07-08-2018Brasil, país de um futuro assustador - Ferreira Fernandes
Um exagero pode ser uma tempestade num copo de água. A gente bebe e passa. Mas há exageros para tomar a sério. O brasileiro Jair Bolsonaro ser há trinta anos político eleito é um exagero. Ter sido, em 2014, o deputado federal mais votado do estado do Rio de Janeiro é outro exagero. Mas num país onde o macaco Tião, do zoo do Rio, foi, em 1988, o terceiro candidato à prefeitura (câmara) mais votado à frente de muitos (não, ele não concorreu diretamente com Bolsonaro, este estava no patamar inferior, só para vereador), num país, pois, de bizarrices, um político como Bolsonaro podia ser só um inocente exagero. E ele ter frases racistas, pró-ditadura e pró-tortura, e desdizer-se delas, podia ser só um trumpismo precoce, do tempo em que Trump era um artista de real-shows na televisão. Agora, porém, Jair Bolsonaro é candidato presidencial. E está à frente nas sondagens. E com o descrédito e impedimentos judiciais de vários políticos, Bolsonaro arrisca-se a ganhar. Só anunciar essa hipótese, é um exagero. Daqueles, mesmo, de tomar a sério! Mas há mais: ele escolheu para seu vice o general Hamilton Mourão. Bolsonaro foi capitão, Mourão é general - e a ordem nas patentes corresponde à proporção nas convicções. Além de já ter elogiado torturadores do tempo da ditadura, o que pode ser só opinião imoral, o general Mourão já ameaçou mais do que uma vez com "intervenção militar", o que num militar é sempre um facto pendente contra a sociedade. E, eis, a ilação mais importante a tirar desta dupla Bolsonaro-Mourão. O político Jair Bolsonaro passou décadas a criar a ficção que levou o seu exagero, tomado com um encolher de ombros, à hipótese real de ser eleito presidente do Brasil. Ora, aqui chegado, seria de pensar: o que o levou a conluiar-se com um pior do que ele? O que o levou a institucionalizar o seu exagero risível, num exagero temível, e portanto menos capaz de ganhar a eleição? A resposta é tremenda: é que, depois de Trump e com este ar do tempo pelo mundo fora, talvez Bolsonaro e Mourão juntos empolguem mais do que assustam. Brasil, país de um futuro assustador
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