Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


10-08-2015

O novo regime alimentar do Sr. José da Silva


Naquele dia o Sr. José da Silva acordou com uma ideia brilhante. Com o assalto de nossos dignos representantes políticos, ele, pedreiro, não aguentava mais viver com apenas um salário e meio. Ele, esposa e três filhos estavam sem saber o que fazer. Leu alguma coisa sobre inflação e nada entendeu. Lava Jato, Petrobras, inflação e outras coisas. Só concluiu que não dava mais para viver ou pobre vive mesmo é de brisa?

Reuniu sua esposa, seus três filhos (de 12, 14, e 15 anos) e passou a expor sua nova e brilhante ideia. 

“Olhe, gente, vocês sabem de nosso aperto de vida. Pensei muito no assunto de como resolver essa situação de arrocho em que vivemos. Parece coisa de louco, mas não é. Andei fazendo uns cálculos e acho que encontrei uma saída. Não se assustem, mas a solução é o café, sim, o famoso e salvador cafezinho. Amanhã vamos iniciar o regime do café. Vou explicar. Vi na televisão que o café é também um alimento. É originário da Arábia e introduzido no Brasil por um tal de Palheta para salvar nossa querida pátria. Se salvou a pátria, vai salvar também nossa vida. Não sou de muita leitura, mas li num almanaque muita coisa sobre os benefícios do café para a saúde. Diz lá que é uma bebida de alto valor nutritivo. Possui uma tal de cafeína que é um estimulante de primeira. Além disso, o cafezinho é adoçado com açúcar. Li no mesmo almanaque que o açúcar é fonte de energia, tem um negócio chamado hidrato que produz milagres. Não sei o que é isso, mas lá fala que é estimulante. Assim sendo, prestem atenção, vamos passar um mês só tomando café. O cafezinho lá do Bar do Messias é barato, só um real a “xicrinha”. Vamos tomar lá para economizar o gás, que subiu de preço. Vai ser assim: uma “xicrinha” de café para cada um, cinco vezes ao dia acompanhada por um pãozinho de um real, uma de manhã, outra ao meio-dia, uma terceira às três horas, outra ao jantar e a última na hora de dormir. Nos primeiros dias, vai ser difícil até acostumar. Com o tempo a gente nem nota mais a mudança. Entenderam?”.

E assim fizeram. No fim do mês o Sr. José da Silva procurou o Messias para pagar a conta. A resposta foi uma bomba: “O Sr. deve 1.500 reais”. Não podia ser. Beberam um salário só de café. Fez as contas outra vez. Era aquilo mesmo. O Sr. Zé da Silva foi até o banco da Praça, cobriu o rosto com as mãos. Idiota. Pensou na besteira que fizera. Pensou na vida. Pensou na Presidente. Pensou nos deputados e, quase chorando, mandou todos... sei lá pra onde.

 

http://www.jmonline.com.br/novo/?noticias,22,ARTICULISTAS,113416

"opinião"

 

 

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