28-03-2007Espiritanos portugueses no espaço lusófonoNota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa Espiritanos portugueses Esta comemoração, no dizer do seu Superior Geral, o P. Pierre Schouver, em carta dirigida aos membros da Congregação, tem como objectivo “voltar à inspiração das nossas origens, para a actualizar, respondendo de maneira criativa aos desafios do nosso tempo... Não se trata de “viajar” pelos arquivos da Congregação. Se olhamos o passado, é como uma preparação para uma longa travessia, para nos fazermos ao largo, com a força do Espírito”. A Igreja em Portugal e a própria sociedade portuguesa, que ao longo de mais de cem anos vem beneficiando da riqueza da sua acção, não podem ficar alheias à celebração desta efeméride. Com a presente Nota Pastoral, os Bispos portugueses associam-se ao júbilo e à acção de graças dos Missionários Espiritanos, agradecendo o seu serviço à Igreja, salientando a actualidade do seu carisma e estimulando-os a continuarem a consagrar a sua vida ao anúncio do Evangelho e à promoção humana dos mais desfavorecidos. Cerca de um século e meio mais tarde, o jovem Francisco Maria Libermann, nascido numa família judaica da Alsácia (França) e convertido ao cristianismo com 24 anos de idade, fundou em 1841 a Congregação do Coração de Maria - conhecida por “Obra dos Negros” - que viria a unir à do Espírito Santo em 1848. Tornou-se, deste modo, o segundo Fundador desta Congregação que orientou definitivamente para a primeira evangelização, especialmente no continente africano.
3. O Papa João Paulo II, na mensagem que dirigiu ao Superior Geral dos Espiritanos, a propósito deste centenário, congratulando-se com a obra que a Congregação vem realizando há três séculos, sobretudo no campo da evangelização na África, nas Antilhas e na América do Sul, convida os Espiritanos a “permanecerem fiéis à herança recebida dos seus fundadores, a saber: a atenção aos pobres e a todas as pessoas socialmente necessitadas ou desfavorecidas e o anúncio da Boa Nova de Cristo a todos os homens, de modo particular àqueles que ainda não conhecem a mensagem do Evangelho”. Esta dupla finalidade carismática continua a ser uma urgência para o nosso tempo, pois, como diz João Paulo II na Carta Encíclica Redemptoris Missio, “o número daqueles que não conhecem a Cristo e não fazem parte da Igreja, está em contínuo aumento” (n. 3). Segundo a herança que receberam dos seus Fundadores, os Espiritanos são especialmente consagrados ao Espírito Santo. A sua espiritualidade exprime-se, antes de mais, “no viver em plena docilidade ao Espírito e em deixar-se plasmar interiormente por Ele para se tornarem cada vez mais semelhantes a Cristo” (RM 82). É esta disponibilidade apostólica, de que Libermann tanto falava e de que o Coração de Maria é o modelo mais perfeito, que os mantém sempre nas fronteiras da missão, lá onde as necessidades da Igreja são mais urgentes. - O homem como caminho da missão (cf. João Paulo II, Carta Encíclica Redemptor Hominis, 12). O Venerável Padre Libermann, na sua visão missionária, está particularmente atento ao crescimento da pessoa em todas as suas vertentes e ao apoio familiar e sociológico de que a fé precisa para crescer e se consolidar. As grandes linhas de força do seu projecto missionário serão a escola, a formação profissional e agrícola e o amparo familiar. A missão espiritana será um laboratório onde se formará o homem novo, protagonista da sua própria história. - A missão como encontro de culturas. Libermann recomendava aos seus missionários que se “despojassem da Europa, dos seus costumes, do seu espírito, que se fizessem negros com os negros, para os formar não à maneira da Europa, mas segundo a sua própria identidade cultural” (Carta à comunidade de Dakar e do Gabão, de 19/11/1847). Este diálogo cultural manifestar-se-á sobretudo através do estudo da linguística local, da antropologia e da etnologia, da botânica e da história natural, em que os missionários foram verdadeiramente pioneiros. - A fundação de igrejas locais. O projecto missionário que Libermann apresentou à Santa Sé, em 1846, propunha-se fundar uma igreja local, com um clero e um laicado autóctones, capazes de caminhar por si mesmos. A implantação de uma igreja local implicava a promoção de um conjunto de valores que lhe servissem de suporte permanente: a aprendizagem da língua, a formação de um clero autóctone, a criação de escolas e oficinas, a preparação de líderes e leigos qualificados, a promoção dos valores das culturas locais. Os Espiritanos foram, efectivamente, pioneiros na fundação de seminários diocesanos em terras de missão e no empenho de inculturação do Evangelho, do ecumenismo e diálogo inter-religioso. A partir de 1937, com a fundação da Liga Intensificadora da Acção Missionária (LIAM), foram dos agentes mais activos no despertar do espírito missionário do povo português, sobretudo entre os leigos que, integrados em movimentos e grupos - com destaque para o Movimento Missionário de Professores, os Jovens sem Fronteiras, o Voluntariado Missionário, o Serviço Espiritano de Solidariedade - partilham a espiritualidade e a missão desta Congregação tricentenária. A sua história ficou marcada por figuras que se tornaram pontos de referência para a missão da Igreja, como D. Moisés Alves de Pinho (Arcebispo de Luanda), D. Daniel Gomes Junqueira (Bispo de Nova Lisboa/Huambo), o P. Joaquim Alves Correia (corajoso defensor dos direitos humanos) e D. Agostinho Lopes de Moura (um dos fundadores da LIAM e Bispo de Portalegre e Castelo Branco), sem esquecermos o grande missionário e cientista de renome mundial, P. Carlos Estermann. Ultimamente, os Espiritanos portugueses têm diversificado a sua presença por outros países como Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, Brasil, Paraguai, México, Guiné-Conacri, Taiwan, bem como entre as comunidades portuguesas na diáspora. Em Portugal - país em que se vai realizar, em 2004, o próximo Capítulo Geral da Congregação - a sua presença tem sido particularmente activa na animação missionária, na imprensa, na assistência pastoral aos emigrantes africanos, no âmbito da Justiça e da Paz, na promoção e partilha da renovação da espiritualidade missionária no nosso país. O Episcopado faz votos para que esta Congregação, num dinamismo de fidelidade criativa, dê mais visibilidade à missionariedade da Igreja (cf. João Paulo II, NMI 40-41). O Espírito Santo, que no dia do Pentecostes desceu sobre os Apóstolos, derrame sobre cada um dos membros desta benemérita Congregação, a abundância dos seus dons, para de novo se fazerem ao largo. Fátima, 8 de Maio de 2003. Informação passada pelo Daniel Cunha: oliveiracunha@hotmail.com, 28 Março 2007 http://br.groups.yahoo.com/group/dialogos_lusofonos/ |