Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


16-08-2015

CERRADO É GENTE CABOCLA C. Bezerra


Cerrado é gente boa e caramelada. É tudo gente brasileira. É branco casou com preto. É índio casou também. Aí ficou bonito,  feito esse jeito da gente.

cerrado

Gente boa e caramelada

 

CERRADO É GENTE CABOCLA


O caboclo da vila, Menino era muito gente, mas nem sabia escrever. Na escola só podia quem aprendia crescer. Ele só sabia contar história de sonho, essas coisas. Aí Feudal chegou, e levou gente pra vender. Menino não era caro, não sabia trabalhar, e Vila comprou Menino, e ele aprendeu a cantar.

De tanto contar as coisas, ele agora canta no cerrado. Canta as cores do mato e coisa de não acabar. Fala de água, de planta e de córrego Geraldo, contra Usina e Pêvú. E com seu canto, Menino faz coisas de muito valor. Quem ouve ele conta a história. Quem gosta ele canta cerrado.

Samarôto, o louro azul, tenta enganar Menino, mas ele diz que vila é lugar de morar. Não quer mais nada, só quer saber de cantar. Samarôto que fique longe, com seu free-world de araque. Que gente que quer ser gente, não fica na casa dos outros, fazendo o que ele faz. Menino não quer crescer. Quer ficar sempre assim. Que o mato lhe deu seu cheiro e o córrego lhe deu seu banho. Passarinhos lhe deram música e terra lhe deu força. Arte nasceu da pele e fez de tudo bastança.

É que gente não é de ferro, muito menos o cerrado, mas uma máquina, que tem carne de ferro, tá fazendo o cerrado chorar. Lá tem canto, tem cor, tem água, mas também tem bicho sapecado, fugindo do fogaréu, e só teria outro jeito, se fosse de ferro também… Agora, se ferro come verde, se acabar o verde, a máquina de carne de ferro vai comer carne de gente.

cerrado

O tronco é história de bicho e de árvore queimada


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