03-04-2017Ilha de Moçambique - Património Mundial enfrenta desafio da conservaçãoAgência LUSA02 Fev, 2007, 20:13 | Mundo A Ilha de Moçambique foi declarada Património Mundial da Humanidade em 1991, mas enfrenta crescentes dificuldades na conservação da sua riqueza arquitectónica.Situada na província de Nampula, no norte de Moçambique, o município de 43 mil habitantes gerido pelo principal partido da oposição, RENAMO, acolhe na mesma data um seminário internacional sobre a gestão do seu património, em que participa o secretário de Estado português João Gomes Cravinho. A UNESCO, que há 16 anos atribuiu à ilha o estatuto de Património da Humanidade, tem expresso de forma crescente a sua "grande preocupação" com a "séria degradação" que ameaça os principais edifícios históricos da cidade insular, bem como com a falta de instrumentos de gestão e planeamento. No ano passado, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) exortou mesmo as autoridades moçambicanas a submeterem à instituição um relatório com os progressos realizados na reabilitação de alguns monumentos da ilha, entre os quais a fortaleza de São Sebastião. De acordo com uma nota hoje divulgada em Lisboa pela Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Portugal, a realização do seminário de segunda e terça-feira foi decidida na reunião promovida por Gomes Cravinho na capital portuguesa, em Maio de 2006, na qual estiveram presentes delegações do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), UNESCO, OIT, Cooperação Suíça, UCCLA e um conjunto de entidades públicas e privadas, incluindo as fundações Calouste Gulbenkian e Aga Khan. O mesmo documento acrescenta que serão aprovados no encontro os termos de referência para a elaboração de um plano director de intervenção na Ilha que será financiado pela cooperação portuguesa através do seu "trust fund" no BAD. Por outro lado, Gomes Cravinho reafirmará o compromisso da Cooperação Portuguesa em apoiar, durante um período de seis a nove anos e no âmbito da fatia (cluster) de cooperação para a Ilha de Moçambique, projectos de desenvolvimento local, de combate à pobreza e de recuperação e valorização do património histórico e cultural ali existente, refere a nota. Além do seminário, que tem ainda como tarefa fortalecer a coordenação entre os diversos parceiros internacionais na gestão daquele património, Gomes Cravinho assinará em Maputo o novo Programa Indicativo da Cooperação (PIC) entre Portugal e Moçambique para o triénio 2007-2009, com um envelope financeiro global de, pelo menos, 40 milhões de euros repartidos pelos três anos de vigência. Recentemente, ao abrigo da cooperação com Moçambique, os governos de Portugal e do Japão financiaram em mais de um milhão de euros a reabilitação e conservação da Fortaleza de São Sebastião, um dos monumentos mais importantes da Ilha de Moçambique. Durante o seminário, será igualmente apresentada uma proposta de fundo comum para a gestão do património mundial da Ilha de Moçambique, que inclui a manutenção da Fortaleza de Casa Girassol, naquele local. A coordenadora do evento, Solange Macamo, confirmou à Lusa que, na sequência da aprovação, pelo Conselho de Ministros, do Estatuto Específico e a criação do Gabinete de Conservação de Ilha de Moçambique, o executivo moçambicano está a levar a cabo várias actividades de restauro daquele património, que conta com o apoio de vários parceiros, incluindo Portugal. "Portugal está, juntamente, com outros parceiros a apoiar na manutenção da Ilha de Moçambique", assegurou Solange Macamo, destacando o compromisso assumido, ano passado, entre os governos de Portugal e Moçambique nesse sentido. "No encontro realizado no ano passado, em Portugal, ficou acordado que se criaria uma comissão dedicada à elaboração de um plano de acção priorizando diversas intervenções", disse. Na ilha de Moçambique, em que Vasco da Gama desembarcou em 1498, existe um vasto património arquitectónico edificado, com destaque para a Fortaleza de S. Sebastião, a maior da África Austral, a Torre de S. Gabriel, construída em 1507, ou a Capela de Nossa Senhora do Baluarte, de 1522. A cidade insular que deu o nome ao país, com três quilómetros de comprimento e cerca de 400 metros de largura, tinha como principal comércio o tráfico de escravos. A independência em 1822 do Brasil, principal destino desse comércio, e a passagem da capital para Lourenço Marques, actual Maputo, ditou o declínio final deste entreposto. Espaço de confluência de culturas, a ilha ocupa igualmente um posto de relevo na literatura lusófona, inspirando autores e poetas ao longo dos séculos, como Luís de Camões, Jorge de Sena, Alberto Lacerda e Virgílio de Lemos, entre muitos outros. Ilha Património Mundial enfrenta desafio da conservação
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