Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


11-05-2017

Ibn Mucana e os moinhos de vento


.Ricardo.Esteves

 

"A mais antiga referência aos moinhos de vento na Europa é a do poeta luso-árabe Ibn Mucana de Alcabideche, a maior freguesia do Concelho de Cascais. Transcrevemos a comunicação intitulada “Abú Zaíde Ibne Mucana” de Fausto Amaral de Figueiredo, incluída em “Cascais e seus lugares”, revista de cultura e turismo, nº XX, Fevereiro de 1966, quando da realização do I Simpósio Internacional de Molinologia [estudo dos moinhos tradicionais].

"Ibne Mucana foi, durante a primeira fase da sua existência, uma espécie de poeta palaciano, que deambulou pelas cortes dos Hamídidas, em Málaga, dos Abádidas, em Sevilha e dos Zíridas, em Granada. Na de Málaga, por exemplo, recitou ele ao rei Idris II, que subiu ao trono em 5 de Fevereiro de 1043, um ditirâmbico elogio, que o soberano galardoou com um presente magnífico. Farto, no entanto, da ociosa vida, que levava, decidiu regressar à terra natal, para nela se dedicar às actividades campestres e nela aguardar, serenamente, que a morte o arrebatasse. Certo dia um contemporâneo viu-o passar, em Alcabideche, já velho e surdo, mas ainda com uma foice na mão e abeirou-se dele, para solicitar que lhe recitasse uns versos. Ibne Mucana – depois de o ter feito sentar , para observar os trabalhos da lavoura, que num campo fronteiro estavam a ser executados – pronunciou, de improviso, esta bucólica poesia, na qual metaforicamente aludiu aos moinhos de vento, que funcionavam com as nuvens, sem necessitarem de fontes:

"Ó tu que habitas em Alcabideche, possas tu nunca ter falta de grãos
para semear, nem de cebolas nem de abóboras!
Se és homem de resolução, precisas de um moinho que funcione
com as nuvens, sem necessitar de fontes.
A terra de Alcabideche não produz, quando o ano é bom, mais de
vinte cargas de cereais.
Se dá mais alguma coisa, os javalis
dos despovoados sucedem-se sem interrupção, em grupos compactos.
Ela pouco tem de qualquer bem e de qualquer utilidade, como eu próprio
tenho pouco ouvido, conforme sabes.
Deixei os reis cobertos pelos seus mantos e renunciei
a acompanhá-los nos cortejos e a tirar deles partido.
Eis-me em Alcabideche a ceifar os espinhos comuma foice
ágil e cortante.
Se te disserem: Gostas de toda esta fadiga? – Sim, responderás, o amor
da liberdade é o sinal de um carácter nobre.
O amor e os benefícios de Abú Becre Almodáfer conduziram-me tão bem
que parti para um campo primaveril"

https://cronicas-portuguesas.blogspot.pt/2008/04/ab-mucana-e-os-moinhos-de-vento.html