Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


06-05-2017

CRI DE COEUR - Francisco Seixas da Costa, diplomata português aposentado


Uma vitória de Marine Le Pen "significaria o fim da União Europeia porque a UE, sem a França, não faz sentido. E significaria o colapso do euro e a crise financeira, com consequências através do mundo".

Quem disse isto não foi uma pessoa qualquer, foi Gérard Araud, embaixador francês em Washington. Acabo de ler na Newsletter diária do Washington Post.

Pode um embaixador ter propósitos destes, hostilizando abertamente uma candidata que a vontade popular francesa poderá conduzir à chefia do seu país?

Araud, um excelente profissional, que conheço bem (era diretor político do Quai d'Orsay quando eu era embaixador em Paris), tem, com certeza, a plena consciência de que está a ultrapassar a "linha vermelha" da neutralidade que aos servidores públicos incumbe ter perante as escolhas democráticas. As eleições em França decorrem em total liberdade, sem o menor condicionamento, pelo que não há a menor dúvida de que a resultante final do sufrágio, qualquer que ela seja, corresponderá à livre vontade do povo francês. Por isso, Araud prevaricou, de acordo com as regras estabelecidas e que lhe cumpria cumprir.

Mas eu percebo Gérard Araud. Um diplomata não é um eunuco político, é um cidadão que sente os problemas do seu país e, provavelmente, tem mesmo uma leitura mais qualificada do efeito externo das escolhas internas. E ele pressente que, se a França viesse a escolher Le Pen, isso teria um impacto muito negativo para a imagem e prestígio do seu país. E escolhe dizê-lo.

Ao tomar esta atitude, Araud sabe que, em caso de vitória de Le Pen, a sua "cabeça" rolaria e, muito provavelmente, teria de deixar o serviço diplomático. Por isso, pelo facto de um dos mais prestigiados diplomatas franceses ter ousado abandonar a neutralidade a que a função o obriga, dando este "cri de coeur", pondo em risco a sua carreira, pode ter-se uma ideia mais clara da gravidade da escolha que os franceses serão chamados a fazer no domingo.

 

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Comentário de Joaquim Freitas

 

Joaquim de Freitas disse...

Não se pode votar por Marine le Pen por razoes evidentes, que não é necessário desenvolver.

Mas ao votar por Macron, como fiz e vou fazer, tenho bem consciência que este é o representante da oligarquia financeira que quer continuar a comandar sem partilha.

Basta ver quem o assiste e o apoia. Os média, geridos pela oligarquia e os editorialistas olham-no com olhos de amor..

Na realidade Macron está envolvido por tudo o que a política anti popular desde há cinquenta anos soube criar como dirigentes reaccionários, isto é toda a direita, uma parte da esquerda, todo o centro. “Anti fascistas” conhecidos como Gattaz, presidente do Medef ou Laurence Parisot, antiga presidente. O progresso social está em boas mãos ! 

Impressionante, que de Berlim a Nova Iorque, a Telavive, à NATO, a oligarquia mundializada disse presente! Mesmo Obama ! 

Claro que me inquieta o facto que pretenda governar por decretos, as famosas “ordonnances” que se assemelham a “kalachnikovs” prontas a fazer fogo. Neste caso, as eleições legislativas vão ser renhidas…

Evidentemente, entusiasma-se pela UE que é precisamente o sindicato da oligarquia, e apoia a mundialização, as duas mandíbulas a triturar os interesses populares.

Estas eleições provam mais uma vez que a burguesia, permite-nos de escolher um Presidente, mas sem nos permitir de escolher uma politica.

Enfim, havia uma outra oferta, mas capotou …O povo não quer correr riscos com a esquerda radical, e o espanta pardais da Marine empurrou-o para Macron… Assim terá o mesmo, do mesmo…que antes! E talvez mais ainda ....

A não ser que, as legislativas criem outra França. E o Senhor Embaixador tem razão: Segunda feira, a França e talvez a Europa não serão as mesmas.

A democracia em actos. Macron já sabe que no 8 de Maio, a frente de luta vai alargar-se, e que as legislativas não serão para ele um longo rio tranquilo…

Le Pen fora de combate ( se não houver surpresas!), aqueles que votaram útil mas sem convicção, vão procurar defender as ideias contidas no programa “O Futuro em Comum”. E quanto mais deputados houver mais o país resistirá aos “ukases” da finança. 

Na união, os militantes progressistas trabalharão para uma maioria que consiga retirar a França da crise económica e social.

Cri de coeur

 

   
 

Cri de coeur

Uma vitória de Marine Le Pen "significaria o fim da União Europeia porque a UE, sem a França, não faz senti...

 

 

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