Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


09-01-2008

Açorianos no Brasil - História, Memória, Genealogia e Historiografia


Açorianos no Brasil - História, Memória, Genealogia e Historiografia» é o título da obra lançada, em Novembro de 2002 , na 48/a Feira do Livro de Porto Alegre, na Praça da Alfândega. Coordenada pela historiadora Vera Lúcia Maciel Barroso, o livro, que conta com a colaboração de 27 autores e é editado por Frei Rovilio Costa, é o resultado de dois anos de pesquisas.


Dividido em três partes, o livro contempla na primeira parte «O Brasil acolhe os Açorianos», textos de autores de Estados brasileiros que receberam emigrantes açorianos. A segunda parte, «Os Açorianos no Rio Grande do Sul-250 anos», reúne autores reconhecidos e destacados da história do Estado do Rio Grande do Sul, e documentos transcritos do acervo do Arquivo Histórico constituem a terceira parte, intitulada «Açorianos, Proprietários de Terras no Rio Grande do Sul».

«A importância desse trabalho sobre os açorianos é grande porque a historiografia sobre o tema era muito pobre.


«Difundir o conhecimento da presença portuguesa insular entre nós e também o reconhecimento de sua importância nas raízes da nossa gente, a possibilidade de reconstruir elos que até o momento estavam perdidos, entre nós e a terra-mãe lusitana, é o objetivo desse nosso trabalho. Os que ficaram nas ilhas de brumas poderão através desta obra reencontrar os seus, depois de 250 anos, fazendo história na terra brasileira», acrescenta a historiadora.

E aprofundando mais na leitura da obra

Há 250 anos, em 1752, chegavam ao Rio Grande do Sul os casais de número do arquipélago dos Açores para povoarem o espaço do extremo meridional brasileiro, cenário da disputa fronteiriça entre os dois reinos ibéricos na América, especialmente a partir da fundação da Colônia do Sacramento (atual Colônia, no Uruguai), em 1680 pelos portugueses.

Das paradisíacas ilhas atlânticas já haviam partido açorianos, que chegados a Ilha de Santa Catarina (Florianópolis), a contar de 1748, ou a Sacramento anos antes, vinham se deslocando para as cercanias do então Rio Grande de São Pedro.

Desafiados pelos reveses das suas ilhas São Miguel e Santa Maria (orientais), Terceira, São Jorge, Graciosa, Pico e Faial (centrais), Flores e Corvo (ocidentais) partiram muitos, em busca de terra e trabalho. Em palco de guerras intermitentes chegaram para serem soldados e agricultores, após o Tratado de Madrid de 1750, animados pelo Bando Convocatório de 16 de janeiro de 1752 emitido por Gomes Freire de Andrade, governador da Repartição do Sul. Seu destino seria o oeste missioneiro. Entretanto acabaram por se esparramar pelo litoral sul e norte, bem como pelo centro do Rio Grande do Sul, tendo o Rio Jacui e seus afluentes como canais naturais de acesso ao coração da Capitania. Não havia, então, condições de demarcar seus assentamentos e cumprir efetivamente as promessas feitas. Era tempo de guerra. Em meio às tentativas oficiais de situá-los, viram-se forçados a se localizarem por conta própria até que a paz reinasse. Foi somente entre os anos de 1770 e 1800 que os ilhéus tiveram seus registros de terra concedidos em nome do rei português através dos seus governantes.

Eis que a construção desta história, a da fase colonial sulina da qual os açorianos são atores, é um grande desafio, ao contrário das demais etnias presentes no mosaico étnico sul-rio-grandense, que no século XIX chegaram, após a Independência de 1822.A própria documentação gerada pelos órgãos na nascente Capitania portuguesa ao longo dos 1700 foi gestada de tal forma que os pesquisadores têm que realizar uma tarefa do tipo "encontrar agulha no palheiro". Conseqüentemente, o exame da historiografia regional, em estudo, denuncia que a produção do conhecimento acerca dos ilhéus é pequena, tanto é que existem mais perguntas/interrogações do que respostas acerca da dimensão da presença açoriana na formação do Rio Grande do Sul.

Entretanto, passados dois séculos e meio do povoamento açoriano da Capitania, que a contar de 1801 seria de Portugal, definitivamente, tem-se uma certeza em meio aos múltiplos reveses que a eles se impuseram: os ilhéus guerrearam e fizeram a terra produzir. E colheram!

Como partícipes da nossa trajetória ao ensejo das comemorações dos 250 anos do povoamento açoriano do Rio Grande do Sul, esta obra foi projetada para não só consagrar o reconhecimento de sua efetiva participação, como sobretudo ampliar o conhecimento desta história a fim de que se demarque o seu papel singular na construção do espaço social gaúcho. Inclui-se aí o Uruguai – eis São Carlos de Maldonado a testemunhar sua participação no cenário açoriano da América Meridional.

Para a construção desta obra os contatos com historiadores e pesquisadores que vêm nestes últimos dez anos se dedicando a este verdadeiro quebra cabeça da história regional, demonstrava que ricos e inéditos trabalhos vinham sendo produzidos, apontando na direção dos objetivos a que esta publicação se propunha: desvendar a dimensão da presença açoriana no Rio Grande do Sul. Teria outra forma mais significativa de brindar os 250 anos?

O editor deste livro, Frei Rovílio Costa, italiano de raiz e cuja pátria é esta terra, que é a de todos nós sugeriu: - vamos convidar os brasileiros para esta festa? Disse:- veja quais estados receberam também açorianos e vamos com eles juntos publicar Açorianos no Brasil!

Eis que ela aqui está em suas mãos!

Dividida em três partes, reúne na 1ª, trabalhos de pesquisadores/ historiadores ou genealogistas representantes dos estados brasileiros onde foi possível localizá-los. Oriundos da academia ou como pesquisadores independentes comparecem representantes dos estados do Amazonas, Pará, Amapá, Maranhão, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Trata-se de um olhar panorâmico inicial sobre os açorianos no âmbito brasileiro, mas da maior relevância, porque na leitura de muitos, a presença açoriana se limitava ao sul do Brasil.

Os textos da 2ª parte referem-se ao Rio Grande do Sul, não só ampliando o olhar sobre a história regional, como oferecendo dados relevantes para os genealogistas, além da análise da produção historiográfica dos autores que se debruçaram sobre os açorianos no Estado.

Os registros das terras concedidas aos casais de número, inseridos nos três códices F 1229, F1230 e F 1231, os únicos referentes aos açorianos custodiados no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, constituem a 3ª parte desta obra. Sem dúvida, estas fontes documentais permitirão não só o mapeamento da presença açoriana no RS, para a demarcação da sua geografia, como oferecem aos pesquisadores a possibilidade de responderem muitas das indagações que há muito se buscava respostas acerca da dimensão da açorianidade no Rio Grande do Sul.

A grandeza da obra, pela qualidade dos textos e volume, é tributada ao seu editor – Frei Rovílio, um ícone das letras e da história do RS, que juntamente com os autores aceitaram partilhá-la. Aliou-se na causa a diretora do Arquivo Histórico do Estado, Suzana Schunk Brochado que esteve junto desde 2000, quando a FAPERGS aprovou o projeto que possibilitaria através de uma Bolsa de Iniciação Científica, transcrever parcela do seu acervo. Inicialmente atuou Tatiana Lunardelli, seguindo efetivamente o trabalho de transcrição, a bolsista Tatiani de Souza Tassoni.

A beleza das palavras ditas d’além mar nos vêm onduladas e serenas da muito especial amiga Alzira Silva, que com dedicação está à frente da Direção Regional das Comunidades-Açores. Sua mensagem nos é muito grada e reconhecidos todos ficamos por sua generosidade e adesão a este esforço de muitos na causa do encontro das raízes açorianas.

Assim, coletivamente, fruto do trabalho realizado por muitas mãos, aqui está Açorianos no Brasil , que pulsará não só no Rio Grande do Sul e no Brasil, como também nos Açores. Os que ficaram nas ilhas de brumas poderão através desta obra reencontrar os seus, depois de 250 anos, fazendo história na terra brasileira.

Um presente perene, para nunca mais perder os elos que ora se está a reatar!

Parabéns! Parabéns! aos que estão nas duas margens, sucessores dos que vieram ou lá ficaram. Já era tempo, sim, de recompor laços e traçar a sua História.

Véra Lucia Maciel Barroso

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