Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


10-06-2005

Brava herança lusitana Portugal Digital


10 de Junho é o Dia de Portugal, Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas. Ao longo da história, os portugueses demonstraram uma enorme determinação, capacidade e habilidade para "fazer mais com menos"...

Marcelo Henriques de Brito *

Hoje é o Dia de Portugal, Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas, ocasião propícia para refletir sobre o legado português. Ao longo da história, os portugueses demonstraram uma enorme determinação, capacidade e habilidade para "fazer mais com menos" ao administrar desde grandes e longínquos territórios (como colônias ) até negócios pequenos e próximos de residências (como padarias).

Vários portugueses comerciantes apresentaram uma louvável disposição para iniciar e desenvolver negócios com êxito. Para tal, enfrentavam longas jornadas de trabalho, sem esmorecer e com muita organização. Este estilo de gestão era também adotado por suas esposas que, com arte, planejamento e dedicação amorosa, preparavam receitas deliciosas, costuravam roupas bonitas e educavam seus descendentes para serem pessoas " d "honra e vergonha" bem-sucedidas .

Luís de Camões cantou o perfil desse povo que tivera coragem para vencer o medo do desconhecido e desenvolvera navios e técnicas de navegação na Escola de Sagres, constituindo um brilhante exemplo de gestão da inovação com objetivo empresarial. Enquanto realizava comércio lucrativo, buscava novos mercados e ampliava fontes de matérias-primas, a reduzida população defendia a integridade da pequena terra na Europa e valorizava a vida bucólica, o que também fez Eça de Queiroz em "A Cidade e as Serras".

Ao conciliarem a centralização com a descentralização (quando se decide com agilidade e escassez de recursos), os portugueses conseguiram, durante séculos, gerir grandes áreas no mundo, miscigenando-se em geral com a população local na solução de problemas. É exemplar a união de escravos e índios aos portugueses e luso-descendentes para expulsar os holandeses de Pernambuco em 1648 na vitoriosa Batalha dos Guararapes , que lançou as bases do ideal de ser brasileiro.


Habilidade portuguesa

Em 1808, o estadista D.João VI, antecipando-se ao Commonwealth (que até hoje une ao Reino Unido países como Canadá e Austrália), concebeu uma estratégia de preservação da integridade de territórios sob influência portuguesa, a qual impediu o desmembramento do Brasil, na contramão do ocorrido na América Espanhola. Sua vinda ao Brasil transformou o Rio de Janeiro de forma memorável, como registrei no livro "Crise e Prosperidade Comercial, Financeira e Política". O reconhecimento em 1825 da independência do Brasil revelou a habilidade portuguesa para negociar situações difíceis.

Por saber negociar, Portugal mediou entre 1864 e 1865 o restabelecimento das relações entre o Império brasileiro e a Inglaterra, após o Governo brasileiro ter cortado relações em 1863, devido a um infeliz incidente diplomático em 1861 (Caso Christie ). Foi ainda mais importante a ação incisiva de Portugal para fazer os ingleses reconhecerem, em 1896, a soberania brasileira sobre a Ilha da Trindade na costa do Espírito Santo, que os ingleses haviam ocupado em 1895.

Felizmente, o Brasil não tem hoje uma tensão diplomática similar àquela em torno das Ilhas Malvinas. É preciso reconhecer a contribuição generosa do Governo português, lembrando que o Brasil rompera relações diplomáticas com Portugal entre 1894 e 1895, devido ao fato de a Marinha portuguesa ter acolhido protagonistas da Revolta da Armada, embora a Monarquia portuguesa houvesse reconhecido a República brasileira, dias após a primeira eleição republicana em setembro de 1890.

Apesar da neutralidade na Segunda Guerra Mundial, Portugal aceitou em 1942 o encargo de representar o Brasil perante os Países do Eixo, no caso de rompimento de relações diplomáticas. Continuando a tradição de evitar rupturas com conseqüências nefastas, um regime ditatorial e colonialista foi encerrado com profícuas negociações na chamada Revolução dos Cravos de 1974, a qual pode ter influenciado a transi ção política na Espanha e a abertura democrática no Brasil n ! a década de 70.

A inata capacidade brasileira para gerir conflitos teria raízes lusitanas?

Finalizando, saltam aos olhos os laços de amizade, cooperação e consulta viabilizados pela escrita e fala da língua portuguesa. O belo idioma fortalece o entendimento e o afeto entre inúmeras pessoas dispersas pelo mundo. Por compartilhar esse idioma, " taí ", a portuguesa Carmen Miranda fez tudo para o mundo gostar dos brasileiros! E os brasileiros têm motivos para cultivar relacionamentos sólidos com a Comunidade Portuguesa, com a qual devem ser desenvolvidas relações políticas e econômicas de forma a zelar por uma identidade, pois como já exprimiu Fernando Pessoa: "Minha pátria é minha língua".

* Marcelo Henriques de Brito é engenheiro, administrador, e diretor da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). Artigo originalmente publicado na seção Opinião do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, edição de 10 de junho de 2005, página A-17.

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