Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


18-09-2017

Paula Rego: O meu mundo parece fantástico de fora, mas para mim não é fantasia


Em entrevista exclusiva, aquela que é a maior embaixadora da arte contemporânea portuguesa, fala do seu trabalho e da exposição “O Mundo Fantástico de Paula Rego”, patente na Praça Central do Centro Colombo até 27 de setembro

A viver em Londres desde os 17 anos, mas mantendo sempre uma relação de enorme proximidade com Portugal, Paula Rego nunca visitou o Centro Colombo. Mas não esconde a felicidade em ver o seu trabalho neste espaço e a surpresa em relação ao número de pessoas que já visitaram a exposição “O Mundo Fantástico de Paula Rego”. “Era bom que todos tivessem acesso a arte sem terem de pagar”, diz. Aos 82 anos, a protagonista da 7ª edição de “A Arte Chegou ao Colombo” continua a trabalhar quase diariamente e prepara uma nova exposição. Mas não revela pormenores, apenas que é o mar que lhe serve de inspiração.

 

Normalmente a casa das artes é o museu, mas neste caso tem uma grande exposição num espaço comercial. O que significa, para si, ter uma exposição como esta na Praça Central do Centro Colombo?

É uma oportunidade para que mais gente veja os meus quadros. Talvez, depois de visitarem esta exposição, até possam querer conhecer ainda mais obras e apanhem um comboio até Cascais para visitar a Casa da Histórias Paula Rego. Por acaso nunca visitei o Centro Colombo, mas é bom ser um espaço onde há muita gente para visitar a exposição. É um espaço onde também há pessoas que não vão aos museus ou às galerias de arte e assim podem ver uma exposição. Era bom que todos tivessem acesso a arte sem terem de pagar, porque a arte faz parte do património nacional.

 

Expor os seus trabalhos num centro comercial representou um desafio acrescido?

Não. A curadora Catarina Alfaro é que compôs a exposição. O meu trabalho já estava feito.

 

A que se deve o nome “O Mundo Fantástico de Paula Rego”?

O título está bem selecionado para esta exposição, mas mais uma vez não fui eu que o escolhi. O meu mundo parece fantástico de fora, mas para mim não é fantasia, não é tão fantástico como isso.

 

O que diria às pessoas que já visitaram esta exposição, em jeito de explicação daquilo que a move enquanto artista?

A explicação está nos quadros. A mensagem está na parede, é o assunto das histórias. Só desejo que o público goste.

 

Nesta exposição está exposto “A Fada Azul Conta um Segredo ao Pinóquio”, um quadro que não era exposto em Portugal há 20 anos. Sente-se confortável com a ideia de alguns quadros seus estarem assim tanto tempo longe do olhar do público ou preferia ter toda a sua obra exposta publicamente?

Não é possível expor tudo ao mesmo tempo. Mas é muito importante que os donos das obras as emprestem, quando necessário, para que possam ser vistas. Assim, toda a gente, rico ou pobre, pode ver as obras. Em relação a este quadro em específico… mostra um segredo muito grande que acaba por assustar o Pinóquio. Gosto muito desta obra.

 

Que outras obras destaca desta nesta exposição?

Cada pessoa tem o seu gosto, é impossível saber do que é que o público vai gostar mais…. Mas as que eu gostei mais de fazer foram as litografias da série Jane Eyre.

 

A mostra já teve cerca de 200 mil visitantes. Estava à espera desta enchente?

Não, nem por sombras!

 

Ao longo da sua carreira, se tivesse que escolher seis quadros seus que mais a marcaram, quais seriam? E porquê?

“Os Cães de Barcelona” porque é uma história muito importante, que tem a ver com o fascismo e com a traição. “O Macaco Vermelho Bate na Mulher” porque foi inspirado por uma história que o meu marido me contou e tem uma técnica muito direta. “O Pillowman” porque é inspirado pela peça de um grande escritor, Martin McDonagh, que me comoveu muito. A primeira obra da série “Mulher Cão” porque tem a ver com o meu marido e foi também quando comecei a trabalhar com pastel. Para terminar, diria o “Anjo”, que pode ser visto na Casa das Histórias, e representa a vingança e a ternura; e ainda o casamento da série “O Último Rei de Portugal”, porque tem a ver com o meu avô e envolve a Ericeira, onde D. Manuel II embarcou para o exílio.

 

Sabemos que está a trabalhar em novas peças. Para quando a próxima exposição? E o que pode revelar acerca dessa mostra?

Não sei… e não digo!

 

Mas pode dizer o que mais a inspira neste momento da sua vida?

Posso, o mar.

 

 

 

 

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