04-02-2008A luta anti-colonial em S. Tomé e Príncipe Carlos Mota P. de CastroAutor: Carlos Mota INTRODUÇÃO O presente ensaio resulta do cumprimento das exigências do fim do curso de História/Geografia, presidido pelo Instituto Superior Apesar de todos esses inconvenientes, a dedicação da minha parte e da ajuda que me foi presta pelos professores, tornou possível a concretização do presente trabalho. Este ensaio subdivide-se essencialmente em 2 capítulos, sendo o primeiro constituído por 6 subcapitulos, e o segundo por 5 subcapitulos. No primeiro capitulo está desenvolvido assuntos ligados aos antecedentes do nacionalismo santomense, que corresponde a uma fase da luta espontânea do povo santomense contra o jugo colonial português. No capitulo seguinte, são tratados assuntos relacionados com a organização da luta anticolonial em S.Tomé e Espero com este trabalho, ter comprido os objectivos que propôs atingir com este ensaio. I- Antecedentes históricos do nacionalismo santomense . a) A chegada dos portugueses e o desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar. Desde o início da formação da Nação e do Estado portugueses o factor expansão foi determinante no seu desenvolvimento. A partir do séc. XII, período do surgimento da monarquia agrária, a expansão foi feita à custa do aproveitamento das terras do interior de Em 1415 A partir de então, os portugueses passaram a estabelecer um intenso comércio de especiarias e de escravos, criando várias feitorias e companhias de tráfego de escravo ao longo da costa africana. É esta conjuntura de comércio e de expansão, ao longo do Atlântico e da costa ocidental africana, que conduz ao achamento das ilhas de S.Tomé e Apesar de algumas controvérsias entre os investigadores, parece haver aceitação quanto à data da chegada dos portugueses a S.Tomé e Com o resultado das experiências e dos êxitos obtidos noutros territórios encontrados, «também o arquipélago de S.Tomé e Essa pretensão económica leva à doação das ilhas pelos reis portugueses a navegadores portugueses como João de Importa salientar que o desenvolvimento dessa cultura em S.T. Esse interesse pelo desenvolvimento da cultura da cana em S.T. É neste conjunto de condições favoráveis que a cultura de cana-de-açúcar desenvolveu-se em S.T. Apesar do desenvolvimento dessa cultura, vários factores de ordem endógena e exógena contribuíram para o seu fracasso: segundo a historiadora Não obstante o fracasso que se verificou nos finais do século XVI, essa cultura no seu período de florescimento contribuiu grandemente para o desenvolvimento de Importa dizer ainda que a dureza do trabalho praticado nas plantações vai provocar várias fugas e revoltas dos escravos. B) O trabalho e as revoltas dos escravos em S.Tomé e A escravatura e o trabalho escravo já existiam em África antes da chegada dos europeus, mas com características completamente diferentes daquelas que foram adoptadas pelos europeus no séc. XV. O tipo de escravatura encontrada em África estava dentro do território africano, onde o escravo era uma força adicional na agricultura, na medida em que a agricultura constituía a principal actividade económica. O escravo era integrado como membro da família e dispunha de benefícios económicos resultantes do trabalho que realizava e ao fim de pouco tempo ele tinha direito à liberdade[6][6]. Com a chegada dos europeus a África esta prática toma dimensões jamais vistas no continente: segundo o piloto português, o trabalho escravo em S.Tomé era organizado da seguinte forma: « cada habitante compra escravos negros com suas negras ... e os emprega aos casais em cultivar a terra para fazer as plantações e extrair açúcares . E há homens ricos que possuem cento e cinquenta, duzentos e até trezentos entre negros e negras, os quais têm obrigação de trabalhar toda a semana para o seu senhor, excepto ao sábado, que trabalham para si, e nestes dias semeiam milho saburro, ... as raízes de inhame e muitas hortaliças oficinais...». Este autor acrescenta ainda que « o senhor não dá coisa alguma àqueles negros,... eles trabalham toda a semana para ele e o sábado só para si ; nem mesmo faz despesa em dar-lhes vestidos, nem de comer, nem em mandar-lhes construir choupanas , porque eles por si mesmo fazem todas estas coisas...»[7][7] A maior preocupação do proprietário português era de obter o máximo de lucro e o mínimo de custos. Daí a necessidade de comprar escravos casais como forma de permitir o seu acasalamento e consequentemente a sua reprodução, garantindo a mão de obra para as plantações e diminuindo assim os custos na compra de escravos. Importa salientar que o acasalamento não se deu apenas entre negros e negras, mas também entre brancos e negras. É este clima de exploração cruel e desumana que leva a fuga de muitos escravos para a mata, provocando assim várias convulsões sociais. Como já foi frisado, o acasalamento registado entre negras e brancos (colonos) vai dar origem aos mulatos, que vão constituir uma nova classe na sociedade santomense Como consequência dessa revolta foi concedida pelo D. Manuel I (Rei de Em 1530, Yon gato em colaboração com outros compatriotas, dirige uma nova revolta de escravos[10][10]. Devido à sua pouca organização e ao seu carácter localizado, foi rapidamente desmantelada pelo exército colonial, mais bem equipado e organizado. Dá-se em Traído por alguns dos seus companheiros, foi derrotado pelo exército colonial mais organizado e bem equipado militarmente. Após várias torturas, foi assassinado em 4 de janeiro de 1596[12][12]. A revolta dos Santomenses sob a direcção de Amador teve como resultado a queda da produção de cana-de-açúcar, o fim do primeiro período de prosperidade dos colonizadores em S.T. O Este período de estagnação económica prolongou-se até o séc.XIX e terminou com a introdução da cultura de café e do cacau em S.Tomé e C)- Introdução das culturas do café e do cacau e a problemática de mão de obra ; Como já foi dito, o período de estagnação económica, que conheceu S. Tomé e No início do séc. XIX, a influência da metrópole enfraqueceu não só devido à falta de estímulos económicos para a exploração de S.T. Com a revolução industrial e o desenvolvimento do capitalismo na Europa, os interesses dos portugueses para com S.T. A fertilidade do solo, as boas condições climáticas, com um clima essencialmente pluvioso, possibilitaram o desenvolvimento dessas culturas em S.T. Mas é sobretudo com a cultura do cacau que se verifica transformações no ecossistema (ocupando 1/3 do solo santomense ) e na vida social e económica do país . Trazida do Brasil, foi introduzida na segunda década do séc. XIX Com a introdução dessas culturas no séc. XIX, grande parte das terras pertencentes aos “homens livres” vão ser extorquidas por meio de burlas e outras artimanhas, deixando estes últimos com parcelas de terreno insignificantes. Apesar da pressão da opinião pública internacional, sobretudo dos ingleses, Nesta conjuntura, S. Tomé Apesar dessa prosperidade no campo produtivo, a questão da mão de obra não estava resolvida o que vai provocar fricções entre os nativos e as autoridades coloniais (que desejavam contratar os primeiros). D) A Liga dos Interesses Indígenas de S.Tomé e Na segunda década do séc. XIX , É neste contexto, que um grupo de proprietários nativos (João Com a agudização do processo de usurpação de terras desencadeado pelos europeus contra os nativos, a tentativa de contratação dos nativos e outras injustiças sociais, levaram a criação em 1910 da Liga dos Interesses Indígenas de S.Tomé e Era propósito da Liga defender todos os direitos da classe indígena, nomeadamente, a propagação da instrução na classe, a criação de uma comissão permanente que tinha a incumbência de opor-se à venda, arrendamento, ou hipotecas de terrenos sem motivos justificados. Foi criado ainda um tribunal para resolver eventuais contendas que surgissem na associação. Foram criadas também nas várias freguesias de S.Tomé e na ilha irmã do Esta associação indígena encontrou grande adesão por parte dos nativos na medida em que ela surge em defesa dos seus direitos, lutando contra todo o tipo de injustiça social. Devido à heterogeneidade social dos nativos tornou difícil a congregação de todas as forças nacionalistas. O empenho da Liga em defesa dos serviçais foi quase nulo, visto que estes últimos eram encarados como o pilar da hegemonia europeia, o que complicava qualquer iniciativa de teor independentista por parte dos nativos[17][17]. Mas, os maiores choques verificaram-se entre a Liga e as autoridades coloniais, que a encaravam como adversária e concorrente no domínio político. Os ideais defendidos pelas autoridades coloniais eram contestados pela Liga que chegou mesmo a pedir ao governador a revogação de certos decretos vigentes. As primeiras eleições para o conselho superior das colónias, a 14 de Novembro de 1926, foram acompanhadas de provocações levadas a cabo pelos europeus, com o fim de eleger o candidato do governo. Das decidências, resultou ferimentos de alguns europeus e a morte de um indígena. A existência da Liga obstaculizava a manipulação eleitoral pelo regime colonial, pelo que não a viam com bons olhos.[18][18] O governador José Duarte Junqueira Rato, minimizou a violência europeia, argumentando que a Liga tinha-se desviado dos fins para que fora criada, interferindo em resoluções do governo da província, com grande prejuízo da ordem e administração pública. Com este pretexto, resolveu dissolver a Liga dos Interesses Indiginas de S.Tomé e À dissolução da Liga, seguiu-se a deportação de um europeu para Angola e de 43 nativos para o Apesar da sua dissolução, a Liga contribuiu bastante para o despertar da consciência dos nativos, para o seu nacionalismo e a necessidade de lutar por todos os meios para a libertação. E) O esmagamento cultural. A colonização, como se sabe, é um fenómeno que estende a sua dominação total aos sectores políticos, sócio-ecónomico e cultural. É um sistema cuja destruição comporta necessariamente a violência. O domínio português também não se limitou a abandonar os povos coloniais ao subdesenvolvimento económico, como ainda provocou um sistemático esmagamento das formas originais de cultura africana (pretensamente salvas em certas formas de recuperação folclórica ). Assim, os portugueses colocaram em primeiro lugar os seus valores, menosprezando a arte e todas outras manifestações culturais africanas. Muitas regiões africanas onde já se conhecia um acentuado desenvolvimento sócio-económico, político e cultural, foram destruídas pela ocupação colonial portuguesa. A prática do tráfico de escravo desencadeado pelos portugueses, desorganizou completamente a vida sociocultural africana. Como nos afirma Mário de Andrade «desde que um elemento desta estrutura seja quebrada, as manifestações culturais sofrem as consequências.»[20][20] Nesta conjuntura, a cultura europeia falou durante muito tempo pela africana. Em S.Tomé e Só no séc. XVIII é que os europeus passam a reconhecer a cultura africana. Mas, «sem liberdade não pode desabrochar uma verdadeira cultura, quando as estruturas sociais são importadas e impostas pelo colonizador, morre qualquer coisa na alma do povo[22][22]». Consciencializados da necessidade da soberania dos seus países, dos africanos em geral e das colónias lusófonas em particular, vão lutar por todos os meios para a concretização deste sonho (a independência). F) O massacre de 1953 e as suas repercussões no despertar da luta anti-colonial. Como é do nosso conhecimento, a economia de plantação levada a cabo pelos portugueses em S.Tomé e Os forros, devido à sua história como descendentes dos primeiros escravos alforriados, foram os únicos negros da ilha detentores de pequenos terrenos, o que lhes permitia garantir sua subsistência, sem ter que trabalhar para os roceiros. Devido a concorrência desleal feita por Os nativos eram vistos pelos portugueses como preguiçosos, vadios e sem respeito pela lei, pelo facto de terem recusado o trabalho agrícola nas roças.A declaração de um roceiro (da roça Água-Izé) confirma as conotações dadas aos nativos: «a população negra, natural da ilha exceptuado os chamados angolares, que (...) ainda se fazem distinguir por certo préstimo, e pela indústria da pesca, a que se dedicam (...) é quase absolutamente imprestável e até nociva aos serviçais contratados, pela nefasta influencia que sobre elles exerce, quer pela palavra corruptora quer pelos péssimos exemplos»[25][25]. O chocolateiro inglês William Cadbury que veio a S.Tomé avaliar as condições de vida dos serviçais, compartilhou também a ideia dos colonos portugueses: ele dizia- «o indigina de S.Tomé, de cor mulata, é insolente, preguiçoso e sem respeito alguma pela lei»[26][26].(...) Os colonos, empenhados a dificultar a vida dos nativos, tomaram medidas como a introdução do imposto individual com objectivo de persuadi-los a trabalhar nas roças. Em 10 de abril de 1945 tomou posse como governador de S.Tomé e Gorgulho mudou de estratégia concedendo regalias sociais (abono de família, subsídio de renda de casa, assistência médica gratuita, ...) aos funcionários públicos, desenvolvendo ainda um amplo projecto urbanístico, criando assim várias infraestruturas como a escola de arte e oficio (1948), o colégio-liceu (1952), etc. Estas políticas visavam apenas ganhar a confiança dos nativos, para participarem na concretização dos seus projectos. No fim do seu primeiro mandato, os nativos enviaram uma representação a Lisboa com mais de duas mil assinaturas, pedindo a recondução de Gorgulho ao cargo.[28][28] Essa aparente relação de amizade entre os nativos e o governador foram quebradas nas eleições presidenciais de fevereiro de 1949, onde os eleitores da Trindade rejeitaram o candidato de Salazar, o marechal Oscar Carmona. A população da Trindade pretendia assim demonstrar o seu desagrado com relação a certas medidas tomadas pelo governador. Como consequência dessa recusa, foram presos trezentos eleitores, que foram obrigados a servir nas brigadas correccionais; a energia na Trindade foi cortada ,as autoridades coloniais retiraram os subsídios à associação de socorros mútuos. Gorgulho mandou transferir ainda Januário Graça (um professor primário, da Trindade) para a escola do Gorgulho tinha um plano urbanístico ambicioso para S.Tomé. Os trabalhadores eram sujeitos a castigos corporais, trabalhando duramente de dia e de noite, recebendo poucas vezes uma remuneração de miséria. Foi com este tipo de trabalho que se construiu várias obras como Bairro Salazar, residências públicas na avenida marginal, o Mercado Municipal, um dispensário anti-tuberculoso, os Aeroportos de S.Tomé e do No período das grandes construções, a situação da mão-de-obra nas roças piorou, sobretudo quando o recrutamento em Angola foi suspenso em abril de 1950, devido à carência urgente da mão-de-obra local naquela colónia. Neste contexto, as rusgas continuaram com a finalidade de suprir a carência de mão-de-obra tanto nas roças como nas obras, mas sem grandes êxitos. Essas rusgas desencadeadas pelo governo colonial reforçavam ainda mais a determinação dos forros em preservar o seu estatuto de homens livres. No principio de Janeiro de 1953, o director da curadoria dos serviçais e indíginas, José Franco Rodrigues, proferiu numa entrevista concedida ao semanário «A voz de S.Tomé» as seguintes palavras: «distribuir parcelas de terreno para subsistência a todos os negros no arquipélago, sem considerações pelo seu estatuto legal, obrigando-os a todos a trabalhar para os roceiros durante seis a nove meses por ano[30][30]». Como consequência das rusgas, surgiram na cidade, no dia 2 de Fevereiro, vários panfletos anónimos, ameaçando o governador de morte se prosseguisse a tentativa de contratação dos nativos. Em resposta, Gorgulho prometeu 5000$00 a quem pudesse identificar o autor da ameaça, e mandou fixar pelos muros uma nota oficiosa em todo o território com o seguinte teor: «tendo chegado ao conhecimento do governo que indivíduos desafectos à actual situação política, conhecidos como comunistas, propalam boatos tendenciosos no sentido de que os filhos de S.Tomé irão ser obrigados a contratar-se como serviçais para trabalho nas roças, o governo esclarece que nenhum filho da terra deve dar crédito a essas atoardas, antes deve denunciar à polícia tais indivíduos, porquanto o governo, que tem a seu cargo a protecção dos nativos conforme sempre o tem demonstrado, garante-lhes que nunca consentirá autorizar tais contratos»[31][31]. A população da Trindade revoltada com a situação vigente, na noite do dia 2 de fevereiro, rasgou os inúmeros cartazes afixados na vila. Gorgulho, informado da ocorrência deste facto, enviou para a vila da Trindade um grupo de soldados para prender os nativos que fossem apanhados a retirar as notas oficiosas. No decorrer desta acção foi morto um nativo de nome Receoso da rebelião dos nativos, e da sua provável generalização, Gorgulho seduziu os colonos dizendo-os de que havia uma conspiração comunista na Trindade visando instalar Salustino Graça como Em virtude dos acontecimentos da vila da Trindade, dirigiram-se para lá vários grupos de milícias com a finalidade de prender os nativos que antes haviam refugiado na mata. Na tentativa de prender os forros na região de Ubua-Flor, foi morto a machim o alferes Jorge Luiz Amaral Marques Lopes, assim como o soldado angolano de nome Sauima. Essas acções foram lideradas pelo nativo de nome Zé Cangolo[33][33]. Esta baixa por parte dos colonos foi mais um pretexto utilizado por Gorgulho para massacrar ainda mais os nativos. A partir de então, a população, principalmente da vila da Trindade ficou sujeita a torturas, trabalho forçado e morte. Foram deportados vários nativos, outros presos, asfixiados na sela e queimados. Várias casas dos forros foram incendiadas nas localidades de Canga e Folha-Fede. Muitos nativos foram entregues ao trabalho forçado e maus tratos Foi anunciado neste dia o fim da revolta enquanto as barbaridades continuaram. No dia 22 do mesmo mês, o governo colonial realizou em S.Tomé, uma manifestação no estádio Sarmento Rodrigues onde Gorgulho no seu discurso elogiou o desempenho dos seus patrícios, promovendo muitos deles. Em consequência da mensagem do padre Concluindo, podemos afirmar que a violência das armas levada a cabo pelos colonos contra os nativos, no sentido de os obrigar a aceitar o trabalho nas roças, não resultou. Esta firme determinação foi demonstrada no massacre de 1953, preferindo os nativos morrer a aceitar o trabalho forçado nas roças. Apesar das repressões e manobras divisionistas, os colonialistas portugueses jamais puderam sufocar o espírito de revolta e o desejo de liberdade manifestados pelo povo de S.Tomé e Alguns autores referem a este facto como guerra de Batepá como se em S.Tomé houvesse uma luta armada. Foi na verdade um acto bárbaro e cobarde dos colonialistas portugueses contra os nativos indefesos. Neste contexto, o massacre de Fevereiro de 1953 marca o ponto de partida para a elaboração de uma luta anti-colonial organizada em S.Tomé e II- Organização da luta anti-colonial em S.Tomé e a) A luta anti-colonial a escala mundial. Como já foi frisado, a colonização é um fenómeno que estende o seu domínio aos sectores político, económico e social. Na Ásia e na África, onde os europeus também tinham colónias, só nos princípios do séc. XX é que estas colónias vão organizar a luta de libertação colonial. Durante o período colonial, registaram-se lutas esporádicas e localizadas para derrubar o domínio colonial, mas só depois da Segunda Grande Guerra surgiu o momento propício para o êxito. Várias razões estão na origem deste nacionalismo: a guerra enfraqueceu sensivelmente as economias europeias, reduzindo assim o poder de administração da metrópole para com as colónias. Importa salientar, que apesar dessa conjuntura internacional favorável, a concretização deste sonho(a independência) só foi possível graças ao impulso dado pelos movimentos de libertação. Como resultado do próprio processo colonial, surgiram elites intelectuais, políticas e económicas, frequentemente formadas nos valores de liberdade e autonomia europeus e que agora os defendem e tentam aplicar nos seus países. A participação dos povos asiáticos e africanos na Segunda Guerra Mundial, a favor dos ingleses e dos franceses, permitiu aos primeiros tomar contacto com muitas realidades que permitiram organizar a luta para a sua libertação. A luta dos povos asiáticos contra o regime colonial, antecedeu a revolução africana. Desde a Importa dizer ainda, que a luta anti-colonial assumiu duas formas distintas: via pacífica(caso da Índia) e via armada(Vietname). Na luta pacífica a antiga colónia assumia progressivamente os seus direitos da nação independente, através de uma séries de concessões feitas pela metrópole até atingir a independência completa. As relações recíprocas entre a metrópole e a colónia continuavam. A colónia beneficiava da ajuda económica da Metrópole. Quanto à forma violenta, a colónia rompe totalmente com a antiga metrópole, não havendo qualquer tentativa de abolição progressiva do estatuto colonial. Os «ventos de mudança» verificados na Ásia vão influenciar o nacionalismo africano, primeiramente nas colónias anglófonas, francófonas e depois as restantes(África portuguesa)[38][38]. Em 1955 foi realizado na Indonésia a conferência afro-asiática de Bandung presidida por Sucarno, onde foram discutidas e adoptadas medidas para o êxito da luta anti-colonial. Apesar da consagração do direito à autodeterminação dos povos na carta da ONU e das independências ocorridas no Oriente, nos anos 40 e 50 só mais tarde as potências europeias abrem mão dos seus domínios coloniais africanos. Justificavam esta demora, afirmando que os povos africanos são incapazes de se autogovernarem, mas a verdade é que as potências europeias temiam sobretudo que a perda do exclusivo colonial abalasse as suas economias. Também os milhares de colonos receavam que a autodeterminação pusesse fim à sua supremacia sobre os povos indígenas e atingisse as suas propriedades.[39][39] Na África inglesa, os ingleses percebendo que o movimento de descolonização era irreversível, manobraram fazendo pequenas concessões no sentido de preservar a área sob a sua influência, conservando assim a sua presença económica e política nas antigas colónias mesmo depois da independência. Em 1957 Gana conseguiu a independência, como resultado de um movimento conduzido de modo pacífico por Kwame Nkrumah. A Serra Leoa conseguia a independência em 1961, enquanto que a Gâmbia chegou a independência em 1965.[40][40] Os franceses seguiram também o exemplo inglês, embora com alguma diferença. Devido à lentidão que levaram em conceder independência às suas colónias africanas, levou algumas delas a enveredarem pela luta armada com a finalidade de conquistarem a independência (ex: Vietname e Argélia). Enquanto a Inglaterra e a França, preparavam o terreno para a autodeterminação das suas colónias, Em 1961, foi criada na Casa Blanca(Marrocos) a CONC Em 4 de Fevereiro de 1961 inicia em Angola a luta armada liderada por M Importa salientar o papel desempenhado por alguns intelectuais como Alda do Espírito Santo, Amilcar Cabral(fundador do A manifestação do nacionalismo africano nestas colónias levou à independência dos cinco na década de 70, isto é: S.Tomé e Com essas conquistas, estava assim liquidado o poder colonial em África, salvo alguns casos como a Namíbia e o Zimbabwe que só atingiram a independência nos anos 80. b) O Sporting Clube de S.Tomé e Apesar das barbaridades levadas a cabo pelos colonialistas portugueses em S.Tomé e Foi formado em 19 de dezembro de 1927 o Sporting Clube de S.Tomé, que constituía na época um ponto de encontro por excelência dos cidadãos santomenses amantes do desporto, da cultura e dos valores nacionais. Como resultado do trabalho feito pelo Clube Esporting e dos intelectuais santomenses no exterior, possibilitou a formação do C.L.S.T. c) A criação do C.L.S.T. As revoltas desencadeadas pelos nossos antepassados com o intuito de se libertarem do jugo colonial, não atingiram o seu objectivo em pleno, devido ao seu carácter de reacção espontânea, fora de um quadro organizado e sem obedecer a qualquer plano de acção estruturado. Neste contexto, tornava-se necessário a criação de uma organização política estruturada e dinâmica que pudesse levar avante a luta do povo santomense contra o governo colonial português. Nos anos 60 verificou-se uma grande vaga das independências africanas. É nesse clima internacional favorável, que aparece o C.L.S.T. Devido às acções divisionistas criadas pelos colonialistas portugueses, com a finalidade de impedir uma unidade de acção de todos os explorados contra os exploradores, levou o C.L.S.T. O governo colonial reforçou o seu aparelho repressivo, que estava constituído pela Internamente essa tarefa não foi fácil devido à situação insular do país e à natureza fascista do colonialismo português. O pouco conhecimento dos elementos do grupo em matéria de técnica de organização da luta clandestina, da sua fraca preparação e experiência política, inviabilizou ainda mais o trabalho do C.L.S.T. O C.L.S.T. No plano exterior, o C.L.S.T. Entre Fruto dessa dinamização política do C.L.S.T. Embora se tenha conseguido divulgar com êxito no exterior a luta de libertação em S.Tomé e Devido à pequenez geográfica e demográfica do território santomense, vários lideres africanos defenderam que o problema de libertação de S.Tomé e Esta organização política conheceu momentos de crises, que teve o seu começo nos finais de 1962 e prolongou-se até 1972. Neste período verificou-se uma certa estagnação nas actividades do C.L.S.T. Devido às pressões exercidas pelo governo colonial, e que endureciam cada vez mais, as esperanças das massas populares estavam nos dirigentes que residiam no exterior. Os nacionalistas santomenses, conscientes da responsabilidade que sobre eles pesavam, realizaram de Nesta conferência, foi restruturado o C.L.S.T. A ligação com as Ilhas foram restabelecidas, tendo sido informado as conclusões da conferência de Santa Após a Conferência de Santa O reconhecimento do M.L.S.T. A ONU considerava os Movimentos de Libertação como representantes dos países dominados, creditados pela OUA. A campanha de divulgação da situação colonial em S.Tomé e d) A Revolução de Abril de 1974 e a libertação de S.Tomé e A repressão e as barbaridades do regime fascista português não existiam apenas nas colónias, mas também na própria metrópole. O início das guerras coloniais provocou o enfraquecimento de A manutenção dessa guerra vai provocar perda de homens e de capitais para a metrópole, provocando assim o descontentamento das massas populares e dos militares, que viam a sua situação a degradar-se de dia para dia. O MD Esta situação leva os militares a se reunirem em torno do Movimento das Forças Armadas(MFA), que pretendia resolver o problema colonial e introduzir o regime democrático no país, uma vez que o Governo mostrava-se incapaz de introduzir essas mudanças. Após uma primeira tentativa frustrada, a 16 de Março, no dia 25 de Abril de 1974 dá-se o golpe de estado, desencadeado pelos militares, marcando assim o fim do regime fascista em Apesar da Revolução de 25 de Abril, o novo poder instituído continuou a luta colonial. Contudo a resistência africana leva os colonialistas a negociarem com os Movimentos de Libertação como o M A exclusão do MLST O Governo Apesar desta situação, a queda do regime fascista permitiu o MLST Aproveitando-se dessa atmosfera política, o Bureau político do MLST Sob a orientação do MLST As campanhas políticas realizadas por esta associação contribuíram imenso para congregar os santomenses em favor da liquidação do jugo colonial português em S.Tomé e Fruto dos trabalhos realizados pela Associação Cívica, os trabalhadores em geral, e os agrícolas em particular, foram desencadeando acções de reivindicação junto dos patrões, utilizando meios de pressão tais, que os administradores começaram a desertar das roças para a cidade onde aguardavam uma oportunidade para partirem em busca de horizontes mais seguros. Os empregados, técnicos das empresas agrícolas e os quadros da administração colonial também tiveram o mesmo comportamento, pois a atmosfera de agitação permanente, aí reinante, não lhes era de modo algum salutar.[53][53] Os trabalhadores das Obras A juventude estudantil participou também neste movimento reivindicativo, fazendo uma significativa greve, após ter constatado que não tinham sido satisfeitas as suas petições, expressas num «caderno reivindicativo». As mulheres santomenses organizaram também, uma manifestação diante do palácio colonial, no dia 19 de Setembro de 1974, exigindo ao Governo português a abertura imediata de negociações com o MLST Todas essas manifestações e actos concretos de hostilidade e resistência activa mostraram às autoridades portuguesas que todo o povo de S.Tomé e Apesar da pressão e da intensificação da luta feitas pelo MLST A situação económica e social em que se encontrava Nesse contexto, O MLST Só depois das pressões feitas pelo MLST No dia 27 de Dezembro de 1974, o Governo português enviou uma delegação à Libreville com o propósito de contactar os representantes máximos do MLST No mês seguinte, uma delegação do MLST No dia 26 de Novembro de 1974, foi assinado em Argel(Argélia), entre o MLST e) O Acordo de Argel e a Independência de S.Tomé e Como acabamos de ver, o longo caminho percorrido pelo MLST O histórico Acordo de Argel abriu a porta para a concretização do sonho do povo santomense. Fruto das negociações que já tinham sido realizadas entre o MLST Em consequência do Acordo de Argel foi estabelecido em S.Tomé e O estabelecimento do Governo de Transição marcou o início do fim da dominação colonial em S.Tomé e A situação política que se vivia em S.Tomé e Deste modo, chegou a S.Tomé em Março de 1974, o Secretário Geral do MLST Em cumprimento do Acordo de Argel, foram realizadas no dia 7 de Julho de 1975, as eleições a Assembleia Representativa que tinha funções legislativas, de proclamar a independência e aprovar a constituição de S.Tomé e No dia 12 de Julho de 1975, o O Hino Nacional(Independência total) e a divisa da República Democrática de S.Tomé e CONCLUSÃO
O espírito expansionista caracterizou sempre a Nação portuguesa. O desenvolvimento de várias técnicas de navegação(o uso da caravela, da bússola...) permitiu aos portugueses(que tinham uma situação geográfica privilegiada) lançarem-se no descobrimento de novos territórios, conquistando assim Ceuta, em 1415. A partir de então passaram a desenvolver um intenso comércio(de escravos e especiarias) ao longo da costa atlântica africana, levando assim ao achamento das ilhas de S.Tomé e Os portugueses introduzem desde o início da colonização As boas condições climáticas e a abundante mão-de-obra escrava possibilitaram a prosperidade dessa cultura em S.T. Devido a factores endógenos(revolta dos escravos,...) e a factores exógenos(fundamentalmente a concorrência comercial do Brasil e a invasão dos piratas holandeses e franceses) registou-se a queda da cultura da cana e, consequentemente, do seu comércio a partir dos finais do séc.XVI. A partir dessa altura S.Tomé É com essas culturas que S.T. Esta etapa de luta correspondeu a uma fase de resistência espontânea contra o opressor, fora de um quadro organizativo e sem obedecer a qualquer plano de acção estruturado. No plano internacional, muitas colónias europeias da América atingiram as suas independências entre os sécs.XVIII-XIX. No continente africano e asiático onde os europeus também tinham colónias, só nos princípios do séc.XX é que estas colónias vão organizar a luta de libertação nacional. Devido à 1ª e 2ª Gerras Mundiais, a atitude tomada pelas E.U.A. e a U.R.S.S. com relação à autodeterminação dos povos e ao surgimento de vários movimentos nacionalistas contribuiu significativamente para a descolonização do continente asiático e africano. É nesta conjuntura favorável que surge em S.Tomé e A concretização deste sonho não foi fácil, devido à natureza fascista do regime português, que pretendia perpetuar a sua influência em S.T. Este comité que transformou-se no M.L.S.T. As acções realizadas pelo M.L.S.T. Bibliografias
ARRUDA, José Jobson de A., História Moderna e Contemporânea, Editora África, S. DIAS, Jorge, MARTINS, Rui, História 9. Constância Editora, 1ª edição, Lisboa,1994. HENRIQUES, HENRIQUES, KI-ZERBO, Josef, História da África Negra II, MELO, António, CA NASCIMENTO, Augusto, A Liga dos Interesses Indígenas(1910-1926), NEVES, SEIBERT, Gerhard, Revista-História. Ano XVIII(nova série), nº19-Abril de 1996. ZOTOV, Nikolai, MALIKH, Vladislav, A África de Expressão 1ª Assembleia do MLST Esboço Histórico das Ilhas de S.Tomé e
[1][1] - Nikolai Zotov, Vladislav Malikh, A África de Expressão [2][2] - [3][3] - Ibidem, p. 27 [4][4] - Ibidem, p.64 [5][5] - Ibidem, p.119 [6][6] - Joseph Ki-Zerbo, História da África Negra I, [7][7] - Ibidem, p.79 [8][8] - Esboço Histórico das Ilhas de S.Tomé e [9][9] - Ibidem, p.11 [10][10]- Ibidem, p.11 [11][11]-1ª Assembleia do MLST [12][12] - [13][13]- Nikolai Zotov, Vladislav Malikh, op. cit., p.41 [14][14] - Nikolai Zotov, Vladislav Malik, op. Cit., p.43 [15][15] - Ibidem, pág.44 [16][16]- Ibidem, p.45 [17][17] - Augusto Nascimento, A Liga dos Interesses Indígena(1910-1926), [18][18] - Ibidem, p.428 [19][19] - Ibidem, p.429 [20][20] - António Melo e outros, Colonialismo e Luta de Libertação, Edições Afrontamento, Ý Ritual magico, destinado a cura e praticado em S.Tomé e Ý [21][21] - Ibidem, p.58 [22][22] - Ibidem, p.56 [23][23] - Gerhard Seibert, Revista- História, ano XVIII(nova série), nº19- Abril de 1996, p.14 [24][24] - Ibidem, p.15 [25][25] - Ibidem, p.16 [26][26] - Ibidem, p.16 [27][27]- Ibidem, p.16 [28][28] - Ibidem, p.16 [29][29] - Ibidem, p.17 [30][30]- Ibidem, p.18 [31][31] - Ibidem. pág.18 [32][32] - Ibidem, p.19 [33][33] - Ibidem, p.19 [34][34]- Ibidem, p.22 [35][35] - [36][36] - Joseph Ki-Zerbo, História da África Negra II, [37][37] - José Jobson de A. Arruda, História Moderna e Contemporânea, Editora África, S. [38][38] - Joseph Ki-Zerbo, op. cit., p.163 [39][39] - Jorge Dias, Rui Martins, História9, Constância Editora, Lisboa-1994, p.129 [40][40] - José Jobson de A. Arruda, op. cit., p.380 [41][41] - Nikolai Zotov, Vladislav Malikh, op. cit., p.80 [42][42] - Jorge Dias, Rui Martinho, op. cit., p.139 [43][43] - 1ª Assembleia do M.L.S.T. [44][44] - Ibidem. p.15 [45][45] - Ibidem. p.16 [46][46] - Ibidem. p.16 [47][47] - Ibidem. p.18 [48][48] - Ibidem. p.19 [49][49] - Nikolai Zotov, Vladislav Malikh, op. cit., p.140 [50][50] - 1ª Assembleia do MLST [51][51] - Ibidem, p.22 [52][52] - Ibidem, p.21 [53][53] - Ibidem, p.21 [54][54] - Ibidem, p.24 [55][55] - [56][56] - Ibidem, p.249 [57][57] - Ibidem, p.249 |