Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


01-02-2006

Os judeus e a diáspora madeirense Eduarda Fagundes Nunes


Eduarda Fagundes Nunes


Cana de açúcar, Madeira

 No século XV e inicio do XVI a comunidade sefardita tinha papel de destaque na economia e finanças do Estado Português. Judeu era sinônimo de negociante.

Com a perspectiva de altos ganhos na incipiente atividade açucareira da Ilha da Madeira, logo essa parte do Atlântico tornou-se ponto de atração para esse grupo financista.  Naquela época, os genoveses, os venezianos, e mais tarde os flamengos e os franceses, para lá se deslocaram atrás desse rentável comercio.
Nos meados do século XVI, a Madeira apresentou uma grave  crise na produção de açúcar. E o Brasil, principalmente São Vicente e Pernambuco, já se apresentava com uma alta e promissora produtividade, desviando para lá muitos dessa comunidade. Assim quando a Inquisição se instalou definitivamente em Portugal (1536), já era difícil identificá-los, pois muitos se transferiram para outras Ilhas Atlânticas mais distantes, para o Brasil ou para os países do norte da Europa (Holanda).  Os que ficaram foram obrigados a converterem-se para escapar ao Santo Ofício.
 Na década de 60 dos mil e quinhentos, a xenofobia tornara-se uma arma na concorrência da sociedade mercantil, anteriormente dominada pela comunidade sefardita. Os madeirenses (cristãos velhos) passaram a atacar os comerciantes judeus, flamengos e genoveses que monopolizavam o comercio de açúcar, a ponto de pedir a D. Fernando a proibição da atividade deles na Madeira.

Nomes como Isaac Abeacar, Moisés Benagaçam, David de Negro, Guedelha Palaçan, fizeram associações com grupos italianos (B. Marchione, Sisto Lomelline, Dinis Sernige, Lucas César), e chegaram a dominar 80% das operações comerciais açucareiras da Ilha nesses  séculos, seja pelo processo de trocas entre as ilhas ou pelas transações a longa distância.

Com as periódicas visitas dos representantes da Inquisição na Ilha em 1575(Marcos Teixeira), em 1591 e 93(Jerônimo Teixeira Cabral) e em 1618 e 19(Francisco Cardoso Tornéo), mesmo havendo conivência dos administradores madeirenses com a presença judaica, vieram punições e perseguições. Com isso muitos judeus se refugiaram nas Ilhas Canárias, Cabo Verde, São Tomé, e Brasil.

No final do século XVI noventa e quatro cristãos novos foram arrolados em processos inquisitórios. Em 1618 esse número não passava de cinco!
 Assim se configurou a diáspora sefardita madeirense, onde o comercio do açúcar e a Inquisição foram os elementos detonantes desse processo.

Fonte Bibliográfica
Os Madeirenses na Colonização do Brasil
(Maria Licínia Fernandes dos Santos) CEHA 1999
    

Ilha da Madeira