26-04-2016Abril e a doença - Francisco Seixas da CostaUm jornal informático ideológico, criado para que a maioria cessante não tivesse cessado de existir, decidiu agora promover um curso, orientado por um politólogo, sob o título "Ser de direita - normalidade ou doença?"
Devemos ser um dos poucos lugares democráticos do mundo onde o setor conservador da sociedade vive ainda com estas ridículas angústias existenciais, não se dando conta de que, ao colocar em público este tipo de questões, agrava o sentido de gueto e de auto-exclusão em que, de há muito, se deixou cair. Como se já não bastasse a direita da paróquia disfarçar-se, por regra, em "centro-direita", em "liberal" ou em "não ser de esquerda"...
Ser de direita é tanto uma "doença" quanto o é ser de esquerda. São maneiras diferentes de olhar a sociedade e o seu futuro, ambas admissíveis, e concorrentes na captação das ideias e do voto, na democracia que temos.
O que uma certa direita portuguesa nunca percebeu - e já começo a perguntar-me se alguma vez perceberá - é que continuará a viver num beco envergonhado, onde adubará estes complexos, enquanto não tiver a coragem de vir para a rua de cravo vermelho ao peito no 25 de abril, enquanto não fizer luto e a denúncia aberta das patifarias da ditadura e dos malefícios da guerra colonial. Até lá, deixará inevitavelmente os louros da liberdade à esquerda.
Repito o que sempre pensei e disse: o 25 de abril também se fez para dar direito de cidade à direita democrática. Prouvera que ela o saiba aproveitar. Publicado por Francisco Seixas da Costa, diplomata |