28-03-2018Na política, só queremos senhores e senhoras - António Moitam 28.03.18
Não foi a primeira vez, e certamente não será a última, que auspiciosas carreiras são aniquiladas publicamente por imprecisões mais ou menos graves nos "curricula vitae"de alguns políticos mais atrevidos. Independentemente da intenção de cada um dos autores de tais falhas, que por si só nos podem revelar um pouco sobre as personagens envolvidas, a verdade é que estamos perante um não problema. Senão vejamos. Os políticos que elegemos deviam ser nossos conhecidos. Votar em quem não se conhece é uma temeridade que pode sair cara. Seria suposto que essa proximidade nos permitisse saber a história de vida daquele em quem iremos confiar. Nestas circunstâncias, a exposição dos candidatos a políticos é enorme e a mentira inadmissível. E quem não se quiser expor o melhor é encontrar outra vida. Diz-nos também a experiência que o sentido de voto não resulta de uma avaliação curricular - designadamente académica - do candidato a político. Quando faço escolhas, quero saber se tenho pela frente gente séria, que se compromete e defende quem o elege, que respeita a coisa pública, que tem capacidade de liderança ou de persuasão, entre tantas outras caraterísticas geradoras de empatia e confiança. É-me relativamente indiferente saber se o candidato a político em que quero confiar é formado em Física, em Engenharia Aeroespacial, em Ciências da Nutrição ou em Artes Plásticas. Claro que esta informação complementar poderá existir, mas não será certamente determinante na minha escolha. Num ambiente social muito marcado pelo sucesso individual é natural que seja conferido especial destaque aos melhores. Por isso é que até existem aqueles que, não o sendo, fazem tudo para o parecer. Se eu estiver doente quero saber quem é o melhor médico disponível. Se eu quiser construir uma casa gostaria de trabalhar com um arquiteto de confiança. Se eu tiver os canos de minha casa entupidos contrato um canalizador. Aqui, ao contrário da política, a formação é muito relevante e é determinante na minha decisão. Deixo assim uma sugestão que nos evitaria a todos muitos dissabores futuros. Acabemos com os doutores na política. Queremos apenas senhores e senhoras. E, já agora, gostaríamos de os conhecer um bocadinho melhor. Jurista
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