maioria dos exilados recaiu, portanto, sobre Palmela e Cândido José Xavier. Sobre este último, a propósito, a acusação de haver colaborado, como membro da Maçonaria, com o exército invasor de Napoleão encontra eco na obra de Manuel Borges Grainha, segundo o qual, ao chegar a Sacavém, o general francês “Junot foi recebido e saudado com a maior deferência por todos”, e uma “deputação maçónica […] apresentou-lhes as suas saudações no Quartel Mestre General e pediu-lhe que protegesse a Maçonaria”. Na obra de Victorino Nemésio, também se ressaltam as condições de insalubridade em que se encontravam os acadêmicos, muitos dos quais, antes de chegar à Inglaterra, provavelmente haviam sido demitidos de seus cargos universitários e até tido seus bens sequestrados pela Junta Expurgatória. O seguinte trecho da obra citada aborda a situação deles.
E o trecho seguinte, enfim, faz o contraste entre a penúria dos acadêmicos e o conforto experimentado pelos líderes do grupo de exilados e seus amigos.
A crítica mais feroz à política segregacionista de Palmela no exílio, no entanto, foi feita em um texto de Almeida Garrett. Intitulado Carta de M. Cévola, offerecida à contemplação da Rainha, a senhora Dona Maria segunda, esse texto de oito páginas, publicado sob o nome usado por seu autor na Maçonaria, teria sido distribuído em 500 exemplares. Um trecho dessa carta que nomeia os culpados pela infeliz condição dos exilados pode ser lido abaixo, com meus destaques.
A Carta de M. Cévola pode ser encontrada no Pelourinho, periódico clandestino editado entre 1831 e 1832 por José Pinto Rebello de Carvalho, primo de minha trisavó e certamente um membro do já citado “bando maltrapido”, quando ainda estava exilado na Inglaterra ou já na França – o local ainda é motivo de polêmica entre os estudiosos. Considerado o mais violento da facção liberal, esse periódico fazia oposição a Pedro I(V) por ter dado aos portugueses uma Carta liberal de caráter demasiadamente moderado. Pelourinho – Ed. José Pinto Rebello de Carvalho Não obstante o sofrimento e as humilhações por que passaram, muitos dos liberais exilados retornaram a Portugal após a vitória de d. Pedro contra os exércitos de d. Miguel. Alguns deles inclusive para cargos políticos, como ocorreu com meu primo distante. José Araújo é linguista e genealogista amador.
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