Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


09-08-2017

Barcelos-Os artesãos sem moldes e outras histórias de uma cidade à conquista da UNESCO


   

 Por Mariana Correia Pinto

06.08.2017

Está na corrida à Rede de Cidades Criativas da UNESCO no domínio do artesanato e arte popular. Em Barcelos, há cerca de 150 artesãos — alguns deles jovens em busca de uma nova vida para a tradição. Um roteiro entre muitos possíveis.

Quando, há umas semanas, passou por Lisboa para participar em mais uma feira de artesanato, Júlia Côta arreliou-se com a confusão à volta dela. Queriam dar-lhe beijos, uma palavrinha, ouvir falar a conhecida ceramista de Barcelos. E ela a estranhar o rebuliço: “Vocês vão-me desculpar, mas eu não sou o Cristiano Ronaldo”, disse-lhes. E, do outro lado, a justificação, como quem pede desculpa: tinham-na visto na televisão e ficaram encantados por ser tão genuína. “Eu nem sabia o que era genuína”, conta Júlia, brincos dourados, avental coberto de tinta, genica a contrariar o ano de nascimento.

Júlia Côta não é espectáculo de televisão. Debaixo dos holofotes é o mesmo que se vê fora deles, é aquilo que diz — “E eu só digo o que me vai aqui”, jura, enquanto leva uma mão ao lado esquerdo do peito. Não sabe ler. Das letras consegue desenhar apenas as iniciais do seu nome, com as quais assina as peças que saem da sua casa-atelier em Manhente, freguesia de Barcelos. Na sala de entrada da moradia, numa vitrina de dimensões generosas que um dia um senhor lhe ofereceu, há diabos e diabas, músicos, mochos, juntas de bois, as suas “lindas minhotas”. Gosta de todos. Mas pelas suas bonecas tem um carinho especial. São mulheres de mão na anca, olhar vivo de quem parece capaz de enfrentar o mundo inteiro, toda a palete de cores vestida, mulheres anti-regras e etiquetas, todas elas essência. Como Júlia.

É fácil chegar à casa da barcelense de 81 anos. Uma “placa linda” na Estrada Nacional 205 dá o sinal e, à distancia de uma curva, está a rua baptizada com o nome da artesã, filha de Rosa Côta e neta de Domingos Côto, homem que muitos acreditam ter sido o criador do primeiro galo de Barcelos em barro. Uma viagem pelas artes locais tem passagem obrigatória pelo número 76 daquela via. Mas o roteiro tem dezenas de paragens possíveis — e as oficinas onde se pode comprar directamente aos criadores são quase sempre as casas deles.  

Os artesãos sem moldes e outras histórias de uma cidade à conquista da UNESCO

 

   
 

Os artesãos sem moldes e outras histórias de uma cidade à conquista da U...

Público

Está na corrida à Rede de Cidades Criativas da UNESCO no domínio do artesanato e arte popular. Em Barcelos, há c...

"