Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


22-03-2017

Livros Breves comentários - Francisco G Amorim


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Livros

Breves comentários

 

Comentar um livro que se leu nada tem a ver com a “augusta” crítica literária, somente permitida a “augustos” linguistas ou renomados prosadores.

Mas pode ser que a opinião de leigos facilite a escolha de algum livro ou evite a compra de outros menos apreciados. Vamos nesta.

Há talvez um ano, sempre curioso por história dos mais antigos, desta vez os astecas, comprei um livro, “best-seller mundial”, cerca de 800 páginas, com o título “AZTECA” e subtítulo “La vida, el amor desesperado y el martírio de los tempos de la Conquista – Uma real y desgarradora historia Azteca”. 3ª Edicion

Este pomposo título, 800 páginas de história real, e já na 3ª edição, cheirava a maravilha, comprei.

Não foi necessário ler nem 100 páginas para começar a perceber que o ”bestseller” se devia a uma história de autêntica e nojenta pornografia!

Começa por descrever um pouco da viva no tempo imediatamente pós conquista, com algum interesse, e de repente entra no “best-seller”: o filho de um azteca de classe média, adolescente, aprendeu com o pai a pescar num lago perto deTenochtitlán, hoje a cidade do México, e dali poderia tirar o seu sustento.

Após as primeiras pescarias, para onde ia sozinho, e levando consigo algo para comer ao meio dia, a sua irmã, mais velha um ano, passou a levar-lhe a comida.

E aqui começa a pornografia. A irmã na segunda ou terceira vez que lhe leva o almoço, despe-se toda em frente do irmão, começa a excitá-lo, passando-lhes as mãos nas “partes pudendas”, e convence-o a ter relações sexuais com ela, tão habituada a ver os seus pais a fazerem isso que, queria porque queria, também fazer o mesmo.

Da primeira vez ambos concluíram que tinha sido muito bom! E previram continuar.

Nos dias que se foram sucedendo, sempre ela no comando, ensaiando métodos e posições diferentes, o relato dos encontros foram baixando de nível, até ao insuportável.

Não era o que eu esperava dum livro sobre história dos astecas! Saltei dez páginas para diante, à espera de encontrar a “real história”. Continuava a “pouca vergonha” com detalhes de cabaré de 8ª categoria.

Mais vinte páginas para diante: o mesmo.

Moral da história: não era exatamente o que me interessava e nem gostaria de dar o livro para alguém o ler. Arranquei e guardei a capa e queimei todas as tais oitocentas e tantas páginas. O pouco que já sabia dos astecas não avançou nada. Só a irritação de saber que um livro de linguagem – castelhana – tão reles tinha sido um best-seller!

Mal empregado dinheiro e tempo perdido. Mesmo só para quem “gosta” de temas porcos.

 

 

 

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Há dias recebi de presente um outro livro. Só fala de Angola. Escrito por alguém que nasceu em Otchinjau, lá bem no sul, em 1933, e durante a vida percorreu todo o território, de Cabinda ao Cunene e de Benguela a Teixeira de Sousa, hoje Luau.

Todas as regiões ali são descritas com muito entusiasmo, muita graça e vigor, foram por mim também visitadas, sempre em trabalho, o que me fez “recuar e viajar no tempo” e voltar a percorrer aquela terra de que tantos sofrem de saudade.

Ironia no que respeita aos governos e “importantes” administrativos, a incompreensão para com os valores humanos e a falta de diálogo, tudo escrito com muita leveza, pode não chegar a ser um best-seller, mas para quem gosta, e sobretudo para quem conheceu bem aquela terra é um livro que muito recomendo.

Algumas passagens, como... “Naquele tempo, no Otchinjau, não havia uma igreja, nem padre, que pudesse ensinar as inocentes crianças e olhar pelos vivos e pecadores, ou pelos mortos, já sem pecado, todos em busca do paraíso perdido...”,ou “...o velho Ford, modelo T4, chamado de pontapé, ou de calça arregaçada... pegando à primeira de manivela... enfim, aquilo era uma máquina, caramba! Só queria que a vissem!... levam-nos bem para dentro do “mato”.

Só tem um probleminha: quando se acaba de ler fica-se meio triste. Quer-se mais!

“CHUVA TOMBA CAPIM – (Eteya-ua-soke)”, escrito por António José Figueiredo, “Tosé”, sem indicação de editora, impresso por AGL -Artes Gráficas de Lisboa (351-213421376), em Maio de 2016.

Este senhor, que não tive a sorte de conhecer, é sogro, de um dos filhos do meu amigo de Luanda, José Azevedo Mendes.

Aquela era uma grande terra, mas quando lembramos de quantos amigos ali tínhamos, parece-nos pequena!

Livro para quem quiser viajar por Angola, sentadão em casa a beber um copo.

 

 

 

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Comentar outro livro que há pouco tempo também me mandaram, escrito por um consagrado jornalista e escritor, com inúmeros prémios no seu curriculum, cheira mesmo a atrevimento.

Mas como imagino que muitos dos que vêem este blog não o devem ter lido, não custa muito afrontar o ridículo, e pedir ao autor que me perdoe a ousadia.

“UM JANTAR DE ESCRITORES – seleção de textos e notas epicuristas”, de José Viale Moutinho, (Colares Editora) é uma delícia de se ler. Uma repescagem de escritos gastronómicos dos mais conhecidos autores portugueses de todos os séculos, como Eça, Garrett, Júlio Dinis, Camilo, Wenceslau de Morais, até Fernando Pessoa, e bem mais, além do prazer da escrita, é uma bela oportunidade para quem sofre de fastio, e uma terrível inveja, pelo menos da minha parte, o não poder reunir com bastante assiduidade os amigos para compartilharmos a alegria dum daqueles petiscos tão bem temperados e regados com... Colares tinto!

Como todo o bom gastrónomo, o autor sabe muito bem que a comida, e sobretudo a bebida, quando em boa companhia se aprecia sensivelmente melhor e, além disso, vai situando o leitor com um rápido curriculum dos consagrados escritores.

Passagens como estas: de Camilo “A minha desgraça está nos apetites glutões, delicadíssimos, que se limitam às subtilezas do bacalhau e do caldo verde. Um perfeito sibarita, não lhe parece?”, ou esta outra do Eça... “Nada de ideias! Deixem-me saborear esta bacalhoada, em perfeita inocência de espírito, como no tempo do senhor D. João V, antes da democracia e da crítica!”, além estarem muito bem temperadas no livro, há que confessar, deixam-nos água na boa.

Reparem com cuidado na capa do livro e tentem dar nomes a todos os personagens ali tão bem representados à volta duma farta ceia!

Livro para quem quer boa literatura e... boas patuscadas. Para ler duas vezes... seguidas!

 

 

 

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Outro livro ainda, acabadinho de chegar, e ser lido, é um tipo diferenciado de dicionário, onde o autor “especula” com as palavras, conseguindo com essas “especulações” dar-nos um vivo retrato da sua personalidade, do seu pensamento.

São cerca de 300 verbetes, escolhidos com cuidado, para com eles poder deixar-nos uma mensagem de bom senso, de ética, hoje em dia cada vez mais raro, enquanto nos leva num passeio pelos quase inúmeros “matizes’ que as palavras nos podem proporcionar.

Um livro diferente, fruto do vasto conhecimento de quem já tem mais de quarenta livros publicados.

Obrigado Inácio Rebelo de Andrade pelo interessante, e recreativo trabalho “COMO JOGAR COM AS PALAVRAS (Especulações vocabulares) de A a Z”.

Eu que, por vezes, gosto de ver “formigas na Outra Banda”, só não concordo que o autor tenha limitado as desavenças de Deus com Caim quando matou Abel, porque a seguir deve ter tido infinita misericórdia para com Sete, que Adão gerou tinha cento e trinta anos, e que seria, como seu pai, o patriarca” de todos os humanos! É também consensual, na Bíblia, que Adão, com Eva (?), continuou a ter filhas e filhos e ainda viveu mais oitocentos anos. Se assim foi, quem será o nosso super vovô?

Enfim, “especulações” da Bíblia!

 

 

 

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Para quem tem livros comprados há bem mais de meio século –lidos na ocasião - saboreia uma outra vez as “novidades” com a releitura de muitos desses antigos, com que estou a ocupar a maioria de todo o tempo ocioso de que disponho, como por exemplo com a “MEMÓRIA sobre LOURENÇO MARQUES” – do Visconde de Paiva Manso – de 1870, ou os OPÚSCULOS de Herculano (alguns são bem chatos!), melhor ainda a “CRONICA GERAL DE ESPANHA DE 1344”.

E volto a encontrar passagens sobre as quais há sempre assunto para me ir entretendo a escrever!

Com a minha provecta idade o que mais poderia fazer?

 

f.g.amorim

 

   
 

f.g.amorim

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