Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


27-08-2008

Mais cartas inéditas de Euclides - Olívia G Arruda


gte mso 9]> Normal 0 21 false false false MicrosoftInternetExplorer4 gte mso 9]> gte mso 10]>

MAIS CARTAS INÉDITAS DE EUCLIDES                                     

 

Maria Olívia G. R. Arruda (Brasil)

 

 

O pesquisador Felipe Rissato, de Belém do Pará, fez a gentileza de me enviar mais cinco cartas de Euclides, encontradas por ele durante as pesquisas iconográficas que faz há algum tempo. Nenhuma dessas correspondências consta no livro publicado pela professora Walnice Galvão e dr. Galotti, que reúne as cartas de Euclides. Conforme Felipe, ainda há mais oito cartas que ele não conseguiu copiar: 3 no acervo da Biblioteca Nacional e mais 5 no acervo da ABL.

Uma dessas cartas foi enviada ao pesquisador por Paulo Rosenbaum, proprietário da Fólio Livraria, onde ela foi leiloada no ano passado.

Publico, então, a seguir, o artigo escrito por Felipe Rissato:

 

“Novidades na Correspondência Euclidiana”

 

            “Com o lançamento de “Correspondência de Euclides da Cunha”, organizado pelo euclidiano Dr. Oswaldo Galotti e a professora de Teoria Literária da USP, Walnice Nogueira Galvão, em 1997, houve, felizmente, uma enorme consolidação da correspondência pessoal do escritor, abrangendo 398 cartas, sendo 107 inéditas até então.

            Dez anos se passaram, e neste intervalo, pouco mais de uma dezena de novas cartas foram encontradas, algumas inéditas, outras não, e que, com efeito, somam ainda mais ao extenso epistolário euclidiano.

            Uma curiosidade: a maioria destas novas cartas foi enviada a destinatários também não incluídos no livro referido.

            Transcrevemos cinco destas missivas, sendo uma delas até hoje inédita:

 

A José Veríssimo:

 

“Lorena, 24-12-1901

 

Exmo. Sr. José Veríssimo,

 

Saúdo-o e a toda família. Ao chegar aqui, fui obrigado a partir logo em comissão urgente até aos Campos do Jordão. Daí a demora em lhe agradecer a grande gentileza com que aí me acolheu e o eficaz amparo que deu à minha pretensão. Esta foi, afinal, satisfeita: contratei, embora em condições pouco vantajosas, a impressão dos “Sertões”, com Laemmert; devendo, por uma das cláusulas, estar pronto e entregue a publicidade, o livro, em fins de abril do ano vindouro. Está, assim, satisfeita uma aspiração que significa apenas o intuito de dizer a verdade sobre uma fase, ainda [ilegível], da nossa história. Repito: não me preocupo com o destino literário daquele livro que é, afinal, um desgarrão na rota da minha engenharia rude; ele tem o mérito único da sinceridade; é o depoimento de uma testemunha e terá extraordinário valor se conseguir fornecer a futuros historiadores uma página única - mas verídica e clara.

 

Terminando, peço que acredite na mais elevada consideração de que é seu

 

Patrício e admirador

 

Euclides da Cunha”

 

(Publicada originalmente na Folha de São Paulo, 01/12/2002 – Inédito / Carta de Euclides da Cunha a José Veríssimo – por Walnice Nogueira Galvão).

 

***

 

A Ernesto Senna:

 

“Lorena, 5-1-902. — Meu caro Coronel Ernesto Senna. — Saúdo-o, desejando-lhe felicidades. Não me esqueci da promessa que lhe fiz: mandar alguns artigos para o Jornal. Farei isto, breve, desde que resolva os trabalhos mais urgentes da minha engenharia fatigante. Não se esqueça de lembrar ao Dr. Araripe Júnior o artigo espontaneamente prometido sobre os “Sertões”. Leio todos os dias o Jornal, esperando encontrá-lo. Sem mais, disponha sempre com franqueza do patrício e admirador — Euclydes da Cunha.”

 

*

 

“Lorena, 1-3-902. — Meu caro amigo E. Senna. — Saúdo-o. Recebi o seu cartão. Obrigado. Pedindo para apressar a inserção do artigo do Dr. Araripe, faço-o porque escreven

do o prefácio da 2ª edição, que se está imprimindo, dos “Sertões”, é preciso aditar-lhe a opinião daquele nosso distintíssimo compatriota. Creia sempre no amigo e admirador — Euclydes da Cunha.”

 

(Publicadas originalmente no Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 25/12/1913 – Euclydes da Cunha – por Ernesto Senna). Salvo provável engano de Euclides quando escreveu as cartas, o ano “1902” está grafado errado, visto que o tema de ambas as cartas é a apreciação de Araripe Júnior, em artigo, sobre “Os Sertões”, que por sua vez só foi lançado em dezembro de 1902, portanto, o ano correto das cartas é 1903. Ambos autógrafos encontram-se no acervo da Biblioteca Nacional.

 

***

 

A César Lacerda de Vergueiro:

 

“César Lacerda de Vergueiro

Centro Acadêmico Onze de Agosto

Rua 15 de Novembro 54 (2º Andar)

S. Paulo

 

Rio – 27-11-1907

 

Ilmo. Sr. Dr. César de Lacerda Vergueiro,

confirmando o meu telegrama anterior, comunico que partirei daqui no próximo domingo, 1º de Dezembro, pelo noturno, realizando-se a nossa conferência no dia 2, à noite. Renovo comunicação apenas por temer que se tenha extraviado o telegrama. O assunto é – conforme também já mandei dizer “Castro Alves e o seu tempo”.

Com a mais elevada consideração e estima, sou seu compatriota atº amº obrdº

Euclydes da Cunha

 

R. Humaytá 61.”

 

(Carta inédita. Leiloada em outubro de 2006 pela Fólio Livraria, de São Paulo, à coleção particular).

 

***

 

A Assis Brasil:

 

“Rio, 3-11-908. – Exmo. Sr. Dr. Assis Brasil. – Saúdo-o e à Exma. família. – Conforme prometi, prolongo por escrito, a rápida troca de idéias que tivemos a propósito de sua eleição para a Academia Brasileira. Compreendo e avalio a sua justificada relutância, mas julgo que o senhor não a terá ante uma sincera manifestação de simpatia e apreço, capaz de corrigir os incidentes passados. Ora, esta simpatia, intensa e desinteressada, existe. Notei-o, com a mais viva satisfação; e demonstro isto com a simples exposição do que ocorreu.

O primeiro confrade que encontrei foi Graça Aranha, na Sec. do Exterior. Relatei-lhe o nosso encontro; disse-lhe os escrúpulos que o senhor tão francamente me patenteou; e perguntei-lhe o que pensava a respeito da questão. A resposta não me surpreendeu: G. Aranha não só concordou como se propôs lutar também por uma candidatura que triunfará.

Assim, demos juntos os primeiros passos e creio que ainda não houve mais felizes propagandistas. Não encontramos uma só opinião titubeante. Em pouco tempo - num dia - contamos com estes votos seguros: R. Branco, Domício, Aranha, M. Assis, I. de Souza, Araripe, Coelho Netto, Bilac, R. Corrêa, R. Octavio, M. Alencar, H. Graça e eu. Prevemos com a mesma segurança os de J. Nabuco, M. Azeredo, Aluízio e Arthur Azevedo, Veríssimo, Lúcio, Salvador, Silva Ramos, S. Bandeira, Filinto... É o triunfo inevitável. Como vê, ainda não falamos com todos. O meu fim hoje é dar-lhe esta primeira nova e pedir-lhe que me responda. Não estranhe a minha atitude. A data das nossa relações é, certo, mui recente, mas vai para vinte anos que eu, ainda estudante, deletreei a “República Federal” e tem esta longa idade o meu apreço ao pensador tão nobremente devotado ao pensamento político que foi o mais belo ideal da minha mocidade.

Saudando-o afetuosamente subscrevo-me seu patrício e admirador - Euclydes da Cunha.”

 

(Publicada originalmente no Almanaque do Globo, Porto Alegre, 1930 – Em torno de um episódio literário – por André Carrazzoni). Mais uma vez há engano na grafia do ano da carta, que provavelmente é 1907, quando efetivamente Euclides e outros membros da Academia tentam persuadir, em vão, Assis Brasil a aceitar em candidatar-se à cadeira vaga pela morte do barão de Loreto. Ademais, Euclides não poderia citar Machado de Assis e Arthur Azevedo em novembro de 1908, visto que ambos faleceram em outubro daquele ano. Esta carta, à época em que foi publicada, pertencia ao arquivo de Assis Brasil, instalado em Mello, Uruguai.

 

***

 

            Completando, o restante das novas cartas encontradas, ainda não transcritas, é o seguinte:

 

Acervo da Biblioteca Nacional:

 

*A Ernesto Senna, Lorena, 25/10/1903. Cartão ou Telegrama.

*A Pinto da Rocha (Diretor do jornal Gazeta do Commercio). Rio de Janeiro, 04/10/1908. (Publicada na Gazeta do Commercio, Porto Alegre, em 24/10/1908).

*A Araripe Júnior. Rio de Janeiro, 14/07/1909. Telegrama. Cópia manuscrita do Correio.

 

Acervo da Academia Brasileira de Letras:

 

*A José Idalino Antunes da Porciúncula, 10/04/1902.

*A J. Marcos Pereira (Ajudante do 2º Districto), 18/08/1902.

*A Gustavo Massow, 06/06/1903 e 07/06/1903.

*A Max Fleiuss, 05/02/1904.

 

                           Felipe Pereira Rissato – Belém do Pará, fevereiro de 2007.”

 

            Mais uma vez agradecemos a Felipe Rissato por sua valiosa colaboração ao disponibilizar a todos o teor e a cópia desses documentos.