Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


31-10-2015

Basta de subalternizar a língua portuguesa! (JN, 31 outubro 2015)


31.10.2015  ALEXANDRE PARAFITA,escritor

Num tempo em que as mutações científicas e tecnológicas e os novos contextos político linguísticos tendem a subalternizar a língua portuguesa, a Universidade de Coimbra chega-se à frente e diz: basta!

Se fosse outra a fazê-lo não faltaria quem visse aí os "coitados" do costume. Mas ainda bem que é a mais emblemática universidade portuguesa, e que não o faz em algum momento de rebate acidental, mas num dos seus atos académicos mais significativos: o encerramento das comemorações dos 725 anos da sua fundação, corporizado num Congresso Internacional da Língua Portuguesa: uma Língua de Futuro, que acontecerá de 2 a 4 de dezembro, com o propósito central de refletir sobre a língua portuguesa numa visão prospetiva, como língua da ciência, como língua do conhecimento.Sabemos bem como as chamadas "sociedades do conhecimento", dominadas pelo apelo à internacionalização como princípio estratégico, são também dominadas por modelos anglo-americanos que se impõem através da língua. Ditam regras e critérios, impõem as suas influências no sistema científico internacional, não escondem sequer alguns traços etnocentristas que se projetam numa clara hegemonia de quem quer, e pode, encarar o Outro como inferior. E tendo a língua como arma. Uma espécie de ditadura da língua. Porém combater hoje esta realidade é "chover no molhado". Seria até absurdo, especialmente no que respeita aos anseios de muitos dos nossos investigadores assegurarem uma legítima projeção internacional, mesmo que o façam procurando, de modo assumido, contornar o desconforto sindromático da sua língua materna. Mas ignorar que é na língua de um país que as especificidades socioculturais resistem, que têm nela o seu baluarte, é mais absurdo ainda. Porque "a língua não é só um veículo, é um sistema de pensamento, é constitutiva de uma cultura", como diz Luís Fernandes. E não é por acaso que os povos defendem, pela língua, o seu direito à identidade, à diferença. Uma preocupação que, afinal, a Universidade de Coimbra quer deixar bem expressa, ao encerrar com chave de ouro a comemoração dos seus 725 anos. Aplaudo, pois, esta visão esperançosa de uma universidade, que assume, sem complexos, a língua portuguesa como "uma das suas prioridades estratégicas".

http://www.jn.pt/opiniao/default.aspx?content_id=4864052