15-12-2004Jesus é galileuAntonio Sebastião de Lima O autor de "O Código Da Vinci" e os professores que o contestaram referem-se a Jesus como judeu. Na verdade, Jesus e o seu grupo eram galileus, oriundos da Galiléia e não da Judéia. Somente Mateus e Lucas falam do nascimento acidental de Jesus em Belém, cidade natal do rei Davi, na Judéia. Justificam esse deslocamento da Galiléia para a Judéia com a exigência de um censo determinado pela autoridade romana, do qual não há qualquer registro na história. Houve um esforço dos evangelistas para colocar Jesus na realeza, porque o Antigo Testamento diz que o Messias descenderia de Davi. Acontece que não havia laço sangüíneo entre o " pai" José e o " filho" Jesus. Portanto, ainda que José descendesse de Davi, Jesus não descenderia. Ademais, toda genealogia que começa em Adão é falsa, pois, Adão e Eva nunca existiram. A genealogia de Jesus começa em Adão (Lu. 3,38). Logo, é falsa. A versão de Mateus é a mais fantasiosa. Ao tempo do nascimento de Jesus, a Palestina estava dividida em 4 províncias, cada qual governada por um tetrarca subordinado ao imperador romano. Um tretarca não podia invadir a jurisdição do outro. Ao tetrarca da Galiléia (Herodes Magno) faltavam poderes para mandar matar crianças na Judéia ou nas outras tetrarquias. A jurisdição era levada a sério pelos romanos. Tanto assim que, ao verificar que Jesus era galileu, o general romano (Pilatos) declinou da competência e o enviou ao juiz natural: o tetrarca da Galiléia (Herodes Antipas). Lucas, menos fantasioso, não menciona matança e fuga para o Egito. Havia mulheres "livradas de espíritos malignos e curadas de enfermidades" ( livres da sensualidade?) que acompanhavam Jesus e lhe prestavam assistência: Maria Madalena, Joana, Susana e outras (Luc 8, 1-3). Por 3 anos, pelo menos, acompanharam Jesus desde a Galiléia até a crucifixão na Judéia ( Mar 15, 40). Por serem galileus, Jesus e o seu grupo de homens e mulheres eram tratados pelos judeus como gentios, ou seja, estrangeiros. Para compensar o culto pagão à Deusa-Mãe ( bem romanceado por Marion Z. Bradley em "As Brumas de Avalon") a Igreja católica introduziu um vigoroso culto à Maria, como " Mãe de Deus" e " Virgem Maria". Duas impossibilidades: (!) Deus ter genitores; (II) ser virgem a mãe de 7 filhos. Maria pode ter sido deflorada por algum hierarca, em ritual de fertilidade. Ficou grávida e pariu Jesus. Depois, teve mais 6 filhos com José: Tiago, José, Judas, Simão, Ruth e Lia. O mito da concepção virginal foi tomado de empréstimo a outras culturas mais antigas. O culto à Maria reforçou a crença na divindade de Jesus. Serviu para impressionar os crentes e aumentar o rebanho com a inclusão da realeza européia, o que favoreceu o domínio da Igreja nas esferas temporal e espiritual. Conseqüentemente: (I) a mãe de Jesus passou a ser a mãe de Deus; (II) o colégio apostólico passou a ser herdeiro de Deus; (III) o vigário de Cristo passou a ser vigário de Deus. Jesus pertencia ao povo hebreu, a uma das 10 tribos que formavam o Reino de Israel ( Norte da Palestina). Os judeus, também, eram hebreus, porém, das tribos Judá e Benjamin, que formavam o Reino de Judá ( Sul da Palestina). Jerusalém localizava-se em terras da tribo Benjamin. O apóstolo Pedro refere-se aos habitantes de Jerusalém como um povo diferente. "Tornou-se este fato conhecido aos habitantes de Jerusalém, de modo que aquele campo foi chamado, na língua deles, Hacéldama, isto é, Campo de Sangue" (Atos 1, 19). Na língua dos judeus e não dos galileus. Por seu linguajar diferente, Pedro foi acusado de pertencer ao grupo de Jesus. Pedro interroga Jesus sobre a restauração do Reino de Israel e não do Reino de Judá (Atos 1, 6). Ao tempo de Jesus, o Reino de Israel estava extinto há mais de 700 anos e as suas 10 tribos espalhadas pelo mundo. O Reino de Judá estava extinto há cerca de 600 anos, desde a remoção compulsória das suas duas tribos para a Babilônia. O cativeiro babilônico terminou por volta de 538 a.C., quando os judeus, sobreviventes do Reino de Judá, regressaram a Jarusalém. Foram subjugados, sucessivamente, pelos gregos a partir de 323 a.C., pelos assírios a partir de 175 a.C., e pelos romanos a partir de 63 a.C. Jerusalém foi novamente destruída em 70 d.C. Os judeus dispersaram-se pelo mundo. No Século XX, a ONU autorizou a fundação do Estado de Israel em uma delimitada área da Palestina. Isso desgostou os povos da região e desencadeou antagonismos sem perspectiva alguma de paz até a presente data. A infeliz decisão da ONU foi tomada sob o impacto do holocausto ( que não foi só de judeus, convém frisar) e sob pressão da comunidade judáica internacional. Se houvesse previsto as terríveis conseqüências para a paz, a ONU certamente teria encontrado outra solução. Os israelenses violaram o direito internacional e as resoluções da ONU, invadiram território alheio e promoveram um genocídio sob os auspícios do governo dos EUA. Entre os objetivos de Jesus e da sua fraternidade estavam o de acabar com o mito do Messias e o de introduzir um Deus universal no lugar do deus nacional dos judeus. Javé e Satanás são uma só entidade espiritual, aquela mesma que celebrou, com sucesso, um pacto com Abraão e que tentou celebrá-lo, também, com Jesus no deserto, sem êxito. Jesus assumiu o papel de Messias. Cumpriu, passo a passo as profecias do Antigo Testamento, como se fora o roteiro de um filme. A monolatria dos judeus recomendava que a ação redentora começasse por esse povo. Depois, estender-se-ia aos povos politeístas. O plano desconsiderou o que estava escrito: "Tu mesmo sabes o quanto esse povo é inclinado ao mal" (Êxodo 32, 22); "somos um povo cabeça dura" (Êxodo 34, 9). Javé dissera a Saul: "Vai, pois, fere Amalec e vota ao interdito tudo o que lhe pertence, sem nada poupar: matarás homens e mulheres, crianças e meninos de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos" (I Samuel 15, 3). Antonio Sebastião de Lima é juiz de Direito aposentado e professor de direito Tribuna da Imprensa (15/12/04) www.tribuna.inf.br/coluna.asp?coluna=opiniao |