01-05-2017Origem do Termo Hespanha. Historicidade do termo (II)Por Alexandre Banhos Campo a 1 de maio de 2017 Introdução Se se dizer que Portugal apresentou protesto diplomático em 1833, quando o estado peninsular que não é Portugal se definiu como Espanha, por se atribuir Castela (e suas dependências), um nome que pertencia a todos os peninsulares; a gente vai ficar surpresa. Se se informar que o Supremo Tribunal de Justiça de esse mesmo outro estado peninsular, até a reforma de 1874/76 se chamava Consejo de Castill(h)a, não vai entender muita cousa. Se se apontar que Espanha não teve colónias americanas nunca, que em realidade quem as teve foi o reino de Castela, a surpresa ainda vai ser muito mais grande.
1- O processo como Castela junta e submete outros reinos. 1157- Castela constitui-se como reino com continuidade temporal 1230- Castela emerge como potência peninsular e espaço estratégico central. Nesse ano, o rei de Castela, Fernando I (III), contra a vontade (testamento, que é o documento de legitimação jurídica na altura) do seu pai Afonso VIII (IX), com o que vinha de guerrear por 13 anos; integra na sua coroa o reino de Leão, e o reino da Galiza, na parte que não foi constitutiva de Portugal, e que continuou a usufruir o nome. Fernando I, era nascido do matrimónio do seu pai com a sua prima Berenguela de Castela, filha de Afonso I (VIII).. Todo isso foi possível graças a intervenção de Compostela, -o compostelanismo-, que apoia a invalidação do testamento do rei, (as dioceses submetidas a Compostela, todas as da Galiza e Leão, foram consultadas, e a grande maioria amossaram-se contrárias aos posicionamentos de Compostela). Compostela afirmava que se declararam nulo seu primeiro matrimónio por ser com a prima Teresa, filha do rei de Portugal Sancho, -o mesmo grau de consanguinidade que o matrimónio que abençoam com Berenguela; o único legítimo é Fernando. O papa Gregório IX um ano após do tratado de Concórdia de Benavente, dá o seu conforme. Para o Compostelanismo, o testamento de Afonso VIII, significava uma pronta unificação com Portugal e um submetimento a verdadeira primaz Braga; e eles querem agir na Hespanha toda, e Fernando percebiam-no como um seu agente. No reino de Castela alargado com a Galiza que não constituiu Portugal, a Galiza segue mantendo a sua condição diferente e toda a sua documentação administrativa e literária vai continuar estando na mesma língua que no reino de Portugal, e a individualização do reino mantém-se sob a coroa una. E Hispânia segue a ser o nome da península, nenhum reino o usa de jeito privativo, ainda que o nome de hespanhois é o nome que os catalães recebem na Itália.
Os hespanhóis na Itália e no Mediterrâneo. Para percebermos bem isso, do que é a Hispânia, é muito esclarecedor com o que se passa com a língua catalã, na Itália baixo medieval e renascentista. Neste período temos a expansão marítima que fizeram pelo mediterrâneo o(s) reino(s) de Catalunha/Aragão, e o jeito de como estas pessoas eram conhecidos na Itália, –como hespanhóis-. Na Itália renascentista, língua espanhola, era o nome que se usava para a língua catalã. E espanhóis identificava-se com pessoas de fala catalã, que eram as de trato mais frequente e comum na península italiana. A tradução do romance de Joanot Martorell, Tirant lo Blanc, à língua italiana, coloca a questão do espanhol bem às claras, pois a sua tradução é anunciada desde a língua espanhola, mas a edição castelhana de Valhadolid e 5 anos posterior e tem erros de tradução que são inexistentes na versão italiana. Para os espertos castelhanistas, a cousa não fazia sentido, pois eles identificaram castelhano com espanhol e fazem recuar isso no tempo.. Todas as unificações que vai fazendo Castela tem sempre um mesmo patrão, parte-se duma situação de igualdade e respeito da que pouco a pouco, e normalmente com forte violência e terror, se mudam radicalmente as condições dessa união. A Galiza fora ajuntada no 1230 sem guerras e com reconhecimento de direitos. Nas guerras de assalto ao trono de Castela pelos Trastâmaras (Henrique II -1369 ), a Galiza defensora da legitimidade, sofre uma muito significativa redução das suas capacidades.
Olhemos o contexto dessa união: O rei de Castela, Henrique IV, tem uma herdeira Joana, que tem o apoio dos galegos (nobreza) e da Coroa de Portugal. Setores da corte apoiam à sobrinha do rei, Isabel, a quem casaram com o puto infante de Aragão, Fernando, também Trastâmara como ela, e primo seu, de 17 anos (ela 18). Tentam colocar Isabel a ilegítima no trono de Castela e intervém o rei de Portugal D. Afonso V. Com o seu apoio à Joana, Afonso V dava com isso fim ao objetivo estratégico do reino de Portugal desde a sua origem, o da ré-incorporação de toda a Galiza ao reino de Portugal. Afonso V é proclamado rei da Galiza. Era o terceiro rei de Portugal a ser proclamado rei da Galiza, e após a batalha de Toro de 1476, a reincorporação de essa parte da Galiza, vai deixar de formar parte da agenda do reino português, e dos acordos, vai vir com o tempo, o período de domínio Filipino de Portugal. A batalha de Toro, é uma dessas batalhas decisivas na história. Tem lugar o 3 de março de 1476, nela se enfrenta o rei de Portugal com o apoio de nobres fundamentalmente galegos, às tropas dos apoiantes de Isabel, -lembremos que a II guerra civil “irmandinha”, deixara à Galiza muito enfraquecida-. O resultado da batalha de Toro, ao parecer não foi determinante mas amossou a dificuldade do trunfo, de aí que Afonso V assine o tratado de Alcáçovas.
Portugal retira-se da cena e Castela inicia uma guerra contra da Galiza que vai durar 13 anos, no que se lhe suprimem todas as suas instituições jurídicas e tira-se a validade à sua língua na documentação, a igreja passa a ser submetida a Valhadolid, suprimindo a dependência que até daquela ainda mantinham as ordens de Braga e colocam-se os cargos da instituição em mãos castelhanas; e a nobreça, após decepar as cabeças mais erguidas, desloca-se a corte castelhana, e tudo à Galiza é-lhe negado, incluído o direito a ter representação nas cortes do reino, para humilharem aos galegos, todos os direitos da Galiza nesse terreno, são concedidos à cidade de Samora. O que começara em 1230 com paz e igualdade virou terror e miséria de todo tipo; a Galiza estava domada e capada, e ai começou a imposição bem violenta da língua castelhana, essa que segundo Juan Carlos I não se impus nunca, tudo era liberdade e livre escolha.
Nesse ano vieram os reis católicos à Galiza, na que se ensaia o modelo de governo e submetimento que pronto será deslocado ao continente americano, a Audiencia de Galicia
A conquista das colónias de ultramar, é obra exclusiva que se atribui a sim própria Castela, e são as suas normas jurídicas as que se aplicam. Nenhum rei do período tem a condição ou denominação de espanhol, nem reclama esse nome. É bom exemplo de isso o testamento de Filipe II, que ainda enumerando todos os reinos dos que possui a coroa, e governando toda a península, remata assinando como rei de Castela.
Castela acaba entregando parte da Catalunha à França, o Rossilhão, às costas das cortes catalãs (tratado dos Pirenéus) para evitarem a luta em duas frontes. É digno de menção o facto de que as tropas que defendiam a fortaleza de Salses e a fronteira norte catalã eram portuguesas, e lá vão ficar abandonadas. Castela mobiliza forças principalmente galegas para a luta contra Portugal e vão ser muitos os galegos que se vão unir aos portugueses. Em Castela preocupava e não pouco a simpatia galega para a luta de Portugal, e em Portugal também preocupava essa simpatia que desdesenhava os limites do reino, como muito bem tem apontado Ernesto Vasquez Souza. A Luta dos catalães é algo que Portugal tem de agradecer sempre pela importância que teve para o seu sucesso. Numa próxima independência da Catalunha seria bem justo o apoio português.
Para os reinos de Tanto Monta, Monta tanto Isabel como Fernando (declaração de plena igualdade e de que tanto vale o de um como o de outro), todo virou após guerra e terror, em imposição e negação de qualquer direito. Origem do Termo Hespanha. Historicidade do termo (II)
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