Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


18-02-2017

António Aleixo (Vila Real de Santo António, 18Fev1899 - Loulé, 16Nov1949)


Em jeito de homenagem a António Aleixo, notável poeta-filósofo algarvio, de origem muito modesta, que, nos 50 anos de sua vida, espalhou ao vento e a quem o quis ouvir bonitas quadras de sabor popular intensamente carregadas de sabedoria, do seu profundo entendimento da vida, dos homens e do mundo, aqui deixo esta breve nota evocativa. 

 

18 de Fevereiro de 1899: Nasce o poeta popular António Aleixo

António Fernandes Aleixo (Vila Real de Santo António, 18 de Fevereiro de 1899 — Loulé, 16 de Novembro de 1949) foi um poeta popular português. Poeta e autor dramático, exerceu as profissões de cauteleiro, guardador de rebanhos, cantor popular. António Aleixo constitui um caso singular da poesia portuguesa: embora semianalfabeto, compunha de forma espontânea ("a arte é força imanente, / não se ensina, não se aprende, / não se compra, não se vende, / nasce e morre com a gente"), por vezes de improviso, em quadras ou sextilhas, onde exprimia numa forma concisa uma filosofia da vida aprendida pela observação e pela experiência própria ("Se umas quadras são conselhos / que vos dou de boa fé; / outras são finos espelhos / onde o leitor vê quem é."). De temas variados, "o que caracteriza a poesia de António Aleixo é o tom dorido, irónico, um pouco puritano e moralista, com que aprecia os acontecimentos e as ações dos homens" (MAGALHÃES, Joaquim - "Explicação Indispensável" in Este Livro que Vos Deixo, 3.a ed., 1975). Difundida oralmente e coligida em 1969 pelo professor Joaquim Magalhães, a sua obra poética foi acolhida com êxito por um público que viu nas suas quadras um repositório de sabedoria popular e um protesto por um mundo mais justo.

Fontes:
António Aleixo. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.

Fundação António Aleixo

O mundo só pode ser

melhor do que até aqui,

quando consigas fazer

mais p'los outros que por ti!

 

Embora os meus olhos sejam,

os mais pequenos do Mundo

O que importa é que eles vejam

O que os homens são no fundo.

 

Talvez paz no mundo houvesse

Embora tal não pareça,

Se o coração não estivesse

Tão distante da cabeça.

 

Para não fazeres ofensas

e teres dias felizes,

não digas tudo o que pensas,

mas pensa tudo o que dizes.

 

Os que bons conselhos dão

Às vezes fazem-me rir,

- Por ver que eles próprios são

Incapazes de os seguir.

 

Eu não sei porque razão

Certos homens, a meu ver,

Quanto mais pequenos são

Maiores querem parecer.

 

Contigo em contradição

Pode estar um grande amigo

Duvida mais dos que estão

Sempre de acordo contigo

 

Os meus versos o que são?

Devem ser, se os não confundo,

Pedaços do coração

Que deixo cá, neste mundo.

 

Este livro que vos deixo

E que a minha alma ditou,

Vos dirá como o Aleixo

Viveu, sentiu e pensou.

 

18 de Fevereiro de 1899: Nasce o poeta popular António Aleixo

 

   
 

18 de Fevereiro de 1899: Nasce o poeta popular António Aleixo

António Fernandes Aleixo (Vila Real de Santo António, 18 de Fevereiro de 1899 — Loulé, 16 de Novembro de 1949) ...